18 de setembro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 262

Efemérides 18 de Setembro
Henry Cecil (1902 – 1976)
Henry Cecil Leon nasce em Norwood Green Rectory, London, Inglaterra. Solicitador, juiz e escritor, assina os seus livros com Henry Cecil e com pseudónimo Clifford Maxwell. Autor com uma capacidade fora do comum para uma análise — séria, e ao mesmo tempo, carregada de humor — do sistema legal e das circunstâncias que o rodeiam, consegue desta forma assunto para os seus contos e romances, muitos deles adaptados à televisão e cinema. O primeiro livro que Henry Cecil publica é Full Circle (1948) uma colectânea de contos, cria ainda as séries Mr. Tewkesbury, Colonel Brain e Roger Thursby.


TEMA — AMORES CONTRARIADOS NA HISTÓRIA DE PORTUGAL (1) — A VIÚVA E O CONDE
Por M. Constantino
Portugal, diríamos, surge de uns amores indesejados de uma viúva e de um conde.
Rotos os diques da organização militar, do império godo, a cavalaria sarracena submerge como um dilúvio inexorável, por toda a terra Hispânica na qual se inclui a Lusitânia. Apenas ao norte das montanhas Cantábricas resiste um grupo cristão ou neo-godo sob o comando de Pelaio, porta-estandarte do Rei Rodrigo. É aquele que inflige a primeira derrota aos invasores e entra na cruzada da reconquista.
Três séculos após a gesta de Pelaio, em pleno século XI, refeitos e consolidados os Reinos Cristãos de Leão e Castela, compreendendo Galiza e parte da Lusitânia, juntam-se à luta os cavaleiros fidalgos de Borgonha, nós quais se destacam os Condes Raimundo e seu primo Henrique, aos quais D. Afonso VI, mercê das suas bravuras dá em casamento as filhas Dª Urraca e Dª Tereza, concedendo-lhes os governos, respectivamente, da Galiza e do Condado Portucalense.
No ano de 1097, dois ou três anos após o casamento de D. Henrique com Dª Tereza, o Conde dominava todo o território do Minho ao Tejo.
Morto Afonso VI, a luta entre os herdeiros sobrepõe--se à reconquista, até que D. Henrique morre entre 1112 e 1114 deixando Afonso Henriques, seu filho, de 3 anos de idade. A este, uma criança, pede no seu leito de morte, como pai e soberano, que não perca toda a terra que deixa de Artoga a Leão e Coimbra. D. Tereza, ainda jovem, de “rosto angélico e saber astuto e engenhoso”, regedora do condado na menoridade do filho, faz-se surda à voz do sangue e toma o partido do cunhado, perdendo-se de amores por um moço fidalgo da Galiza, Fernando ou Fernão de Trava, que faz seu favorito.
Atacada nas duas frentes, pelas hostes leonesas e mouriscas, que já tomaram os territórios compreendidos na área do Tejo e Mondego; alia--se ao Bispo de Compostela, guerreiro pródigo em manhas, tendo ao lado os irmãos Travas, Bermudez e Fernando, consagrando-lhes estima muito acima da que dedica ao filho, entregue desde o berço aos cuidados do aio Egas Moniz.
Uma ligação profunda, incorruptível, que supera todas as reacções possíveis do filho e dos vassalos é a que prende a viúva a Fernando de Trava, uma ligação efectiva,de corpo e alma, que se sobrepõe aos legítimos interesses do filho e aos próprios destinos do Reino em gestação. Por obra do amor, na cegueira do coração que lhe compromete a mente, Tereza não distingue a alarmante situação de dependência com um estrangeiro a quem entrega o corpo, a alma, os bens, o condado que será o futuro início de um Reino.
A aversão e a rebeldia corporizam-se. Primeiro por Gonçalo Mendes da Maia — o Lidador, chefe da conjura que o leva à prisão da qual sai por imposição pontifícia e, daí a pouco pelo próprio filho, moço de 14 anos que se arma cavaleiro por suas próprias mãos na Catedral de Zamora e previne a mãe que são horas de se desfazer do favorito.
Nem as advertências nem os reveses no campo de batalha contra o sobrinho, agora Afonso VII de Castela, lhe impõem obediência.
Nas vésperas de S. João do ano de 1128, próximo do Castelo e burgo de Guimarães, não são as danças e as fogueiras costumeiras dos anos anteriores, são os címbalos e trombetas convocando os homens às armas e, ao lucilar da manhã de 24 — o próprio dia de S. João — os relinchos dos cavalos, gritos da refrega e choques de armas, invadem o campo de S. Mamede. O jogo decide-se pela razão de Estado, contra a razão do coração…
Vencida D. Tereza e afastada do Condado com Fernando de Trava e seus sequazes, perdido o espelho e o poder, nascem-lhe os primeiros cabelos; brancos. Fernando ama-a ainda assim, pobre e destronada do poder, ama-a ainda depois da sua morte. Seria um sentimento nobre. Para Afonso Henriques fora--se a ameaça ao seu sonho de tornar o território portucalense numa NOVA PÁTRIA — o recém nascido PORTUGAL em terras de S. Mamede. Aí a terra mater onde brotou a raiz do tronco da nacionalidade Lusíada.
D. Tereza


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