31 de julho de 2013

LIVROS - NOVIDADES

LANÇAMENTO DIA 2





O Que Morre no Verão
Tom Wright — Bertrand Editora
2 de Agosto 2013
 
Sinopse
Desde a primeira frase do livro, Tom Wright envolve-nos numa história de inocência perdida.
L. A. , a prima de Jim, muda-se para a casa onde ele vive com a avó. Quando os dois descobrem o cadáver de uma rapariga, brutalmente violada e assassinada no campo, dá-se início a uma investigação que porá em perigo a vida de ambos

 
Crítica
“Um estudo sobre a perda e a inocência, muito envolvente e escrito com grande beleza, coberto por um terror arrepiante. Um livro assombroso, uma estreia cativante; adorei.”  S. J. Watson, autor de Before I Go to Sleep (editado em Portugal pela Livraria Civilização Editora com o título Antes de Adormecer)

“Um thriller arrepiante e inesquecível que o vai agarrar até à última página. GQ

“Magnífico.” Nick Cave

“Impressionante.” P. Weekly

“Elegante e perturbador.” The Times

“Anuncia a chegada de um grande escritor.»
Daily Mail
 

25 de julho de 2013

LIVROS - NOVIDADES

THRILLER HISTÓRICO


O Livro do Anjo
Alfredo Colitto Editora Clube do Autor
Junho 2013
 
Sinopse
Veneza, 1313. Três crianças são encontradas mortas à porta da Basílica de São Marcos. Os judeus são imediatamente suspeitos: diz-se que bebem o sangue das crianças cristãs para se pacificarem pelo facto de terem morto o Messias.
Na cela onde foi encarcerado e onde acaba por morrer acusado do homicídio das crianças, o judeu Eleazar deixa escrita uma misteriosa frase em latim que pode ajudar a explicar a macabra descoberta. Porque a terá escrito com o seu próprio sangue? Qual o seu significado? Mondino de Liuzzi, médico anatomista, desafiando o poder de Veneza e arriscando a própria vida, terá de descobrir o enigma de uma antiga linhagem de guardiães que remonta aos tempos do dilúvio para poder ilibar o judeu e decifrar o enigma por detrás destas mortes.


LER EXCERTO

19 de julho de 2013

BIBLIOTECA FICÇÃO CIENTÍFICA

BIBLIOTECA ESSENCIAL DE FICÇÃO CIENTÍFICA E FANTASIA (112)

Volume 112 — The Shadow of the Torturer (1980) de Gene Wolfe


Gene Wolfw nasceu em 1931 em Brooklyn, New York, foi educado no Texas onde se formou em Ciências e Engenharia, foi editor da revista Plant Engineering, passando a dedicar-se exclusivamente à Ficção Científica a partir de 1980. 
Relevam na sua obra The Fifth Head of Cerebrus (1972), The Death of Doctor Island (Prémios Nebula e Locus em 1974) e sobretudo a conhecida série The Book of the New Sun, uma tetralogia iniciada com The Shadow of the Torturer (1980), The Claw of the Conciliator (1981) - Prémios Nebula e Locus  e finalista Hugo, The Sword of the Lictor (1982) - Prémios Nebula e British Fantasy  e finalista Hugo, The Citadel of the Autarch (1983) - Prémios  British Fantasy  e Campbell e finalista Hugo, e, por último, The Urth of the Sun (1987) - finalista do prémio Nebula.


The Shadow of the Torturer decorre num mundo futuro tão longínquo que parece ter rodado o círculo, voltando à Idade Média, onde um grupo religioso desenvolve o projecto de renovar o sol. Toda a incerteza num mundo incerto e de escassos recursos planetários que são amplamente desenvolvidos com inteligência, produto de reflexão profunda e repleta de princípios científicos e técnicos ao lado da fantasia mais ousada. 



Ficha Técnica
A Sombra do Torturador
Autor: Gene Wolfe
Tradução: Mª de Lurdes Medeiros
Ano da Edição: 1984
Editora: Publicações Europa América
Colecção: Nebula Nº5
Páginas: 279

18 de julho de 2013

BIBLIOTECA FICÇÃO CIENTÍFICA

BIBLIOTECA ESSENCIAL DE FICÇÃO CIENTÍFICA E FANTASIA (111)
Volume 111 — The Gardens of Delight (1980) de Ian Watson


(é o 2º livro do escritor incluído na Biblioteca, para ver o 1º volume e informações sobre o autor (Clicar Aqui)

Em busca de uma colónia fundada por uma expedição anterior... uma astronave tripulada por três homens e três mulheres fica imobilizada num planeta misterioso, de paisagem luxuriante, frutos e aves gigantes com uma povoação ociosa de nus... um original exacto ou réplica do tríptico de Hieronymos Bosch "O Jardim das Delícias". A pintura foi convertida em paisagem por um Deus e tudo faz parte de um plano. Que Deus e que plano? Enquanto percorrem essa pintura fabulosa os protagonistas encontram três partes distintas, nas quais se incluem o inferno e o paraíso mas, para chegar a este há que atravessar o primeiro.
As investigações são surpreendentes, a novela, algo de apaixonante.





