22 de dezembro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 357

Efemérides 22 de Dezembro
Doris Miles Disney (1907 – 1976)
Nasce em Glastonbury, Connecticut, EUA. Trabalha numa companhia de seguros e numa agência de publicidade o que a inspira e lhe proporciona os conhecimentos para criar os personagens principais dos romances policiários que escreve. Cria a série Jim O'Neill, um oficial de polícia de Connecticut, que surge pela primeira vez em Compound For Death (1943) e tem 5 títulos publicados; a série Jeff DiMarco, um investigador que trabalha para uma seguradora de Boston e é protagonista de 7 romances, publicados entre 1945 e 1971. No total Doris Miles Disney escreve 49 romances muitos deles bestsellers e adaptados ao grande ecrã.

TEMA — BREVE HISTÓRIA DA NARRATIVA POLICIÁRIA — DE 1870 A SHERLOCK HOLMES (27)
Continuação de CALEIDOSCÓPIO 354 (Clicar)
A primeira citação para início dos anos 70 de 1800 é genuinamente portuguesa. Dois notáveis escritores nacionais, Eça de Queirós (1845-1900) e Ramalho Ortigão (1836-1915), iniciam a publicação de um folhetim, “O Mistério da Estrada de Sintra” (Clicar), sem planos prévios ou trama escolhida. Cada um escreve em alternância, um a um, os capítulos publicados no Diário de Notícias, devendo o seguinte continuar o anterior, que não conhece previamente.
Pode considerar-se o primeiro romance policial, embora os lances folhetinescos de autêntica sensação e crítica mordaz aos costumes sociais Nele se conta a história rocambolesca de um médico que regressava tranquilamente, com um amigo, quando são assaltados e raptados por desconhecidos mascarados que os levam de olhos vendados, para uma casa isolada onde o médico é convidado a examinar um homem deitado num sofá, e que verifica estar morto, envenenado.
Daqui parte toda a sequência da história que, escrita com o único fim de se divertirem, segundo os autores, acaba por ser um marco a destacar na literatura policial nacional.
Citado por Howard Haycraft no seu monumental trabalho “Murder for Pleasure: The Life and Times of the Detective Story”, com o título português de “O velho sabujo detective”, publicado em 1872 por Harlan Page Halsey, não encontramos qualquer referência biográfica ou bibliográfica, todavia é considerada por aquele estudioso das coisas policiarias como “a primeira novela sensacional de detective”. Deve referir-se à novela americana, pois a primeira inglesa é de Collins e a francesa de Gaboriau, únicas potências no jogo detectivesco.
Com “La Corde au Cou” (1873), de Émile Gaboriau (Clicar) está praticamente esgotado o ciclo policial do autor. Parece ter sido intenção do autor, desfazer-se dos heróis anteriores, Tabaret, Gévrol e Lecoq, já que nos apresenta um novo personagem, Goudar.

Allan Pinkerton (1819-1884) é uma lenda verdadeira (Espiões na Guerra da Sucessão Clicar). Lenda real e ficcionada, aliás.
Nascido em Glasgow, emigrou para os Estados Unidos. Foi criador duma das primeiras agências norte-americanas de detectives, com fama e êxito material inerentes ao sucesso, e protagonista dos livros próprios, que são versões novelizadas de alguns dos seus casos, ora ficcionados, aproveitando a popularidade do nome Pinkerton.
Num caso e noutro são livros medíocres, para o gosto actual, o que não impediu que após “The Expressman and the Detective” (1874), “The Somnambulist and the Detective” (1875), “Criminal Reminiscenses and Detective Sketches” (1878), “Thirty Years a Detective” (1900) e “The model town and the detectives: Bryon as a detective (The hard life of the detective) (1900) o nome fosse aproveitado para correr mundo através de fascículos apócrifos, apreciados em geral pelas classes médias a que se destinavam pelo baixo custo e sensacionalismo, desenvolvido (“Aventuras de Nat Pinkerton”) e que seu filho, A. Frank Pinkerton, publicou, após a morte do pai, uma série de volumes, sob o título generalizado de “The Frank Pinkerton Detective Series”.

“La Chambre du Crime” (1875), de Eugène Chavette (1827-1902), é um enigma de quarto fechado mediocremente aceitável. De referenciar a apresentação, Patajon de seu nome, criação do autor que se identifica com Gaboriau.
No mesmo ano de 1875, o prolífero Fortuné du Boisgobey (1821-1891), que se iniciara como rival de Ponson du Terrail em dois romances rocambolescos, “L'Homme Sans Nom” e “Le Forçat Colonel”, escreve um pastiche autêntico de Gaboriau, que intitula “La Vieillesse de Monsieur Lecoq”. Em 1875 escreve “Le Coup de Pouce”, em que apresenta um padre detective, Don Jean, um protótipo do futuro Padre Brown. Pratica-se um crime na Curia do velho padre, pelo que decide, ele mesmo, fazer as investigações e eliminar as suspeitas que recaem sobre um rapaz seu amigo. Descobre, entretanto, que o culpado é um recente locatário da cidade.
Em “Cornaline la dompteuse” (1887), cria outro detective, desta vez Saintonge, que será um dos primeiros jornalistas criminais activos.

