7 de junho de 2013

RECORDAÇÕES HOLMESIANAS


RECORDAÇÕES HOLMESIANAS (4 - 3ª PARTE)
PASTICHE / PARÓDIA — DR. JOHN H. WATSON: O TERCEIRO HOMEM MAIS PERIGOSO DE LONDRES
De Eric H. Otten


Ilustração de“O Cliente Ilustre”

Ninguém me excedia em admiração, pelo seu valor tranquilo, a habilidade com o revólver e as suas fascinantes qualidades como amigo leal, a minha inclinação por Watson era extrema. Contudo, actualmente parece-me muito possível que fora o pior médico de Londres… e isso numa época que tinha uma boa meia dúzia de médicos incompetentes. Se caíam nas mãos de Watson como pacientes, as espectativas de sobrevivência eram tão más como se se cruzasse no caminho do Professor Moriarty ou do Coronel Moran.
A primeira coisa que sabemos de Watson é que se alistou no exército. A segunda, é que gostava de se levantar tarde. E por que é que um homem que se gostava de levantar tarde se alista no exército? Seria essa a única saída que lhe restava? Naquela época e lugar, a sociedade aceitava que os filhos menores — e os mais inúteis — se alistassem. Só há que dar uma olhadela aos arquivos do British Medical Corps ou, já que estamos com as mãos na massa, a todo o exército durante a I Guerra Mundial, para comprovar esta triste realidade. Ainda se poderá dizer, sem faltar à verdade, que um médico que não sabe se foi ferido na perna ou no braço, não parece digno de muita confiança. A primeira recomendação médica de Watson encontra-se em “O Signo dos Quatro”. Com toda a seriedade adverte Thaddeus Sholto sobre o perigo que representa ingerir mais do que duas gotas de óleo de castor… e recomendou-lhe estricnina em grandes doses como sedativo. Na verdade seria muito sedativo!
Após o seu primeiro casamento, Watson repete uma e outra vez: — Não há problema, posso deixar a clínica por uns dias. É de supor que nunca teve muita clientela. Repare-se, no momento da morte de Mary Morstan Watson, (sem dúvida o marido deve ter-se esforçado por curá-la), mas ainda que essa circunstancia tivesse lugar no período de desaparecimento de Holmes, supostamente morto, não posso afastar de mim a imagem de Holmes acorrendo a uma chamada da doente para que levasse o marido a investigar, enquanto a Srª Watson o saudava da porta. Pensemos um momento: não é estranho que uma esposa incentive o seu marido a colaborar em encontros perigosos? Não parece muito lógico, a menos que haja um motivo ulterior. Recordemos também que o próprio Watson sempre falava escassamente das suas habilidades médicas. Modéstia? Bem, talvez tenha motivos para ser modesto.
Uma pedra angular da minha teoria é o que fez Holmes depois de se descartar do Coronel Moran: a sua primeira acção — proporcionar uma consulta a um parente distante (como disse Watson literalmente). Sabemos que Holmes era cuidadoso com o dinheiro até ao pnto de poupar o tabaco do cachimbo, sem dúvida não realizava um gasto tão importante se não o considerasse necessário para a segurança da saúde de Inglaterra. Passá-lo de segundo homem ao terceiro mais perigoso de Londres era uma progressão lógica para Holmes (acompanhando o pensamento: Moriarty, Moran, Watson).
Que opinião tinha Holmes, de Watson como médico? São poucas as referências deste tipo que se encontram no canon. Porque há algo que nos vem à mente de imediato, “factos são factos”, Watson foi ao cabo o Sr. Watson, não é mais do que um médico de medicina geral com uma experiência muito limitada e umas qualificações médicas. Isto disse ele ao seu velho amigo, melhor amigo. Não deve haver dúvida de que o bom doutor se limita a eliminar do canon todas as referências óbvias às suas limitações médicas, porém não pode alterar as\suas implicações nos casos. Em nenhum momento das aventuras exerce como médico de Holmes. Só em duas ocasiões descobrimos o detective sob o cuidado de um médico: em “O Pé do Diabo”, o médico de Holmes é o Dr. Moore Agar; foi durante o decurso desta aventura que quando Watson pretendia receitar a um Holmes convalescente um dos seus remédios, que já haviam matado duas pessoas e enlouquecido outras. Um autêntico alarde de valor e espirito aventureiro, mas não de perícia médica com certeza. Na narrativa “O Cliente Ilustre”, quando Holmes é vítima de uma grande contusão, o seu médico Sir Leslie Oakshott trata Watson, não como colega médico, mas como grande irresponsável. Quando Holmes em “O Detective Moribundo” quer enganar um médico, para que acreditem que está prestes a morrer, elege — de entre todos os médicos de Londres — o dr. John H. Watson. E que dizer do já bastante referido Sr.Watson? Obviamente não viu o suficiente para ser, mais uma vez, uma referência…
Não, nos talentos do famoso agente literário de A. C. Doyle, não se incluem a prática de medicina. Se tivesse tido mais pacientes teríamos menos casos narrativos de Holmes! Haverá maior tragédia?
(in Baker Street Journal, vol 25, nº3)
Organização e tradução de M. Constantino

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