17 de julho de 2013

LIVROS - NOVIDADES


A Sombra da Sereia
Camilla Läckberg — Editora Dom Quixote
Julho 2013
Sinopse
Um homem desaparece misteriosamente em Fjällbacka e, apesar de todos os esforços de Patrik Hedstrom e dos seus colegas da Polícia, ninguém sabe se está vivo ou morto. Meses mais tarde, é encontrado no gelo com sinais de ter sido assassinado. O caso complica-se quando Christian Thydell, um amigo da vítima, começa a receber ameaças anónimas. Christian, cujo primeiro romance, A Sereia, acaba de ser publicado com grande sucesso, não aguenta a pressão e mostra as cartas anónimas a Erica Falk, que o tinha ajudado a rever o manuscrito. Erica entrega-as ao marido. Suspeitava há muito da existência de uma sombra ameaçadora na vida de Christian e está preocupada com o que possa vir a acontecer-lhe. Alguém tem um profundo ódio por ele, alguém aparentemente perturbado e instável que não hesitará em concretizar as suas ameaças. Apesar de estar no final de uma gravidez de gémeos, Erica procura encontrar respostas para as suas inquietações e essas respostas remetem para o passado e para uma história terrível.

LER EXCERTO (Clicar)

16 de julho de 2013

LIVROS - NOVIDADES



Morte em Pemberley
P. D. James Porto Editora
12 de Julho 2013
 
Morte em Pemberley, de P. D. James, junta o thriller à obra de Jane Austen
 
O romance entre Elizabeth e Mr. Darcy ficou imortalizado com o famoso livro de Jane Austen, Orgulho e Preconceito. Em Morte em Pemberley, que a Porto Editora publica a 12 de Julho, a grande senhora do crime P. D. James reúne as personagens desse livro e coloca-as no centro de uma trama policial. É desta forma que a autora combina o thriller, o tradicional policial inglês e uma das grandes histórias da literatura novecentista.
Para além do sucesso quase imediato no Reino Unido, Morte em Pemberley está a ser também um êxito internacional, com direitos de publicação vendidos para 26 países. A BBC adquiriu, ainda, os direitos de adaptação para uma série televisiva, que será transmitida aquando da comemoração do 200.º aniversário de publicação de Orgulho e Preconceito.

  SINOPSE
1803. Elizabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy — o famoso par de Orgulho e Preconceito —, casados há já seis anos e com dois filhos, não podiam estar mais felizes na imponente propriedade rural de Pemberley. Até ao dia em que Lydia, uma das irmãs Bennet, chega à mansão gritando que o marido foi assassinado na floresta.

Em Morte em Pemberley, P. D. James combina as suas duas maiores paixões: a literatura policial e a obra de Jane Austen. O romance é uma clara homenagem à grande autora novecentista, mas faz justiça também às melhores histórias de assassinato, seguindo a tradição dos grandes romances de mistério sobre a aristocracia inglesa. Ou não fosse P. D. James a grande senhora do crime nas terras de Sua Majestade…


CRÍTICA
“P. D. James recria o mundo de Jane Austen com enorme mestria.” Sunday Telegraph“Uma elegante homenagem a Jane Austen e um tributo impressionante à inesgotável vitalidade imaginativa de P. D. James. Sunday Times“Brilhante… um romance que combina a elegância de Jane Austen com o ritmo de um grande thriller… o melhor de P. D. James até agora. Sunday Express“Uma fusão mágica. Evening Standard
“Jane Austen estaria orgulhosa.” Spectator

 
 
 
 
 
 

LIVROS - NOVIDADES



O Jogo do Leão
Nelson DeMille — Editorial Presença
6 de Junho de 2013
 
Sinopse 

O voo transcontinental oriundo de Paris está a chegar a Nova Iorque mas ninguém consegue contactar o piloto via rádio. No voo está Asad Khalil, um dissidente líbio que vai ser recebido pela Brigada Federal Antiterrorista. Mas quando o avião aterra, toda a gente a bordo está morta – à exceção de Khalil, que desaparece depois de atacar a sede da Brigada no aeroporto. O ex-polícia de Nova Iorque John Corey, agora um agente contratado pela Brigada e a sua parceira Kate Mayfield vão seguir um rasto de fumo e de sangue atrás do fugitivo. A presa que perseguem é um inimigo com a astúcia de um homem e a ferocidade de um leão. Para vencer um jogo desesperado e sem regras, terão de forjar uma estratégia que não deixe absolutamente nada ao acaso.

Repleto de um suspense implacável e de reviravoltas surpreendentes a cada passo, O Jogo do Leão é uma corrida vertiginosa contra o tempo e um dos thrillers mais fascinantes de Nelson DeMille.

