12 de setembro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 256

Efemérides 12 de Setembro
Stanisław Lem (1921 – 2006)
Nasce em Lviv, Polónia. É considerado um dos maiores escritores de Ficção Científica. Os seus livros são caracterizados como obras pioneiras de carácter parabólico e contêm frequentemente reflexões filosóficas e crítica social.

TEMA — CRÍTICA A SOLARIS
Por M. Constantino
Stanislaw Lem é o primeiro autor de Ficção Científica de língua não inglesa, a ser publicado em Inglaterra, em 1961. Solaris é uma obra fascinante de reflexões de cariz filosófico. Aborda o tema do “primeiro contacto” com uma inteligência estranha, um “planeta-oceânico-vivente”. O interesse centra-se nas características dos limites do ser humano. Limites individuais que são recusados, face à sua margem de representatividade cultural e filosófica limitada pelos alienígenas. A tese proposta por Solaris é de que não existe uma verdade unívoca no ser humano…
Solaris foi objecto de uma versão cinematográfica em 1972, pelo famoso Andrei Tarkovsky.



TEMA — ARMAS DE FOGO
Continuação de CALEIDOSCÓPIO 243 (clicar)
As características das armas de fogo, tal como se referia anteriormente, bem como um exame comparativo das balas ou dos projecteis disparados, permite uma identificação que vai daquela ao seu possuidor.
Esse exame é feito utilizando o helixoscópio ou moldagem do cano, recolhendo-se o número de estrias e seu sentido, o passo espiral, largura e forma das estrias, crista, intervalo, ângulo, irregularidades de fabrico, marcas de oxidação ou defeitos acidentais.
Recuperada a bala (refere-se que erradamente se dá o nome da bala ao cartucho, quando na verdade, este compreende a cápsula em cuja base se fixa o fulminante, a carga explosiva composta de pólvora, ao que se segue a bala ou projéctil) que foi disparada, há que compará-la com outras provenientes da mesma arma. A comparação faz-se por um jogo de microscópios que permite a justaposição de imagens (métodos de Goddard & Waite ou método de Soderman) ou modelando os projecteis sobre uma folha de papel de estanho, rolando-os de forma igual (método de Balthazard).
Um outro ponto consiste na classificação do calibre da bala pelo seu diâmetro e daí à bala.
Assim:

Calibres Europeus
(mm/mm)
Diâmetro
(polegadas)
5
0,1968
5,6
0,2165
6,35
0,250
7
0,276
7,63
0,300
7,65
0,302
8
0,315
9
0,354
11
0,433
12
0,472


Na bala ou projéctil que originou o acidente é importante verificar se existem matérias aderentes, tais como: sangue, cabelos ou pêlos, fibras do vestuário, óleo de lubrificação da arma e cera resultante da ligação do projéctil da cápsula.
Vamos tentar por nomes que evitem confusões:

i) bala ou projéctil de formas e consistências várias segundo os produtores e finalidades;
ii) cartucho, cápsula ou invólucro, que contém a pólvora explosiva;
iii) fulminante

Os cartuchos, ou cápsulas ou ainda invólucros, dividem-se conforme o seu tipo de percussão em:
a) Sistema de espiga
b) Sistema de fogo central
c) Sistema de fogo lateral

O exame da cápsula faz-se em relação ao ponto onde batem o percutor e às suas irregularidades (diâmetro, profundidade e excentricidade) e à base do cartucho e marcas da culatra, marcas do ferrolho, do extractor do ejector, também marcas da câmara de fogo.
Para as espingardas de caça, relativamente às buchas, chumbo, pólvora e fulminante.
Note-se que, quando se dispara um tiro, com uma pistola automática, na maioria dos casos encontra-se o cartucho, a cápsula no mesmo lugar, pois o delinquente raras vezes pensa fazer desaparecer este importante meio de prova — é uma questão de falta de serenidade, difícil de manter. Pelo contrário, se se trata de um tiro disparado por um revólver, a cápsula vazia mantêm-se na câmara da arma, sendo muito raro que se extraía no próprio local, a não ser que o delinquente se veja obrigado a recarregar a arma, neste caso serão vários os cartuchos vazios que se encontram.
Numa arma automática ao expandir-se o gás provocado pelo disparo, faz recuar o conjunto do cano e cursor, expelindo a cápsula vazia e recebendo novo cartucho, ao contrário do revólver cuja é rotativa.
Um outro elemento importante a considerar na identificação de uma arma ou cápsula detonada ou não, é a pólvora usada.
As pólvoras são de composição variável. A negra, de uso antigo e tendente a ser desprezada, compõe-se de 78% de salitre, 10% de enxofre e 12% de carvão, distinguindo-se os vários números pela finura, pele, vestuário, etc.
As pólvoras piroxiladas ou pólvoras sem fumo, são preparadas à base de nitrocelulose ou algodão pólvora.
Moderadamente, a variedade aumenta a dificuldade de apreciação, dependendo em muito do país fabricante da arma utilizada.
Nas pólvoras piroxiladas existe pouca combustão pelo que os vestígios apontados para a pólvora negra são mínimos.
A tatuagem da pólvora só é visível quando o tiro é disparado a pequena distância, não mais de 50 cm quando se usou pólvora negra, não mais de 20 cm nas piroxiladas. Em qualquer caso, a partir de distâncias superiores a 0,75 metros, segundo os peritos criminologistas e técnicos de polícia científica, não se pode precisar a distância do tiro disparado, por exemplo, a 0,80 metros ou de outra distância maior.
Pela sujidade do cano, é possível apurar quando o tiro foi disparado.

