3 de setembro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 247

Efemérides 3 de Setembro
Sally Benson (1897 – 1972)
Nasce em St. Louis, Missouri, EUA. Argumentista e autora de contos, inicia a sua carreira no New York Morning Telegraph como crítica de cinema; entre 1929 e 1941 publica 1 centena de contos na famosa revista The New Yorker, sob o seu nome ou sob o pseudónimo Esther Evarts. Em 1935 e 1936 ganha o prémio O. Henry pelos seua contos “The Overcoat” e “Suite 2049”. No policiário, e como argumentista, destaca-se o trabalho de Sally Benson na adaptação de um conto de Thornton Wilder para filme Shadow Of A Doubt (1943), um clássico do cinema de suspense, dirigido por Alfred Hitchcock. É um dos filmes preferidos do cineasta, em Portugal tem o título Mentira!



TEMA — CONTO POLICIÁRIO DEDUTIVO — ÁLIBI ACUSADOR
De Joe Doe
O pseudónimo Joe Doe utilizado para assinar este conto é aproveitado por vários autores para publicação dos seus contos em revistas menos cotadas. No caso presente estamos na presença de um bom conto, que merece ampla divulgação.

O Inspector Joe Brady examinou os detalhes do assassinato de Epworth e meneou a cabeça. O dono da casa de penhores fora assassinado nos aposentos que ocupava por cima de sua loja, mais ou menos às nove horas da noite de sexta-feira. O assassino levara todo o dinheiro da vítima, porém havia deixado as balas disparadas por uma arma que poderia ser encontrada, cápsulas vazias, um pacote de cigarros no qual se viam as impressões digitais bem nítidas (bem gordurosas!) e até pegadas!
— Comissário, gostaria de ver este homem, Hype Ruxton, levar uma lição? — indagou. Brady — Ele é o pistoleiro mais frio que existe no ficheiro da polícia. É culpado de mais crimes do que se pode contar. Mas devo admitir que desta vez parece haver uma trama contra ele. Entretanto, parece que seu álibi é indestrutível!
— Agarre-o e interrogue-o — recomendou o comissário. — Talvez ele saiba quem o quis comprometer.
— Há muitos que gostariam de enrascá-lo — exclamou Brady. — Pois não é um sujeito estimado nos anais do crime.
Achar Hype Ruxton foi fácil. Brady só teve de ir ao seu salão de snooker favorito e lá estava ele! Pondo de lado seu taco, Hype fez uma careta e ergueu os braços.
— Não há necessidade, inspector! Eu não uso nenhuma arma desde aquela última vez.
— Não espero encontrar a arma que procuro. Era um ferro-velho que lhe apreendemos há um ano atrás, e que mais tarde desapareceu do oitavo distrito. Imaginei que tivesse encontrado uma maneira de reavê-la. Naturalmente alguém pode ter-se apoderado da arma com a esperança de o poder comprometer um dia.
— O que houve, inspector?
Brady esmiuçou as provas, peça por peça. O caso era incontestável, Hype percebeu como a trama foi feita antes que Brady acabasse de contar.
— Epworth? — gemeu Hype —  O dono da casa de penhores? Liquidaram-no? Há um mês que não vejo Epwprth. Mas eu estava noutro lugar! Quando foi que isto aconteceu, inspector?
— Terá que arranjar um bom álibi entre as oito e as dez horas da noite de sexta-feira para se livrar, Hype. E terá de ser muito bom.
Pela primeira vez, na sua longa prática, o Inspector Brady viu Hype Ruxton estremecer.
— Eu e Tex Lubin estávamos a fazer a ronda nos “dancings” favoritos de Tex — disse Hype. — Tínhamos um negócio para liquidar antes que ele partir para o Sul. Naturalmente, ninguém confiava na palavra de Tex, porque tinha ficha na polícia e por pertencer aquela espécie de gente que quando parte nunca deixa endereço