Crítica
“O seu melhor thriller de sempre.” New York Post
 
 
 

15 de julho de 2013

LIVROS - NOVIDADES


Inferno
Dan Brown — Bertrand Editora
Julho de 2013
 
Sinopse
Procura e encontrarás.
É com o eco destas palavras na cabeça que Robert Langdon, o reputado simbologista de Harvard, acorda numa cama de hospital sem se conseguir lembrar de onde está ou como ali chegou. Também não sabe explicar a origem de certo objeto macabro encontrado escondido entre os seus pertences.
Uma ameaça contra a sua vida irá lançar Langdon e uma jovem médica, Sienna Brooks, numa corrida alucinante pela cidade de Florença. A única coisa que os pode salvar das garras dos desconhecidos que os perseguem é o conhecimento que Langdon tem das passagens ocultas e dos segredos antigos que se escondem por detrás das fachadas históricas.
 Tendo como guia apenas alguns versos do Inferno, a obra-prima de Dante, épica e negra, veem-se obrigados a decifrar uma sequência de códigos encerrados em alguns dos artefactos mais célebres da Renascença  esculturas, quadros, edifícios , de modo a poderem encontrar a solução de um enigma que pode, ou não, ajudá-los a salvar o mundo de uma ameaça terrível…
Passado num cenário extraordinário, inspirado por um dos mais funestos clássicos da literatura, Inferno é o romance mais emocionante e provocador que Dan Brown já escreveu, uma corrida contra o tempo de cortar a respiração, que vai prender o leitor desde a primeira página e não o largará até que feche o livro no final. 
 
Inferno marca o regresso de Robert Langdon, o famoso simbologista de Harvard que protagonizou O Código Da Vinci, Anjos e Demónios e O Símbolo Perdido. Este novo romance é passado em Itália e tem ecos do clássico da literatura A Divina Comédia, de Dante Alighieri, a que vai buscar o título de uma das partes, o Inferno.
Dan Brown confessa que embora tenha estudado o Inferno de Dante, apenas recentemente, enquanto pesquisava em Florença, se deu conta do peso da influência do poeta florentino no mundo moderno: com este novo romance, quero levar os leitores a mergulharem numa viagem neste mundo misterioso… Uma paisagem de códigos, símbolos e muitas passagens secretas
Crítica 
“O Inferno está repleto de truques (…) O senhor Brown acaba não só por nos deixar um trilho de migalhas acerca de Dante (afinal de contas, isto é o Inferno), mas também por brincar com os conceitos de tempo, género, identidade, célebres atrações turísticas e medicina futurista.(...)
A grande ênfase está na prodigiosa pesquisa e na paixão por factoides que enformam as histórias do senhor Brown, a facilidade com que os põe em acção, os truques engenhosos e os grandes clímaces.” The New York Times
 

14 de julho de 2013

RECORDAÇÕES HOLMESIANAS

RECORDAÇÕES HOLMESIANAS (5 - 3ª PARTE)
PASTICHE / PARÓDIA — O SIGNO DO SANGUE
De F. W. Freeman
Este pastiche foi publicado em Portugal na revista “Célula Cinzenta”, da Associação Policiária Portuguesa, Nº42 e Nº43, deve-se à tradução e gentileza do — nunca é demais repeti-loo foi realizada no  — holmesiano Joel Lima, a quem agradecemos e pedimos desculpa pelo atrevimento.
Trata-se de um trabalho histórico, cuja primeira publicação foi realizada no TIT-BITS do editor George Newnes, em 3 de Dezembro de 1892, e é o resultado de um concurso de “pastiches/paródia” de Sherlock Holmes.
M. Constantino
 


