5 de dezembro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 340

Efemérides 5 de Dezembro
James Lee Burke (1936)
Nasce em Los Angeles, Texas. Trabalha em várias áreas antes de se dedicar à escrita, no final dos anos 80. Autor de romances e contos policiários é célebre pela série Dave Robicheaux — um alcoólico em recuperação, ex-oficial do departamento da polícia de New Orleans; a série tem 20 títulos publicados e 2 romances foram adaptados ao cinema. O autor cria também a série Billy Bob Holland, com 4 títulos editados e a série Hackberry Holland (primo do anterior), com 3 livros. James Lee Burke vence por duas vezes o Edgar Award na categoria de Best Novel: Black Cherry Blues (1990) e Cimarron Rose (1998), respectivamente, da série Dave Robicheaux e Billy Bob Holland. O seu romance The Lost Get-Back Boogie (1986), é rejeitado pelas editoras mais de 100 vezes durante um período de 9 anos, e uma vez publicado é nomeado para o Prémio Pulitzer! Em Portugal estão editados 3 livros do autor:
1 – Pegasus (2008), Nº3 Colecção Sombra de Dúvida, Editora Estampa. Título Original: Pegasus Descending (2006). É o 15º livro da série Robicheaux.
2 – Blues Por New Orleans (2009), Colecção Promoteu, Editora Estampa. Título Original: The Tin Roof Blowdown (2007). É o 16º livro da série Robicheaux.
3 – Por Entre As Brumas (2010), Nº9 Colecção Sombra de Dúvida, Editora Estampa. Título Original: The Electric Mist With Confederate Dead (1993). É o 6º livro da série Robicheaux.



TEMA — CONTO DE FICÇÃO CIENTÍFICA — SEM ESCAPATÓRIA
De P. M. Hubbard
Era uma dessas tardes do meio de Verão na Inglaterra, que parecem prolongar-se indefinidamente. Eu poderia, agora escrever coisas a respeito dessa tarde, para fazer “atmosfera” — mas isso não seria verdadeiro: se havia algo fora do comum não o senti; quanto aos factos, tais como se apresentaram, não vejo por que o faria. E o posto de gasolina era perfeitamente comum, bem como o encarregado dele: pelas aparências, um homem absolutamente comum.
O sujeito enchia todo o local, falando com agradável sonoridade (julguei o sotaque peculiar à região). Depois de atender-me, entrou para ir buscar o troco; saí do carro e dei alguns passos, para esticar as pernas. Aqui, a estrada passava pelo vale, todo circundado de colinas (de greda, supus). Por fim, começava realmente a escurecer, e a estreita faixa asfaltada refletia, como água, a fantástica e opressiva incandescência dos topos das colinas. Já apareciam algumas estrelas, especialmente uma, alaranjada e dourada, acima da linha do horizonte mesmo em frente às bombas de gasolina.
Encostei-me à porta da garagem, olhando para a colecção de acessórios que sempre há na vitrina desses lugares. O encarregado deve ter pensado que eu ainda estava no carro. Saiu pela porta (eu estava, nesse momento, nas suas costas) e caminhou na direcção das bombas. Trazia o dinheiro na mão. Aí estacou, exactamente quando eu ia falar-lhe, e articulou um som que eu mal podia acreditar ter ouvido (até hoje, fico com o estômago embrulhado ao pensar nisso). Quando recuperei, achei que devia estar doente, e fui ter com ele. Ainda estava no mesmo lugar, a fileira de bombas entre ele e o carro. Esgazeado, contemplava o céu, onde a estrela dourada-alaranjada, agora mais nítida o mirava também. Perguntei:
— Sente-se bem?
Não lhe toquei: ele estava perfeitamente firme nos seus próprios pés (apenas imóvel, e eu não estava muito certo…).Aproximei-me e contemplei-lhe o rosto. Não o descrevi antes, porque não era o tipo de homem que se acha necessário descrever (um homem comum, de macacão, mais para o baixote, de fala calma, mas absolutamente comum). Mas agora havia no seu rosto uma expressão que precisa de ser descrita, embora isso não seja fácil não, nado fácil.
Era uma expressão de infinita saudade, espécie de avidez surpreendente (como se: estivesse faminto), mas tão oprimida pela desesperança que dava a impressão de completa passividade. Não se movia porque não havia nada que pudesse fazer. O som que produzira escapara-lhe. Olhava a estrela! Repeti:
— Sente-se bem?
O tipo da pergunta idiota a ser feita a um homem com aquela expressão no rosto, mas é o que se diz numa ocasião assim… Dessa vez, ouviu-me. Voltou-se e entregou-me o dinheiro, mas como se estivesse estonteado… sem chegar ao meu alcance… como se não me visse direito. Adiantei-me e peguei no dinheiro. Isso pareceu despertá-lo. Olhou--me, recompondo as feições.
— Pensei que estivesse no carro — disse.
A voz arrastada e com o forte sotaque da gente do interior, estava inalterada.
Acabou de anoitecer completamente. A estrela alaranjada esbraseada lá no céu; todavia ele já não a olhava. Tampouco me olhava, mas essas coisas não importam, e pensando bem, acho que isso era perfeitamente natural. Nessa altura não havia motivo (sempre baseado nos factos) para que as coisas se passassem de outro modo. Falei:
— Aquela estrela…
Ele atalhou-me:
— Não é uma estrela, senhor. É um planeta, isso sim.
Falou exactamente como um camponês fala a um citadino: pondo as coisas nos devidos lugares, mas sem intenção de desrespeitar.
— Está bem — concordei. — Pois que seja um planeta… Mas olhe, camarada não desejo interferir, e lamento que não soubesse que eu estava aqui. Contudo eu ouvi, vi-lhe o rosto naquele momento… e há algo de muito errado por aqui. Se posso ajudá-lo de alguma forma…
Virou as costas enquanto eu ainda falava e encaminhou-se para a garagem. Comentou:
— Não sei por que diabos, Eles me deixaram recordar…
Entrou e fui atrás dele. À última claridade do dia, achámos o nosso caminho às apalpadelas na pequena e entulhada oficina e sentamo-nos em cadeiras rústicas. Cheirava a gasolina e metais. Distingui a silhueta de uma caixa registadora e acima dela, o impassível, carrancudo perfil, delineado contra a vidraça iluminada.
— Pelo direito, eu não, devia relembrar — asseverou — ELES disseram… susteve o fôlego, e senti outra vez aquela aflição na boca do estômago. ELES disseram… — desta vez a palavra saiu áspera, numa espécie de desconfiança incrédula: ELES disseram que não recordaríamos nada que fosse bom para nós; apenas o suficiente para nos sentirmos infelizes; devem ter cometido algum erro no preparado…
Pensou um pouco, e continuou:
— Nomeu tempo, devia haver uns duzentos camaradas. Talvez fossem demais para serem manejados apropriadamente. De costume eram fornadas de quarenta ou cinquenta, mas penso que ELES se atrapalharam bastante. Nem todos foram apanhados, claro; mesmo ELES, não podem saber tudo, e houve um bocado de desperdício! O que acontece aos que faltam ninguém sabe; mas ELES não se importam, assim que se livram de nós. Ainda assim, deve haver muitos de nós por aí, a recordar o bastante para que sejamos infelizes. A coisa é muita bem feita, realmente. Honra lhes seja feita: são inteligentes mesmo!
Riu à socapa, um disfarçado risinho de matreiro. Mas susteve o fôlego outra vez, e senti meu coração a bater surdamente no súbito, vazio silêncio.
A moldura da vitrina brilhou como prata com as luzes de um carro recém-chegado. Levantei-me, agarrando-me à realidade, à sólida realidade de uma garagem do interior. Alguém tocou uma buzina lá forem e ele disse-me:
— Tenho de pedir-lhe que tire o seu carro, senhor. Está a bloquear as bombas.
— Agora mesmo — falei.
Saí e comecei manobrar o carro. Depois, não vendo razão para fazer qualquer outra coisa, segui viagem.
Decorreu quase um ano antes que eu passasse por lá novamente. Desta vez, não tinha necessidade de parar, nem intenção fazê-lo. Entretanto, descobri que esperava vê-lo a manejar as bombas e, como isso não aconteceu, o meu pé ficou hesitante no pedal… e então parei o carro e fiz marcha atrás.
Não conheci o homem que me veio atender. Era muito mais relho, provavelmente o patrão. Achei-me de repente numa dificuldade:
— Oh… Esperava ver o camarada que trabalhava aqui…
Olhou-me meio desconfiado:
— Newman? — perguntou.
— Não sei o nome. Foi há um ano, mais ou menos. Um sujeito claro, meio baixote.
— É isso mesmo. É o Newman. Porque procura? Alguma trapalhada? — parecia ansioso.
— Não, nada demais. Está aqui?
— Foi-se. Desertou-me. Deve haver ano. Nunca mais ouvi nada a seu respeito, nem ninguém. Deixou tudo em ordem, devo dizer. Mas, quando o senhor perguntou por ele, imaginei que…
— Não tem importância — disse.
Virei-me e voltei ao carro, sentindo-lhe o olhar fixo nas minhas costas, o tempo todo.
Agora, naturalmente, jamais saberei… Só que não consigo conceber isso. Parece que ainda o veja o ouço, claramente, a injuriar (naquela arrostada e rascante voz de manhoso) alguma monstruosa tirania celestial… Não consigo “compreender”!