 — “Okay"”, Hype — exclamou Brady. — Venha connosco! Faremos a mesma ronda que fizeram na sexta-feira. Talvez consiga encontrar uma testemunha nesses lugares que se lembre de tê-lo visto em companhia de Tex Lubin naquela noite!
Brad ficou intrigado, pois Hype aceitou a oferta, porém demonstrou ao mesmo tempo ansiedade. No “Blue Room Taproom”, evidentemente um dos lugares favoritos de Lubin, Hypo segurou a jaqueta do dono do bar, insistindo:
— Você não se lembra de mim? Estive aqui na sexta-feira a noite com Tex Lubin!
— Lamento, senhor, Mas só me lembro que Tex comprou duas cervejas, uma para ele e outra para um homem que estava a fazer uma chamada telefónica. Não sei se o outro homem era o senhor, pois não lhe vi a cara.
Hype estava nervoso quando saiu. Na esquina, junto a um vendedor de cigarros, tentou de novo.
— Eu sou o homem que ficou à espera do lado de fora quando Tex comprou os cigarros. Lembra-se?
— Como é que vou me lembrar de si, se estava lá fora, e eu ocupado a atender clientes?
Outras visitas foram feitas sem melhor resultado. Uma ideia estava-se a formar na cabeça de Brady. Hype tinha seguido aquele caminho. Ele sabia os lugares em que Tex Lubin tinha estado, porém evitara ser reconhecido. Por quê?
Mesmo assim, Hype estava desanimado. Olhou por cima do ombro do polícia uniformizado. Brady saudava o oficial, porém Ruxton falou rapidamente.
— Ouça-me — seu tom era de súplica — você conheceu Tex Lubin, ou melhor, você conhece o Tex. Por conseguinte, deve se lembrar de mim! Eu estava sentado no carro dele quando ele parou para o cumprimentar. Você deve ter me visto.
— Tex diz-me sempre “alô” — declarou Cassidy. — E o carro dele estacionava ali a maioria das vezes. Por que haveria eu de olhar para dentro do carro? Se conhece o Tex tão bem, onde esta ele? Não o tornei a ver desde aquela noite.
As sobrancelhas de Brady soergueram-se. As peças do quebra-cabeças começavam a juntar-se. Tex Lubin era o único homem no mundo que poderia provar o álibi de Hype — e Tex Lubin desaparecera!
Por isto, Hype Ruxton foi preso por causa do assassinato de Epworth, sempre afirmando sua inocência. O Inspector Brady contou a história toda ao comissário.
— Continuo a pensar que alguém quis comprometer Ruxton. Este caso tem todos os indícios de um plano. Estou convencido de que Hype foi passear com Tex Lubin na sexta-feira, conforme afirma. Entretanto, na sexta-feira à noite, Hype Ruxton não queria ser reconhecido! Mas agora, que está desesperadamente a procura de um álibi, espera que alguém o tenha reconhecido e não consegue.
— Por que estaria a tentar não ser reconhecido? — perguntou o comissário, — Visto que a sua única “chance” de escapar agora é encontrar Lubin?
— Nós encontraremos o Lubin. — declarou Brady — Penso que Ruxton afinal deixou escapar o seu segredo. Mais tarde, conto-lhe.
A guarnição da rádio-patrulha de Brady levou três dias para encontrar Tex Lubin trancado no seu carro, no fundo de uma pedreira fora da cidade. Quando o inspector contou isto a Hype o homem perdeu o controlo.
A confissão esclareceu tudo, numa das coincidências mas extraordinárias dos anais da polícia. Hype atraíra Tex Lubin para a morte na mesma noite em que os inimigos de Hype — membros de um “gang” rival — haviam urdido um esquema para o comprometer no assassinato de Epworth! E Hype tinha assassinado o único homem capaz de provar o seu álibi!
A situação na qual se encontrava agora não lhe proporcionava nenhuma defesa possível. Fosse o que fosse que alegasse para livrar-se de um assassinato, provaria que era culpado do outro!
O maior e melhor advogado do mundo não poderia salvar Hype Ruxton desta vez!

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