 
Certa manhã, às oito horas, encontrava-me eu, com o meu amigo Shylock Oames, nos nossos aposentos, em Quaker Street, à espera do pequeno-almoço.
Oames estava estendido numa cadeira de braços, aparentemente num estado de completo tédio, cedendo ao muito repreensível costume de fumar antes do pequeno-almoço.
Os restos das cachimbadas da véspera, reaproveitadas cuidadosamente, formavam uma mistura apetecível, com que o meu amigo começava sempre o dia, enquanto eu, esperando pelo pequeno-almoço, olhava distraidamente pela janela.
— Vem aí um cliente a descer a rua — disse eu, ao ver um homem corpulento, que se aproximava apressadamente, enquanto perscrutava, com ansiedade, os números das portas.
— Consigo avistá-lo — disse tranquilamente Oames. Virei-me, algo surpreso com a afirmação do meu amigo, mas lembrei-me de que havia um espelho, por cima da lareira, inclinado de forma a permitir a visão da rua.
— Acaba de perder um belo bigode preto — afirmou Oames — e creio que lhe vai pedir-me que lhe arranje outro.
— Que diabo! — exclamei — Como pode afirmar tal coisa?
— Meu caro Wilkins — respondeu Oames. — Receio que você nunca ultrapasse o B-A-BA da arte da dedução lógica. Por acaso não reparou que o nosso cliente colocou a mão sobre o lábio superior, onde deveria estar o seu belo bigode preto? Quando um homem está preocupado, tem o hábito de torcer o bigode.
E era verdade! Olhando, de novo, para o homem, reparei que levava a mão constantemente ao lábio superior, onde não encontrava o bigode, o que parecia aumentar o seu nervosismo.
Precisamente no momento em que foi trazido o pequeno-almoço, soou um toque de campainha. Ouvimos abrir-se a porta, uma ansiosa pergunta, prontamente respondida, e, finalmente, passos rápidos que subiam as escadas.
Pouco depois, a nossa porta foi escancarada impetuosamente e um homem entrou, apertando o chapéu, que, com a pressa, deixou cair no chão. Oames apanhou o chapéu e devolveu-o ao dono.
— Em que posso ser-lhe útil, Mr. Jones? — perguntou.
Ao ouvir o seu nome, o desconhecido deixou-se cair pesadamente numa cadeira e olhou boquiaberto para a face imperturbável de Oames.
— O seu nome está escrito no chapéu — explicou Oames, serenamente.
O homem olhou para o chapéu, como se este último tivesse sido vítima de um truque de magia.
— Em que posso ser-lhe repetiu Oames. Só então o homem pareceu lembrar-se da sua incumbência, cerrando os punhos, e, num grande nervosismo, bateu violentamente com a cabeça na parede, dando mostras de um desespero extremo.
Contudo, a influência magnética de Oames conseguiu, de certo modo, acalmar Jones, que acabou por contar, ofegante, a sua história. As suspeitas de Oames revelaram-se correctas. O homem tinha perdido o bigode.
— Foi-me roubado durante o sono, Sir — exclamou Mr. Jones, furioso. — Enquanto eu dormia, Sir! O que pensa de tal coisa? Repare na maneira como foi cortado! — e apontou para um longo golpe debaixo da narina esquerda. — Se encontrar o vil salafrário que me fez isto, ter-me-á como seu fiel servidor para toda a vida!  — E Mr. Jones girou pela sala, cerrando de novo os punhos. — Por mais que tente, não consigo compreender. E que irão dizer os meus amigos!
— Ao que suponho é funcionário de um Banco — disse Oames, calmamente.
O homem, boquiaberto, olhou, de novo, para Oames, e apenas conseguiu acenar afirmativamente.
— A que horas acordou hoje? — prosseguiu Oames
— Às cinco da manhã.
— Sentiu-se mal disposto?
— Sim, muito. Porquê?
— Esqueça o porquê, limite-se a responder às minhas perguntas. A sua porta estava trancada?
— Sim. A porta exterior estava trancada. A porta interior, simplesmente fechada.
— Vive num prédio de apartamentos?
— Sim, em Bedford Row.
— Existe alguém com quem pretenda casar?
Um ligeiro rubor aflorou à lace de Mr. Jones. Pareceu ficar um pouco envergonhado e aborrecido.
— O que tem isso a ver com o caso? — perguntou, com certa rispidez.
— Se não quer responder às minhas perguntas — retorquiu Oames, impaciente — sugiro que se dirija à polícia.
— Receio ter de fazê-lo — ripostou Mr. Jones.
— Bom dia — concluiu Oames, sem perder a serenidade. — Wilkins, o nosso pequeno-almoço está a arrefecer.
O homem pareceu atordoado. Já nada tinha a dizer e, muito provavelmente, teria partido, se outro toque de campainha, seguido de mais passos apressados nas escadas, não tivesse vindo dar novo rumo aos acontecimentos.
— Uma senhora, desta vez — disse Oames.
E, realmente, a nossa porta foi novamente escancarada, dando passagem a uma jovem, com traços evidentes de lágrimas na face.
— Oh! Mr. Oames! — disse ela. — Que devo fazer? Por favor, ajude-me! Veja o que enviaram esta manhã… Oh!
Foi quando a desconhecida reparou no nosso primeiro visitante. Sobressaltou-se de tal maneira que julguei que ia desmaiar. Reprimindo um pequeno grito, endireitou-se e saudou de firma arrogante:
— Bom dia, Mister Jones,  —  disse, acentuando, com ênfase, a palavra “Mister”. O homem pareceu totalmente subjugado e, desajeitadamente, procurou, no bolso, um lenço para tapar o rosto. A jovem, então, voltou-se para Oames.
— Este cavalheiro — disse ela, em tom glacial — já terá, sem sombra de dúvida, explicado o sucedido. Quando este envelope for aberto, ele compreenderá tudo, por certo, Bom dia e bom dia para si também, Mister Jones. —
E, com uma saudação pomposa, dirigida ao nosso ansioso cliente, a jovem saiu, com ar altivo. Oames abriu o envelope. Dentro, estava um belo bigode preto, colado a um cartão com a seguinte legenda: “É por isto que estavas apaixonada!”. Por baixo, via-se uma cruz a vermelho, que Oames declarou (depois de tê-la examinado ao microscópio) ser de sangue.
— É o “Signo do Sangue”  —  afirmou Games.
Virou-se para Mr. Jones e continuou:
— Aqui está o seu bigode. Tem algum rival, em relação à jovem que saiu agora?
— Sim! Sim! Ah! Agora compreendo! Um sujeito pequeno e insignificante.
Oames segurou na mão de Mr. Jones.
— Descobrirá que esse sujeito insignificante obteve a chave dos seus aposentos e que o cloroformizou, enquanto dormia.
— Ele vive no andar de baixo — assentiu Mr. Jones.
— Claro. Somente lhe quero dar um pequeno conselho, antes que parta: não se apresente àquela jovem, sem que o seu bigode cresça, de novo, pois a sua aparência, sem ele, é, no mínimo, vulgar. Mesmo assim, creio que as suas possibilidades ficaram comprometidas para sempre. E, da próxima vez que esteja em apuros, siga o meu conselho e dirija-se à Scotland Yard Bom dia. Se não se apressar, vai chegar atrasado ao Banco.
O homem foi-se embora, ainda atónito de olhos esbugalhados.
— Como é acertado o comentário daquele filósofo alemão — disse Oames enquanto nos dirigíamos para a mesa. — “Donner und Blitzen!” (*)
(*) Raios e Coriscos (N. doT.)
 