A primeira mulher a escrever uma narração detectivesca, foi a norte-americana Anna Katharine Green (Clicar), com “The Leavenworth Case” (1878). Para a actualidade, o livro apresenta escassa qualidade, mas não deixa de ser muitíssimo bem construído para o momento da publicação. Aqui se apresenta Ebenezer Gryce, o dinâmico detective da cidade, misto de Bucket e Cuff, cinquentão, corpulento e simpático, cujo método se apoia no estudo minucioso dos íntimos detalhes.
O livro é, então um êxito, em parte pelo sexo da autora, também pela familiaridade com que trata as questões legais, como as criminais, já que seu pai era um eminente advogado criminalista, ainda que pelo tratamento demasiado sentimental e moralidade das questões.
Posteriormente, Green escreveu muito, sendo de salientar os romances, “A Strange Disappearance” (1880), “Hand and Ring” (1883) e “The Filigree Ball” (1903), e numerosos relatos, dos quais teremos ocasião de referenciar na oportunidade e que, quanto a nós, superam os romances.
Os primeiros dois anos de oitenta não são prometedores. Em 1880 aparece “Le Crime de la Rue Chanoinesse”, de Albert Bizouard, que é um bom romance de enigma clássico, mas inexplicavelmente pouquíssimo divulgado. Outro tanto se dirá relativamente à obra anónima, “Detective Sketches”, de 1881.
A partir de 1882, inclusive, começam a surgir originais do género, manifestando uma situação de escolha das narrativas que devem figurar numa história que se pretende representativa, não só do que se publicou, mas do melhor que se publicou.
Robert Louis Stevenson (Clicar) não é um escritor com interesses na área policiaria, o que não impede de criar ambientes de mistério nos limites das aventuras detectivescas.
Das histórias que compõem “The New Arabian Nights” (1882), onde prevalece particularmente “The Suicide Club”, contido na categoria dos thrillers; o fascinante livro sobre o Dr. Jeckyll e Mr. Hyde, misto de policial, terror e ficção científica, ou mesmo “The Wrong Box”, no qual um cadáver, humoristicamente aparece e desaparece dos sítios mais inesperados.
Guy de Maupassant (1850-1893), que nasceu no castelo de Mirommesnil na Normandia, por deixar prosa e versos ímpares, está excelentemente representado, talvez inconscientemente, na literatura policiaria. Por ser menos conhecido, cita-se “Um drama verdadeiro”, datado de 6 de Agosto de 1882
Como Poe, poeta que foi, um outro poeta americano, mais original e ardente, Walt Whitman (1819-1892), deixa-nos um conto extraordinário, violento e misterioso simultaneamente, publicado no ano da sua morte: “Um Ímpeto Maligno”
Mark Twain (Samuel Langhorne Clemens/1835-1910) não ofereceu grande relação com a narrativa policial pese embora algum interesse com a mecânica da detecção.
No capítulo XXXI da novela “Life on the Mississippi” (1883), que informalmente não tem nada de detectivesco, apresenta um excelente passo para o estudo e utilização das impressões digitais para a descoberta do crime, não obstante a natureza humorística de Twain de transformar o sério em sátira.
Em “The Adventures of Huckleberry Finn” (1884), são evidentes os sinais policiários, tal como em “The Adventures of Tom Sawyer”, que é anterior, de 1876. Tom não pode deixar de cativar o leitor. É um menino estudante, travesso, órfão que vive com uma tia e os primos. Tem um companheiro — Huckleberry Finn, o genial, como é conhecido — tão ansioso como ele de viver aventuras. Numa noite assistem a um assassínio e sabem que foi acusado um infeliz bêbado, porém, apesar de ameaçado de morte, Tom resolve actuar por conta própria e declarar em tribunal o nome do culpado.
De 1884 referenciamos Arthur Griffiths, (1838-1908), inspector de prisões, que inicia a carreira de escritor com uma obra no estilo de “causes célebres”, em 3 volumes, intitulado “Mysteries of Police and Crime”, que não merecem o apoio público. Volta-se para outro tipo de escrita e, como pretenso herdeiro de Collins, que se intitulara, mas sem qualquer parcela de vivacidade deste, publica no designado ano, o que apesar de tudo, será o seu melhor livro “Fast and Loose”. Segue-se “Locked Up” (1887), cujo único realce será o conhecimento profundo dos hábitos criminais — o que não admira evidentemente — pois as histórias em si são de escassa valia.
B. L. Farjeon, autor de “Great Porter Square” (1884), cuja única anotação encontrada se reporta à obra e ao facto de ter nele criado um polícia amador, profissional de jornalismo.
Ainda no mesmo ano, é publicado na Argentina “El Condado de Oro”, de Paul Groussac, escritor franco–argentino nascido em França em 1848 e falecido em Buenos Aires, em 1929. Teve notável influência na literatura do país das pampas.
O relato apareceu em 1884 com o título referido, de autor anónimo e posteriormente com o título “Pesquisa”, assinado pelo autor. É, por ordem de publicação, o segundo conto policial daquele país.
Cabe uma referência especial para “Une Drame à la Chasse” (1884), de Anton Pavlovich Tchekov que, tudo leva a crer, terá servido de inspiração para a famosa novela de Agatha Christie, “O Assassinato de Roger Ackroyd”.
Não é, de facto, uma novela qualquer. Teve e tem interesse bastante para, com o título de “Estranha Confissão”, ter sido levada ao cinema, protagonizado por George Sanders e Linda Darnell.

