7 de setembro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 251

Efemérides 7 de Setembro
Michael Bracken (1957)
Nasce em Canton, Ohio, EUA. Escritor premiado de policiário e ficção científica, tem 11 livros publicados e mais de 1300 trabalhos curtos, dispersos por 150 publicações. Tem vários contos premiados com o Derringer Award e o conto Dreams Unborn é considerado em 2005 como um dos melhores do ano pelos editores em The Best American Mystery Stories e em 2007 Snowbird, escrito em parceria com Tom Sweeney é classificado no 4º lugar pelo leitores de Ellery Queen's Mystery Magazine's.


TEMA — BREVE HISTÓRIA DA NARRATIVA POLICIÁRIA — 20
Continuação de CALEIDOSCÓPIO 227 (clicar)
A experiência da novela Pelham: or The Adventures of a Gentleman parece ter despertado Lytton para o mundo criminal. Nas suas novelas seguintes, “Paul. Cliford” (1830) o protagonista é um bandido, um cavalheiro elegante que faz lembrar o futuro Raffles ou Lupin, “Night and Morning” (1841) aparece Gawtrey que comete delitos, no fundo é um bom homem; por último “Eugene Aram” que está baseado num facto real. Aram é um erudito e virtuoso, mas acabou condenado e executado por um assassínio cometido catorze anos antes.
Embora a conexão afirmada com narrativas criminais, e como mais um aditivo ao futuro nascimento, sério e coerente da novelística policiária, não pode deixar-se de lado o conhecimento do ideal do autor, um revoltado radicalista, cuja obra, no fundo, pretende demonstrar o espelho de “uma sociedade injusta e uma justiça corrupta ou ignorante”.
No mesmo ano da publicação de “Pelham” em Inglaterra, François Eugène Vidocq, um dos mais complexos e discutidos personagens reais do mundo do crime publica as suas memórias, simplesmente “Memórias de Vidocq”.
A influência de Vidocq, durante a vida e após a morte, sobre os escritores do tema criminal e sobre os autores de narrativas de detectives e simplesmente extraordinária.
Mas, quem foi Vidocq?

“Nasci em Arras: mau grado as constantes viagens, a volubilidade com que me trataram, uma singular aptidão para me estigmatizarem, tendo deixado algumas incertezas acerca da minha idade não será supérfluo, declarar aqui que vim ao mundo a 23 de Julho de 1775. Era de noite: a chuva caia.”
Antes de adolescente, era o terror do bairro, chefe de fila dos rapazes maus. Aos 13 anos aprende a manejar o florete e a espada. Não é bom estudante, mas é um excelente esgrimista. Pouco escrupuloso em questões de dinheiro, leva “umas pratas de empréstimo” e sofre a primeira prisão. Aureolado por esta, as amizades duvidosas vão levá-lo mais longe nas acções condenáveis. Para fugir a uns tantos “pecados” incorpora-se (1791) no regimento de Bourbon. Abusa do êxito feminino e das qualidades de esgrimista (15 duelos vitoriosos).
Ameaçado de comparecer em Conselho de Guerra, deserta e alista-se, sucessivamente, noutros regimentos. Ferido contra os austríacos, regressa a Arras e aproveita o ensejo para seduzir algumas mulheres. Vai parar a prisão. Casa de má vontade para evitar outra prisão, talvez a guilhotina. Foge. Reenverga o uniforme, desta vez sob o nome de Rousseau e, sob este, casa com uma baronesa rica de Bruxelas. Entre riqueza e ruína e um instante.
De volta a França, em Lille, conhece vigaristas e ladrões e alia-se-lhes. É preso, uma, duas, três vezes.
Durante alguns anos, entre prisões e evasões, torna-se a principal figura de aventuras extraordinárias. Já que na prisão aprende como se engana a polícia ou as outras pessoas que pretende assaltar, inclusivamente quando as coisas correm mal, como se consegue fugir, disfarça-se em inspector das prisões, com a cumplicidade da amante e para fugir a trabalhos forçados. Perito na arte, Vidocq maquilha-se e disfarça-se. Assim, enquanto, o oficial verdadeiro procede à inspecção no interior da Torre Saint-Pierre, o seu duplo franqueia com autoridade a saída, nas barbas do carcereiro, que o saúda à porta da prisão.
Depois de alguns meses de liberdade prudente, encontra-se face a face com um agente, atira-lhe pimenta aos olhos e foge. Agora é o Comissário Jackward que envida todos os esforços para a sua captura. Disfarçado atrai o Comissário e os seus agentes a um gabinete onde os deixa fechados.
As vezes que volta à prisão só se podem igualar ao talento com que se escapa.
Denunciado, volta à prisão. Desta vez é espancado à cacetada e mordido pelo cão de guarda. Vidocq, vigiado de perto e à vista não consegue escapar-se e é condenado a 8 anos de trabalhos forçados.
Dos autos consta que “tem 26 anos, tem 6,4 pés de altura, cabelos e sobrancelhas louras, fronte redonda, nariz aquilino e longo, olhos cinzentos, boca média e de través, pescoço largo e alto, cara oval, barba loura, tendo uma cicatriz no lábio superior direito e orelhas curtas”.
É preciso dizer que graças a um curioso processo relacionado com a sua constituição física, possuía a faculdade de reduzir ou aumentar várias polegadas na altura e adaptá-la aos vários disfarces.
Apesar de ligado a outro condenado com uma corrente de ferro e arrastar uma esfera de ferro de 12 libras de peso, que não favorecia os movimentos, Vidocq não desespera, mas as tentativas de fuga fracassam. Um dia, um marinheiro gingão, elegante, sai pela porta da prisão e acende o cachimbo entre portas: é Vidocq. Mas a fuga através da floresta deixa-o doente. Levado ao hospital é reconhecido mas, tão pronto melhora, já está de novo em fuga, disfarçado de freira.
Dirige-se a Paris e junta-se a antigos camaradas da prisão que pretendiam arrastá-lo a novas aventuras. Volta à prisão e à fuga, até que Vidocq pensa rever o seu problema das suas ligações com a sociedade.
Certo dia, perante o tribunal de Lyon, admite ter dado entrada na polícia e ser informador desta, misturado com os malfeitores. Entre estar entre os ladrões e malfeitores e a polícia, sofre prisões, foge e, por fim, vai conseguir uma extraordinária reabilitação: “o valor dos serviços prestados cada dia à sociedade, depurando-a tanto quanto a sua posição lhe permite” leva-o a agente secreto e à promoção para chefia da brigada da Sûreté, da qual será fundador e por muito tempo o único mentor, com um efectivo de cerca de 30 homens.
Vidocq teve êxito porque se revela um condutor de homens extraordinário, impondo a sua presença, conseguindo as mais espectaculares prisões, levadas a cabo graças à sua arte em se disfarçar primorosamente, às expedições mais loucas, correndo grandes perigos frente a malfeitores que não olham a meios desde que se desenvencilhem de polícias incómodos.
À frente da sua brigada, Vidocq revela, durante 27 anos, toda a sua envergadura.
Por dificuldades que começa a sentir com a Administração Central, pede a demissão em 1827, sendo no dia seguinte substituído por Coco-Lacour — como ele, um antigo bandido.
Vidocq vai dedicar-se ao fabrico e venda de papelaria. Fora, aliás, o inventor de um papel impossível de falsificar. Falida a fábrica, abre uma agência de informações, será uma espécie de investigador privado; tem o vírus da polícia no sangue por isso cria a sua própria polícia. O ódio e a vingança na pessoa de agentes da polícia, levam-no invadir o escritório e apossar-se de 3500 pastas confidenciais. É levado a tribunal e absolvido em 3 de Maio de 1838, no entanto a perseguição continua. Vidocq só se abate em 11 de Maio de 1857, vencido pela doença e a morte. Tinha então 82-anos.

