21 de fevereiro de 2016

6º EPISÓDIO - O CABO JEREMIAS ERA UM POETA

Na esquadra, nas horas mortas ouviam muito frequentemente um assobio. O cabo Jeremias imitava o rouxinol e a toutinegra. Tentara durante longas horas o canário mas não tinha pé para tamanho chinelo.
A vizinha Rosalina uma rapariga que olhava muito para as fardas e sonhava de alto, ficava embevecida ao ouvir o cabo Jeremias a assobiar imitando o rouxinol.
Tanto assim que ela quando o via dizia para si baixinho “Ai rouxinol, rouxinol, de bico doirado, se te apanho um dia, chamo-te um rebuçado!”
É claro que o cabo Jeremias não se apercebia dos corações que despedaçava.
Porém, conforme um dia afirmou o guarda-nocturno da área, que todos os dias tinha que ir à esquadra assinar o ponto: “O cabo Jeremias, para além do mais, é um erudito poeta espontâneo, tipo António Aleixo, mas para melhor. Um dia sem ninguém estar à espera saiu-se com uma que nunca mais me esqueceu a profundidade, ora ouçam:

São as fezes que nos salvam
Nos momentos de aflição
Por isso acredito em Deus
Dia sim e dia não!

O Aleixo não faria melhor. E o Pessoa nem à cartucheira lhe chegava. E o que ele gostava da Florbela Espanca.
Não sei se conhecem esta poetisa.
Penso que ele gostava mais pelo nome. O nome Espanca dizia-lhe qualquer coisa.
O que seria? Mistério.

A. Raposo

2 comentários:

  1. Este Cabo Jeremias é imperdível... Faz lembrar outras sagas inesquecíveis e irrepetíveis
    Um abraço grato

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  2. Este Cabo Jeremias é imperdível... Faz lembrar outras sagas inesquecíveis e irrepetíveis
    Um abraço grato

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