 

13 de julho de 2013

RECORDAÇÕES HOLMESIANAS


RECORDAÇÕES HOLMESIANAS (5 - 2ª PARTE)
PASTICHE / PARÓDIA — A AVENTURA DA MULHER GATO
De Oscar Ferrer
Este magnífico pastiche foi extraído do fanzine “Las Notas del Violin, Nº17 de Janeiro de 1933, com a devida vénia ao autor e à revista — a nossa gratidão.
M. Constantino
 
Foi num dia de Dezembro de 1893, segundo os apontamentos do meu caderno de notas, que o inspector Lestrade nos introduziu, a Holmes e a mim mesmo, na misteriosa aventura da mulher-gato.
— Meu bom amigo Watson, a que devo a honra da sua visita?
— Há algum tempo que não nos víamos, Holmes. Sei, pelos jornais, que anda envolvido no caso do assassino internacional. Pela sua alegria, penso que o resolvei satisfatoriamente.
— Com efeito, Watson. E a minha alegria redobra neste momento, já que, se não estou equivocado, acaba e chegar Lestrade para depositar nas minhas mãos um novo caso. Talvez possa embelezar com a sua prosa, outro dos meus casos.
E ao mesmo tempo que dizia isto, passou-me para as mãos um telegrama que dizia:
“Irei visitá-lo às doze.
Lestrade”
— Foi expedido às nove. Pelo ruido das suas botas, deduzo que agora mesmo vai aparecer à porta.
Efectivamente a porta da sala abriu-se e a Sr.ª Hudson apareceu com Lestrade, pálido e desalinhado.
— Sente-se, meu bom Lestrade — disse Holmes — oferecendo-lhe uma cadeira. — Diga-me que mistério o fez levantar da cama a altas horas da madrugada para ir a Whitechapel para um assunto de assassinato. A sua barba denota a urgência com que o chamaram e pela palidez da cara atrevo-me a considerar que o problema é de origem grave. Assim o diz a sua fisionomia de assombrado.
— Sr. Holmes — disse Lestrade, com um suspiro — mandaram-me chamar cerca das quatro horas da madrugada. A ronda nocturna havia encontrado em Whitechapel o cadáver de John Clay, aquele individuo com o qual tivemos problemas há uns cinco anos.
— Recordo-me, sim, no “Caso da Liga dos Ruivos”. Mas, continue, por favor…
— Bem. Fui rapidamente para Whitechapel porque me disseram que havia testemunhas que haviam visto o assassino e o tinham encurralado. Ao chegar vi o cadáver de Clay. Cortaram-lhe a garganta de orelha a orelha. Deixaram ali mesmo a arma, uma mão artificial com unhas aguçadíssimas e retrácteis como as dos gatos. Diversas testemunhas afirmaram ter visto uma figura humana disfarçada de gato atirando-se sobre Clay. A dita figura fugiu ao ouvir vozes e refugiou-se numa casa perto. Voluntários do bairro rodearam o edifício Quando acorri e entrei na casas só encontrei três mulheres.
— Prosiga, prossiga! — disse Holmes impaciente.
— As mulheres que encontrei correspondem aos nomes seguintes: Amanda Johnson, de 33 anos, prostituta conhecida; Sara Smith, de 39 anos, proprietária de um bar próximo; e Selma Kyle, de 28 anos, professora de uma escola situada na mesma rua.
— O senhor revistou bem a casa? — perguntou Holmes.
— Sim, revistei bem a casa. Tudo estava normal se exeptuarmos uma pequena passagem secreta que comunica a cozinha com o sótão e neste existe um postigo. Daí uma pessoa ágil poderia sair até ao telhado e, uma vez ali, o edifício mais perto é a uns quatro metros de distância…um salto que nenhum ser humano se atreve a fazer.
Holmes ficou em silêncio, absorto em pensamentos durante um momento. Lestrade acalmara-se um pouco. Aproveitei para carregar de tabaco e acender um cachimbo, enquanto o grande detective continuava com a vista fixa num ponto longínquo.
Despertou por fim e disse:
— Lestrade, esta tarde investigarei essas três mulheres. Venha cá por volta das seis horas tomar um chá. Seguramente terei já a solução.
Homes acompanhou Lestrade e a mim próprio até à porta. Combinámos volta àquela hora.
Assuntos urgentes atrasaram-me e cheguei a Baker Street às seis horas e vinte minutos.
— Sente-se Watson — disse Holmes. Observava, entretanto, que tinha o mesmo bom humor da manhã. Lestrade já tinha chegado e estava contricto e ruborizado.
— Estava a explicar a Lestrade como se escapou das suas mãos o assassino de Clay — esclareceu Holmes, enquanto me passava uma chávena de chá.
— Como foi? — inquiri.
— Pode comprovar, visitando o local dos factos, que o assassino entrou, efectivamente, na casa e que saltou do telhado esses metros que parecem impossíveis de saltar para um ser humano. Contudo… não alguém que se creia, efectivamente, um gato!
— Bem, Holmes, — admitiu Lestrade — É teoria sua e não tenho outro remédio semão aceitá-la, ao não dispor de nenhuma outra. Agradeço-lhe. Dito isto, levantou-se e invocando uma investigação urgente, deixou-nos sós.
Holmes levantou-se, abriu um armário-roupeiro de onde tirou um disfarce de gato de corpo inteiro.
— Onde demónio arranjou isso? — perguntei.
— Falei esta tarde com as suspeitas — respondeu. Uma delas sentia um grande afecto pelos gatos. As outras duas odeiam-nos. Precisamente foi essa mulher, que tanto afecto nutre pelos gatos, a mais relacionada com Clay… até ao ponto de ser sua irmã!
— Mas Holmes! Por que não contou isso a Lestrade?
— Watson, essa mulher matou o irmão porque este tinha abusado sexualmente dela, repetidas vezes. Vingou-se matando-o. Tem muito de fria determinação que se disfarçasse de gato. Contudo também indica a seu favor a inteligência da mulher. Apanhei-a com o disfarce nas mãos, tratando de se esconder. Entregou-me a dupla identidade e implorou-me chorando, chorando para não a denunciar, pois o facto nunca mais se voltará a repetir.
— A mulher-gato era Selinda Kyle — afirmei.
— Na verdade, Watson, o seu apelido era Clay, só o matou para não ter problemas. Pessoalmente penso que alguns crimes não merecem castigo, se o assassinado é tão desprezível como este. Calámos a vingança da formosa Selinda Kyle.
Olhei Holmes nos olhos, fixamente. Aquela expressão nunca mais a vi desde o tempo de Irene Adler. Compreendi que devia manter-me em silêncio.
 
