15 de setembro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 259

Efemérides 15 de Setembro


Agatha Christie (1890 – 1976)
Agatha Mary Clarissa Christie Miller nasce em Torquay, Devon, Inglaterra. É a escritora de policiário mais conhecida em todo o mundo. É a autora mais publicada de sempre, só superada por Shakespeare. Usa também o pseudónimo Mary Westmacott. Em Portugal, os livros de Agatha Christie têm sido editados na Colecção Vampiro (Clicar) e na Colecção Vampiro Gigante (Clicar). Mais recentemente, as Edições Asa (Clicar) está a reeditar os livros da escritora.





TEMA — ESTUDOS DE LITERATURA POLICIÁRIA — AGATHA CHRISTIE EM NÚMEROS
Por M. Constantino

85 Anos de idade (1890 – 1976)
55 Anos de escritora
66 Romances publicados
17 Livros de contos
1277 Vítimas
158 Assassinos
34 Romances protagonizados por Poirot
5 Livros de contos protagonizados por Poirot
12 Romances protagonizados por Miss Marple
3 Livros de contos protagonizados por Miss Marple
5 Livros protagonizados por Tommy e Tuppence
3 Livros protagonizados por superintendente Battle
2 biliões de exemplares vendidos em todo o mundo
103 Línguas em que foi traduzida

TEMA — ESTUDOS DE LITERATURA POLICIÁRIA — PERSONAGENS DE AGATHA CHRISTIE
Por M. Constantino
Têm-se formulado numerosas teorias sobre a origem de Hercule Poirot. Há quem o aponte como descendente de Hercule Popeau, antigo membro da Sûreté de Paris, personagem criado Marie Belloc Lowndes, ou Hercule Flambeau, o criminoso convertido em detective de C. K. Chesterton, como existe quem veja a sua fonte em Eugène Valmont, o vaidoso detective francês da paternidade de Robert Barr.
Agatha Christie deixa-nos a sua versão própria:

Quem poderia ter como detective? Revi todos os que conhecera e admirara nos livros. Havia Sherlock Holmes, o único — jamais poderia ser capaz de rivalizar com ele! Havia Arsène Lupin — mas esse seria um detective ou um criminoso? De qualquer modo não era o meu género. Havia o jovem jornalista Rouletabille, em o “Mistério do Quarto Amarelo” — era o personagem que gostaria de ter inventado: alguém que nunca fora utilizado antes. Quem poderia ser? Um estudante? Muito difícil! Um cientista? Que saia eu de cientistas? Lembrei-me então dos refugiados belgas. Havia uma colónia de refugiados belgas, bastante numerosa, na paróquia de Tor.
Porque não seria belga o meu detective? Deixei que crescesse como personagem, devia ter sido inspector, de modo que pudesse ter certos conhecimentos de crimes. Seria meticuloso, ordenado, pensei com os meus botões enquanto arrumava o meu quarto. Um homem bem ordeiro. Parecia-me até que o via, um homem muito alinhado, cuidando sempre de colocar tudo no seu lugar, gostando dos objectos aos pares, gostando das coisas quadradas, e não redondas. E seria muito inteligente — teria muitas células cinzentas —, essa era uma boa frase, devia recordá-la: ele possuiria não poucas células de matéria cinzenta. O seu nome seria espectacular — um desses nomes como existiam na família de Sherlock Holmes. Como era mesmo o nome do irmão dele? Mycroft Holmes! E se eu chamasse ao meu homenzinho Hércules? Ele seria um homem baixo — Hércules seria um bom nome. O seu sobrenome seria mais difícil. Não sei porque me decidi por Poirot. Se fui eu própria quem o inventou ou se o vi em algum jornal, ou escrito em algum lugar, não sei — mas assentei que seria esse o nome. Combinava bem, não com Hércules, com “s”, mas sim Hercule — Hercule Poirot. Estava certo, assente, graças a Deus!
Hercule Poirot

Seja como for ou como se entenda a extravagante personalidade de Hercule Poirot ficará, para sempre, a fazer parte da galeria dos notáveis.
Poirot é de facto um homenzinho de aspecto extraordinário. Não mede mais que 1.60 m de altura, mas tem um porte cheio de dignidade. O formato da sua cabeça é, exactamente, o de um ovo e ele anda sempre com ela um nadinha inclinada para o lado. Usa um bigode muito espetado e muito marcial. A impecabilidade do seu trajar é quase inacreditável. Creio que um grão de pó lhe faria doer mais do que o ferimento de uma bala. Um homenzinho janota.
Tinha sido em tempos um dos mais famosos membros da Polícia belga. Como detective, o faro era excepcional e acumulara triunfos ao deslindar alguns dos casos mais intrigantes da época.
Tem as suas pequenas manias. Abomina as correntes de ar, sendo uma das suas primeiras previdências ao entrar em qualquer aposento, fechar as janelas. Prefere, por isso, a vida na cidade. Só usa — e sofre com eles — sapatos de verniz que lhe apertam os já pequenos pés.
É exuberante, vaidoso dos seus conhecimentos e dos triunfos proporcionado pelas suas “pequeninas células cinzentas”…
Tem um desejo secreto: aposentar-se e dedicar-se seriamente à cultura de abóboras…