TEMA — FICÇAO CIENTÍFICA — BIBLIOTECA ESSENCIAL DE FICÇÃO CIENTÍFICA E FANTASIA (66)


Volume 66 — Dune (1965) de Frank Herbert


Frank Patrick Herbert (1920 -1986), nasceu em Tacoma (Washington), estudou psicologia, foi jornalista, locutor de rádio e escritor. Dune trouxe-lhe a fama, pelo que continuou a série com Dune Messiah, Children of Dune, God Emperer of Dune, Heretics of Dune e Chapterhouse: Dune. Para além desta série só Dentination: Void merece referência.

Dune é uma das mais famosas obras dos últimos tempos no campo da Ficção Científica. Consagrada com os Prémios Hugo e Nebula, converteram de imediato o seu autor num nome apontado, nome até aí secundário no género.
Quase meio século após a sua consagração, Dune continua a ser uma obra mestra, bem trabalhada desde o detalhe aos personagens, com um papel importante na ordem psicológica das figuras e ecológico quanto ao ambiente.
Num império galáctico neo-feudal, o imperador cede o planeta Dune — Arrakis para os seus habitantes — ao Duke Atreides, em contrapartida da utilização de um segredo mercantil. Atreides é entretanto assassinado e seu filho, que lhe sucede, é obrigado a refugiar-se entre os homens das areias — os Fremen — que vêem no jovem o messias esperado. Paralelamente desenrola-se a história da sociedade secreta feminina Bene Gesserit que através dos séculos, utilizando processos genéticos cria mutantes com poder de ubiquidade.


Ficha Técnica
Duna
Autor: Frank Herbert
Tradução: Jorge Candeias
Ano da Edição: 2010
Editora: Saída de Emergência
Colecção: Bang Nº107
Páginas: 576

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