Com o tempo, a única recordação daquele caso foi-se… um disfarce de gato que Holmes guarda como uma preciosidade entre outros casos, relembra-o.
 

12 de julho de 2013

RECORDAÇÕES HOLMESIANAS

RECORDAÇÕES HOLMESIANAS (5 - 1ª PARTE)
 
5 — DESPORTO E CULTURA EM SHERLOCK HOLMES (CONCLUSÃO)
 

 
As palavras de Winwood Read:
Embora o homem individual seja um enigma absoluto, o agregado humano representa a certeza matemática. Nunca se pode predizer poe exemplo, o que fará um homem, mas é possível prever as atitudes do grupo humano!
Os indivíduos variam, mas as percentagens parecem constantes. Assim falam as estatísticas.
Salta para a filosofia e a religião. Holmes estava dividido entre a fé e a dúvida; é todavia um crente, considerando o desabafo em “A Caixa Macabra”:
— Qual é o significado de tudo isto Watson? V proferiu Holmes em tom solene… Que propósito anima este ciclo de desgraça, violência e terror? Deve tender para um fim.
De outro modo, o nosso universo seria governado pelo acaso, o que é inadmissível. Mas qual será esse fim?
Eis o imenso, imutável, e eterno problema do qual a mente humana se encontra longe de desvendar.
Mais tarde dirá:
— Os caminhos da fé são verdadeiramente difíceis de compreender; se não existe qualquer recompensa depois da morte, o mundo é uma piada cruel.
E antes de sair Holmes entregou a Watson um livro:
— Permita-me que lhe recomende este livro… um dos mais notáveis já escritos. É “O Martírio dos Homens” de Winwood Reade, publicado em 1872, três anos antes da morte do autor, com 36 anos de idade, atinge a história intelectual do homem desde a antiguidade ao presente.
 

 
Holmes não era forte em Botânica, não se interessava pela jardinagem, porém, conhecia os venenos vegetais em geral. Igualmente não tendo estudado geologia, na prática a partir de simples salpicos de lama ou um pouco de barro podia dizer com toda a facilidade a zona de Londres de onde proviera, como já foi referido. A Química fora um dos estudos preferidos nos Hospitais de São Bartolomeu, onde Stanford levou Watson para conhecer Holmes, que se encontrava debruçado sobre uma mesa repleta de recipientes, retortas, tubos de ensaio, bicos de Busen com chamas trémulas e azuis, do mesmo ficou a mesa da sala em Baker Street, onde passou a habitar; sintoma da sua aplicação à Química eram as suas mãos, permanentemente manchadas de químicos.
Tinha bastantes conhecimentos de Anatomia. Para Stanford era um homem tranquilo e estudioso, sem que se conhecesse o objectivo do seu estudo. Levava muito tempo a esfacelar cadáveres na sala de dissecação:
— Sim, para verificar até onde as escoriações podem ser produzidas depois da morte. Vi com os meus próprios olhos quando ele fazia as suas experiências (in “Um Estudo em Vermelho”). O seu forte seria, provavelmente, a literatura sensacionalista, pois conhecia até ao pormenor toda a espécie de crimes antigos, porquanto quando chegou a Londres, instalou-se na Montague Street, mesmo ao dobrar da esquina do Museu Britânico e aí, na sala de leitura do museu, familiarizou-se com toda a espécie de crimes sensacionais, do “The Newgate Calender”, passando pelas obras de Jonathan Wild (1683-1725) e Griffiths Wainewright (1794 –1847). Ao mostrar um exemplo, comparativamente, levou Stanford a comentar:
— Você parece uma enciclopédia ambulante do crime. Está a fundar um jornal dedicado ao assunto? Chame-lhe “Notícias Policiais do Passado”
 