Para cumprimento do contrato, A. Christie, lançou-se afincadamente ao segundo livro.
Os personagens envolvidos são uma dupla de jovens aventureiros, Tommy e Tuppence Beresford, mais precisamente, o tenente Thomas Beresford, um rapaz que, na altura, acabava de ser desmobilizado após o Armistício, e depois de combater em França onde fora ferido em 1916, e na Mesopotâmia onde fora igualmente ferido e, Miss Prudence Cowley, quinta filha do arcediago Cowley, de Litle Missendoll, Sulfolk, no período da guerra enfermeira num Hospital onde conhecera Tommy.
À falta de melhor, utilizados todos os métodos ortodoxos, resolveram tornar-se aventureiros profissionais.
Ele usa a cabeça descoberta e apresenta uns cabelos vermelhos e bastos, alisados para trás de uma forma esquisita. Um rosto feio mas simpático, gestos denunciando, sem equívoco, um “gentleman”; ela, sem ser bela, tinha um rosto pequenino que era um encanto, queixo voluntarioso, olhos cinzentos, cabelos negros, um corpo elegante sobre uns tornozelos delicados como poucos.
O seu primeiro caso, “The Secret Adversary” é, pura e simplesmente um enredo de espionagem, uma conspiração internacional em cujas operações se compreende o tráfico de armas, drogas, jóias, obras de arte ou conhecimentos especializados, levados a cabo por um grupo de jovens fanáticos e perigosos cujo móbil é o dinheiro.
Se bem que diferente da primeira obra — Agatha confessa ter sido fácil de escrever — contra todos os prognósticos do editor o livro vendeu-se bem.
Tommy e Tuppence acabam casados em “Partners in Crime” (colecção de contos), viverão numa casa adquirida designada “Os Loureiros”, têm um terrier Hannibal —  e um empregado — Albert.
Tommy e Tuppence

Personagem favorita da literatura policiária, autêntico rival de Poirot, Miss Jane Marple, a velha senhora curiosa, habitante de St. Mary Mead, uma aldeiazinha inglesa antiquada, nasce em letra de forma em “Murder at the Vicarage”, em 1930, com 65 anos de idade.
É uma velhinha simpática, de aspecto frágil, terno, cabelos brancos, rosto coberto de rugas onde realçam as faces rosadas, n olhos azuis, inocentes mas perspicazes.
É uma solteirona diferente das normais solteironas, pois é doce, compreensiva, educada — passou parte da mocidade num colégio religioso em Florença — é uma figura típica e querida da aldeia de casas Queen Anne e Georgionas, com a sua igrejinha e vicariato.
Conheceu e conhece toda a gente e sabe a vida de toda a gente da aldeia. É a confidente por excelência, pois inspira confiança, porquanto sabe guardar um segredo, quando necessário.
Curiosa, um tanto bisbilhoteira, tem um espírito arguto e vivo, capaz de avalia os problemas humanos, usar do seu poder de dedução e facilidade de ligar factos para extrair conclusões.
O seu sobrinho, o jovem novelista Raymond West, alimenta a sua vocação para decifrar crimes e mistérios enviando-lhe livros para a manter actualizada e a par dos acontecimentos, ainda que o faça de um modo desdenhoso.
Sir Henry Clithering, ex-comissário da Scotland Yard aprecia-a ternamente:
“Como gostaria de ter aqui a minha velhinha simpática preferida. Ela adoraria meter os dentes neste belo osso. É exactamente o que ela gosta.”
“Um talento nato cultivado em solo fértil. Ela pode dizer-lhe o que deve ter acontecido, o que devia ter acontecido e, até, o que realmente aconteceu! E também porque aconteceu!”