O fenómeno Nick Carter inicia-se em 1884 com a publicação no “New York Weekly”, da primeira aventura daquele protagonista intitulada “The Old Detective’s Pupil”, da autoria de John Russell Coryell (1851-1924), seu criador.
Escrita sob a forma de autobiografia, esta primeira narrativa descrevia as peripécias do jovem Nick (Nicholas) Carter para desmascarar o assassino de seu pai, o velho detective Seth Carter. Nick consagra toda a sua vida na luta contra o crime, é um jovem superdotado em bravura, em vigor e inteligência, com uma moral incorruptível e indomável. Tem a habilidade do disfarce, o dom de conhecer todas as línguas e a faculdade de ler, mesmo à distância, pelos lábios dos seus oponentes.
Tem dois ajudantes, Chickering Carter, conhecido por Chick e Paddy Gorvar.
Existiu uma única mulher na sua vida, Ethel, que tem um fim breve e trágico.
As aventuras de Nick Carter estão desprovidas de primores literários, o estilo é directo, cortante, procurando levar o leitor a vibrar e sentir as sensações que vive o detective.
Tal foi o êxito do herói que em breve se torna numa verdadeira instituição, depois do fenómeno. As aventuras passaram a ser assinadas por Nick Carter, ou Nicholas Carter, segundo a prosa de Coryell, Frederick Van Rensselaer Dey (1861-1922) — a quem se apontavam 1706 narrativas deste personagem — Thomas C. Harbaugh (1849–1924), Eugene T. Sawyer (1847–1924), Richard Edward Wormser (1908-1977),etc. Etc.
Passou das revistas aos folhetins, à banda desenhada, ao cinema, e, ainda hoje, o seu nome assina livros recentes, que o dão como sensacional agente secreto.

“The Dark House” (1885), de George Manville (1831-1909), é mais um caso escrito à sombra de Collins, tal como “A Hard Knot” (1885), de Charles Gibbon, sem qualquer relevo especial.

Em 1886, o sucesso invulgar, autêntico bestseller policial do séc. XIX, é alcançado pelo neozelandês Fergus Hume (Clicar), com “The Mystery of a Hansom Cab”.

Hume tinha pouco mais de vinte anos quando escreveu a obra, a qual foi recusada por vários editores australianos. Era um advogado mal pago e recolheu poucos benefícios publicando o livro da sua própria iniciativa. Todavia, enviado para Inglaterra, venderam-se quase 400 mil exemplares, sem contar com as edições publicadas nos Estados Unidos.
Pessoalmente, diríamos que hoje o livro carece de mérito, todavia na época não se entendia assim. O factor sucesso incitou o autor a escrever — o que rondou pela centena de obras — mas, parece, nunca conseguiu viver apenas da escrita.

A personalidade máxima da literatura detectivesca situa-se em SHERLOCK HOLMES.
É em 1887 que aparece “A Study in Scarlet”, sob a criação de Sir Arthur Conan Doyle (Clicar), e alcançará uma ressonância invulgar.


TEMA — POESIA DO CRIME — FADO
Poemeto De GentIl Marques
Primeiro Prémio Internacional-e de Poesia em Siracusa, Itália)

FOI JULGADO
EM JULGAMENTO DE SENSAÇÃO
QUE ENCHEU OS JORNAIS
E SERVIU DE CURIOSIDADE
À CURIOSIDADE DA MULTIDÃO…

ANDOU POR ÁFRICA, SOFREU FEBRES,
ARRASTANDO PESADA CORRENTE,
FOI CHICOTEADO,
MARCADO,
ARRASADO,
ESGOTOU-SE
E MORREU LENTAMENTE…

DOIS ANOS DEPOIS
SOUBE-SE PELA CONFISSÃO DE ALGUÉM
QUE ESSE HOMEM ESTAVA INOCENTE!

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