Para além destes conhecimentos, Holmes continuou com o decorrer do tempo a acumular fichas e extractos de jornais. O próprio Watson observou que “o seu zelo por outros estudos era notável” e dentro dos limites existentes o seu conhecimento era tão extraordinariamente amplo e minucioso que as suas observações me espantavam. Evidentemente nenhum homem trabalhava tanto para adquirir informações tão precisas, se não tivesse em vista um objectivo bem definido.
Com estas palavras Watson absolveu-se das palavras apressadas, naturalmente imprudentes da sua classificação inicial dos conhecimentos de Holmes, tanto mais que não o conhecia “ainda muito bem”.
Continuando, nota-se na cultura de Holmes, o seu apreço e conhecimentos de História Universal, à qual o ligava verdadeira paixão, estudando “as raízes celtas do idioma da Cornualha” sobre o qual escreveu e publicou uma monografia “Um Estudo das Raízes da Caldeia na Antiga Língua Córnica”. Numa outra monografia “Escritas Secretas”, Sherlock Holmes analisa desenvolvidamente os seus óptimos conhecimentos de criptografia (também em grafologia, mas em menos escala).
A demonstração prática inicia-se na sua primeira aventura, “ Tragédia do Gloria Scottli, diante da carta recebida pelo velho pai do seu colega, Victor Trevor com uma nota que diz:
“A provisão de caça para Londres está por terminada. O caçador Hudson, segundo nos contou, já tem tudo preparado, não fuja o faisão para a faisoa salvar, nas moitas, a ninhada com vida”
Fiquei tão confuso como você, quando li pela primeira vez. Depois, reli-a com muito cuidado. Dar-se-ia o caso de haver um significado preestabelecido para tais frases como “fuja o faisão” e “faisoa” ? Tal significado seria arbitrário, e de modo nenhum poderia ser deduzido. Todavia, custava-me acreditar que fosse esse o caso… Experimentei invertê-la, mas a combinação não era encorajante. Tentei então alternar as palavras, mas isso não esclarecia o enigma. De súbito,  descobri a chave do enigma, pois verifiquei que a última palavra de cada grupo de três dava mesmo uma mensagem que podia levar Trevor ao desespero.
 
Numa criptografia mais complicada, que acabou por resolver em “Os Bonecos Bailarinos” diz a Watson:
— Conheço todos os métodos de criptografia, até hoje utilizados, e até sou autor de uma monografia acerca desse tema, em que analiso cento e sessenta códigos diferentes… Mas confesso que este me deixou bastante perplexo.
Os seus conhecimentos eram teóricos e simultaneamente técnicos.
— Existem muitos códigos que eu teria a mesma facilidade de ler que a secção do “Correio Sentimental” nos jornais… Tais recursos toscos entretêm a inteligência sem fatigar .
 