Pelo resumo exposto, bem cabem os qualificativos das fontes mais autorizadas:

“Mostrou ser um detective, no verdadeiro sentido que hoje damos à palavra: raciocinando sobre pequenos indícios, deduzia o que se passara, formulou teorias sobre crimes e trabalhou para prová-los convenientemente; na medida em que era uni homem conhecido de muitos pontos da capital, fez enorme uso de disfarces; em suma, criou, como chefe da jovem Sûreté, a tradição”
Fora de portas o biógrafo inglês Philip John Stead, reconheceu poder afirmar sem exagero que Vidocq “foi o primeiro a impressionar a imaginação europeia como detective

As “Memoires”, iniciada a sua publicação em 1828 como se referiu, só terminaram em 1829, ano da publicação da quase esquecida “Der Kaliber — Aus den Papieren eines Kriminalbeamten” (O Calibre – A partir dos documentos de funcionários criminais), do alemão Adolf Muller, que concretamente é uma narrativa de características dedutivas e a que não falta um inspector de polícia. Revela-nos a investigação efectuada por este, sobre o autor do extravio de um objecto de arte de grande valor. Existe um suspeito, indivíduo algo estranho, que é julgado, porém… aqui revela-se a arte dedutiva do inspector.

De estranhar o pouco interesse, quase desprezo mostrado pelo livro, publicado doze anos antes, de Poe, e que tem muito a ver com Poe e o seu estilo.



TEMA — CONTO DE FICÇÃO CIENTÍFICA — O OBJECTO QUE VIAJAVA NO TEMPO
De Frederic Brown
O professor Johnson dirigiu-se com orgulho a seus colegas:
— Isto, senhores, é a primeira máquina de viajar no tempo. Trata-se de um modelo experimental que só funciona com objectos que não excedam os três quilos e durante fracções do tempo passado ou futuro que não ultrapassem 12 minutos.
A máquina parecia um peso de papel, com dois pequenos mostradores no alto.
O professor Johnson mostrou um pequeno cubo metálico:
— Vou começar enviando este objecto para 5 minutos, no futuro.
Acertou um dos mostradores.
— Consultem seus relógios, por favor.
Colocou o cubo em cima da bandeja. O objecto desapareceu — psit! — e tornou a reaparecer 5 minutos mais tarde exactamente.
O professor segurou o objecto na mão, depois acertou o segundo mostrador.
— Vou enviá-lo agora para 5 minutos no passado. Faltam 6 minutos para as 3 horas. Às 3 horas em ponto, colocarei o objecto sobre a plataforma. Por conseguinte, daqui a um minuto ele vai desaparecer da minha mão e reaparecer nesta plataforma, 5 minutos antes.
— Neste caso, observou um dos presentes, como é possível colocá-lo às 3 horas?
— Na realidade, disse o professor, às 3 horas em ponto, quando estender a mão para o colocar ali, ele vai desaparecer da plataforma e tornar a aparecer na minha mão.
Tudo isto aconteceu.
Um outro presente disse:
— Muito interessante. Poderia recomeçar a operação? Bom. O cubo apareceu em cima da bandeja 5 minutos antes de ter sido colocado ali. Mas digamos que o professor mude de ideia e decida não o coloar ali? Não haveria neste caso uma espécie de paradoxo temporal?
— A ideia é engenhosa, meu caro colega, disse o professor Johnson. Vamos experimentá-la. Não houve paradoxo. O cubo permaneceu inalterado. Mas o resto do universo, inclusive o professor e os outros presentes, desapareceram.




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