Experiências várias permitem concluir:
Pólvora negra — deixa no cano um resíduo negro, que durante as primeiras horas é pouco brilhante, engordurado e húmido; ao fim de 24 horas, o aspecto modifica-se, oxida, seca e o resíduo e a sujidade tomam uma cor cinzenta embaciada, passando com o tempo ao branco sujo até à ferrugem. Em média a mancha negra obtém-se até às primeiras 12 horas, o cinzento indica que o tiro foi disparado dois ou três dias antes e após estes nota-se o cinzento empoeirado, baço.
Nas pólvoras piroxiladas, depende da marca.
Na J há lugar a uma espécie de verniz esverdeado que mancha pouco o dedo, depois transforma-se em verde escuro (10ª hora).
A pólvora T deixa um pozinho quase imperceptível, mas no dia seguinte aparece uma camada de ferrugem avermelhada.
A utilização dos outros tipos de pólvoras o aspecto é variável, recorrendo-se, por isso, às análises químicas.

Três tipos de pólvora segundo o granulado, que se verifica não só nas pólvoras piroxiladas como nas negras.
  
Um outro elemento fornecido pela pólvora tem conexão com a distância do disparo.
As lesões ou ferimentos podem traduzir actos de homicídio, suicídio ou acidente. Nas lesões produzidas por armas de fogo, o diagnóstico assenta sobre a distância a que o tiro foi disparado, sede do ferimento e sentido da trajectória do projéctil.
A análise da tatuagem da pólvora, mais evidente na pólvora negra mas não de desprezar na pólvora piroxilada, verificada num corpo, para além do próprio ferimento em si e situação da arma, indicia que:
— Os resíduos da imperfeição da combustão da pólvora, só se notam com relativa precisão nos disparos de arma de fogo até à distância de 0,75 m;
— Quando o cano da arma fica em contacto com a pele, ficam nesta os sinais de Werkgartner, pequenas escoriações cutâneas de forma irregular, em redor da entrada do projéctil;
— A partir dos 0,75 m não se pode precisar a distância do tiro, pois os sinais do tiro a 0,80 m são iguais para distâncias maiores.
Tanto basta, porém, para distinguir, quase sempre, o suicídio do homicídio.
No homicídio, as lesões provocadas por armas brancas, são frequentemente dispersos, resultante da luta entre o agressor e a vítima, embora dirigidas principalmente à cabeça quando praticadas com armas contundentes e corto-contundentes, ou procurando o tórax e o abdómen, quando com armas corto-perfurantes ou perfurantes.
O suicídio procura atingir regiões vitais de morte rápida, como o coração, o pescoço ou as veias.
A arma na mão ou ao alcance desta é um indício a considerar. Isto, muito em resumo, o que deduzia, posteriormente confirmado pela confissão.


O capítulo de armas de fogo é inesgotável, todavia, porque este não pretende de modo algum ser um tratado, ficamos por aqui… além de que somos absolutamente contrários, como o temos expendido, “que o recurso a pormenores científicos ou de alta tecnologia só será acessível ao autor do caso e um ou outro privilegiado super-cérebro da investigação, detentor de tratados especializados ou utentes de fontes de informação pouco disponíveis ou centralizados”. O saber não tem barreira, o querer ultrapassa-as. Saber raciocinar e ser possuidor de perspicácia é pouco ou nada se não acompanhado por conhecimento. E em matéria técnicas-científicas, policiais ou de medicina legal, em nada se diferencia com o conhecimento da geografia, história, matemática ou filosofia, fazendo parte do desafio intelectual… é, sobretudo, cultura: e não desejamos todos, por vaidade ou paixão, ter uma cultura média-superior? Então?

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