Como convinha à sua actividade profissional, Holmes tinha conhecimentos de direito britânico, frequentando para o efeito aulas de direito comum e criminal. Sabia servir-se das impressões digitais, ainda então em fase incipiente, e das pegadas, publicando até artigos com o título de “Sobre Tatuagens” que incluía um dos primeiros estudos académicos dos primeiros pigmentos usados pelos artistas japoneses e chineses e “Como Registar Pegadas” que incluía observações acerca do uso de gesso como forma de preservar essas mesmas pegadas.
Aproveita-se para citar uma outra monografia, que se tornou famosa, “Acerca da Diferença entre a cinza de vários Tabacos”, onde constam cento e quarenta tipos de charuto e cigarros e tabaco de cachimbo, com ilustrações a cores atestando a diferença das cinzas.
Fruto dos seus estudos e experiencias do seu domínio são ainda duas pequenas monografias “Sobre os Vários Tipos de Orelhas”, “Um Estudo Sobre a Influência da Profissão na Forma das Mãos”.
Quando Watson afirmou que Holmes tinha poucos conhecimentos de política, já o dissemos, parece-nos uma afirmação prematura, gratuita, diríamos. O facto de não se interessar, não quer dizer falta de conhecimentos, aliás, em certas profissões é correcto mostrar-se permanentemente apolítico ou ignorante mesmo. No entanto sabemos que Holmes era um patriota combativo, gostava da rainha Victória e não simpatizava co Eduardo VII, a ponto de, afirmação de Watson, ter recusado uma distinção honorífica.
Tinha qualidades de actor. Segundo W. S. Baring-Gould, Holmes com o pseudónimo de William Escott chegou a merecer o aplauso da crítica e a inveja dos colegas:
“Não poderíamos dizer que Holmes fora imensamente poupado entre os seus colegas actores, nem mesmo por Langdade Pike (um amigo que o encaminhara para o teatro), seria fácil atribuir tal facto ao ciúme dos outros, dada a sua ascensão meteórica”. Seja como for, actor ou não, sabia como ninguém disfarçar-se de marinheiro, padre, capitão de navio, moço de estrebaria, vagabundo, velho, canalizador, vendedor de livros, etc., envergando trajes adequados; mudando de personalidade era capaz de se mostrar indisposto subitamente e enganar o próprio Watson, médico de profissão.
Em “A Casa Vazia” ou como reapareceu a Watson depois de um longo hiato:
Um homem alto e magro, de óculos escuros, que desconfiei que fosse um polícia à paisana, expunha uma teoria de sua autoria aos que se agrupavam para ouvi-lo. Cheguei o mais perto possível, mas as conjecturas pareceram-me absurdas, de modo que me afastei, aborrecido. Ao fazê-lo, esbarrei num homem velho e deformado, que estava atrás de mim, e derrubei alguns livros que transportava.
… Voltei para Kensington…
Cinco minutos após ter entrado no meu escritório, a criada anunciou-me uma visita. Notei, com surpresa, que era o estranho coleccionador de livros, de rosto enrugado sob os cabelos brancos, carregando os preciosos volumes, no mínimo doze, sob o braço direito.
— Está admirado de me ver aqui, senhor? — perguntou ele com um grasna restranho.
Confirmei o meu espanto e ele esclareceu.
— Sou um homem consciente, e, ao vê-lo entrar nesta casa, quando vinha atrás do senhor, achei que devia justificar-me, disse a mim: se me mostrei um tanto brusco, foi involuntariamente e que estou-lhe grato por ter apanhado os meus livros.
— Está a dar muita importância ao incidente — contemporizei. — Posso perguntar como soube quem eu era?
— Pois bem, senhor, se acha que estou a tomar excessiva liberdade, dir-lhe-ei que sou seu vizinho; a minha livrariazinha fica na esquina da Church Street onde terei muito prazer em vê-lo. Talvez o senhor seja também colecionador, e tenho aqui “British Birds”, “Cattalus e “The Holy War”, todos por uma pechincha! Com cinco volumes o senhor poderia preencher aquele espaço, na segunda prateleira. Tem um ar de vazio, não acha?
Virei a cabeça e olhei para a estante atrás de mim. Quando tornei a virar-me, Sherlock Holmes encarava-me sorrindo, do outro lado da escrivaninha. Ergui-me de um salto, olhei-o durante alguns segundos, completamente atónito, e desmaiei pela primeira e última vez na minha vida.
… os outros disfarces daquele indivíduo estavam em cima da mesa, juntamente com a cabeleira branca e a pilha de livros.
 
Como se vê, afinal, a sua cultura era diversificada. A duradoura paixão pela música, sobretudo o violino era realmente extraordinária. Mostra-se grande conhecedor dos grandes instrumentos e em “Um Estudo em Vermelho” divagou sobre violinos de Cremona e a diferença entre Stradivarius e um Amati. Nos primeiros tempos da sua coabitação com Watson era hábito de Holmes recostar-se no divã, fechar os olhos e tocar sem metido o violino. No entanto, “sabia tocar e tocava bem”. A pedido de Watson tocou Lieder de Mendelssohn e em “A Pedra de Mazarino” toca Barcarola de Hoffmann.
O apelo da música, a fazer fé em Watson era uma válvula de escape para as pressões do trabalho, mas “o meu amigo era um músico entusiasta… sendo ele próprio não só um executante muito dotado, mas também compositor de mérito fora do comum”.
Para terminar.
Já no seu retiro em Sussex, uma pequena moradia isolada na vertente sul de Downs, onde se encontrava com a velha governante, entregue ao contacto com a natureza e criação de abelhas.
Nesse período, o bom Watson era-me completamente inacessível. Só uma vez por outra o via, num fugaz fim-de-semana.
Para além da narrativa que havia escrito em Janeiro de 1903 em resposta ao desafio de Watson, foi o seu próprio biógrafo em “A Juba de Leão”:
Se ele (Watson) estivesse ao pé de mim, que bem saberia relatar um acontecimento tão estranho de realçar o meu triunfo final sobre todas as dificuldades!
Holmes tem ainda a oportunidade de escrever “O Manual Prático de Apicultura com algumas Observações acerca da segregação da Rainha” e, fazendo jus à sua arte, em quatro volumes “Toda a Arte de Detecção”, mais, (calculem!) o livro de artigos de que o seu querido amigo e companheiro de muitos anos tanto desdenhou, “O Livro da Vida”, já anteriormente publicado sob anonimato… ficam ainda por registar os serviços prestados à pátria no período da guerra mundial que se seguiu.