Miss Marple
Rica em figuras literárias, a autora faz evolucionar outras personagens, se de menor projecção não de menor dimensão.
O Superintendente Battle da Scotland Yard aparece pela primeira vez em “The Secret of Chimneys”.
Battle é um homem robusto, de meia-idade que, apesar do seu aspecto sólido tinha movimentos e reflexos rápidos. O rosto, desprovido de expressão “parecia esculpido em madeira” e “conseguia dar a impressão que a madeira de que era feito pertencera a um antigo barco de guerra…”
Um tipo importante no quadro da Scotland Yard, de madura experiência, que sabia calar e fazer falar os outros, investigador astuto…
“… o estilo de um franco, zeloso e dedicado funcionário da polícia cumprindo o seu dever do modo mais diligente possível, sem rendilhados, sem bonitos, suor honesto, puro e simples: estólido e um pouco estúpido: eis o meu sistema — afirmava Battle.”
Chimneys, cenário da maior parte da obra, não é mais que a descrição realista de Cauterete onde a autora passara uma época da sua infância que lhe é gratificante. Battle faz recordar o Inspector Bucket, de Black House (Dickens) uma das obras favoritas de Agatha, naquele período.


Mais característica a figura de Parker Pyne, um personagem afeiçoado às estatísticas e que chegou à conclusão de que a -infelicidade ou pouca sorte podem ser identificáveis por meio de escalas bem delineadas.
Os relatos são cheios de encanto porque oferecem sábias e generosas observações do personagem sobre a natureza humana.

Paker Pyne inspira confiança.
Forte, para não dizer gordo, tinha uma cabeça calva de nobres proporções e olhos pequenos e cintilantes, através das lentes grossa dos óculos.

“Passei trinta e cinco anos a compilar estatísticas numa repartição governamental. Agora reformado, acudiu-me a ideia de utilizar de novo a experiência adquirida ao longo desses anos. É tudo muito simples. A infelicidade pode ser classificada em cinco rubricas principais — não mais de cinco. Uma vez determinada a causa de uma doença, o remédio não costuma ser impossível. Digamos que me coloco no lugar do médico. Este começa por diagnosticar a doença do paciente e depois recomenda um tratamento. Há casos em que não existe tratamento possível e, quando tal acontece, digo francamente que não posso fazer nada. Mas garanto que se aceito um caso a cura está praticamente assegurada.”



Criado especialmente para figurar em revistas, Agatha escrevia os contos de Mr. Quin e gostava de fazê-lo. Baseados na figura do arlequim, que a fascinava pela particular característica de ser omnipresente e ao mesmo tempo esquivo. Arlequim era o protector dos amantes, uma aparição multicolor e efémera, um ser que vai e vem a seu capricho… tal é Quin, igualmente misterioso, manifesta-se bondoso, calado um tanto snob, todavia.
Faz dupla com Mr. Satterthwaite, um cavalheiro idoso que se considera a si mesmo um observador, um conhecedor das atitudes e sentimentos humanos. Porém, Satterthwaite é como um computador que aguarda utilização, só é capaz de resolver incógnitas e enigmas quando recebe inspiração de Quin.
Como um diabinho irrequieto Mr. Quin aparece sem se anunciar, desaparece do mesmo modo. Por vezes duvida-se se realmente existe, se não será o espírito do seu parceiro que necessita de uma justificação interior para actuar.
Para Agatha, Mr. Quin era “um personagem que mal passava pela história — um catalisador, nada mais — mas a sua presença afectava todos os seres humanos. Havia sempre um pequeno facto, qualquer facto aparentemente irrelevante, que apontava para ele, mostrando-o como realmente era: um homem banhado por uma luz filtrada por um vitral, que dava as cores e a aparência de um arlequim: uma súbita aparição e igualmente súbita desaparição. Sempre representava as mesmas coisas: protegia os que amavam e estava ligado à morte. Mr. Satterthwaite, aquele senhor baixinho que podemos considerar um emissário de Mr. Quin, também se tornou uma das minhas personagens favoritas”.

Google Doodle no 120ª Aniversário da escritora


3 comentários:

  1. Wonder if you can help me to find the title of a book I read a longtime ago and whose story caused me a stong impression. It is none of the known or best-sellers, maybe it is one of the first books of AC, and I vaguely remember the plot which was about a young happy married couple. Strange things happened to the woman in their home culminating with her death. At the end the narrator was her husband who was the killer... I read it in portuguese so it is even more difficult to find! Will I be lucky? Thank's.

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  2. Transcrevo acima a pergunta que fiz na página oficial do FB, de Agatha Christie, para encontrar um livro da autora.Creio que era da colecção Vampiro de bolso.
    Não me lembro do nome do livro, apenas de parte da história. Agradeço a atenção!

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    Respostas
    1. Com as características que indica, pensamos que se trata do livro Endless Night, editado pela Livros do Brasil, na colecção Vampiro com o nº 255 e na Vampiro Gigante com o nº 35. Mais recentemente o livro foi reeditado pelas Edições Asa.
      O título em Portugal é "Noite Sem Fim". A sinopse e um excerto do livro podem ser consultados no link: http://www.wook.pt/ficha/noite-sem-fim/a/id/10995271.
      Esperamos ter ajudado.
      Policiário de Bolso

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