28 de agosto de 2012

CALEIDOSCÓPIO 241

Efemérides 28 de Agosto
Jack Vance (1916)
John Holbrook Vance nasce em San Francisco, Califórnia, EUA. Autor premiado de fantasia e ficção científica, publica também 11 romances policiários que assina com o seu nome ou sob os pseudónimos Peter Held, Alan Wade e Ellery Queen. O seu romance The Man In The Cage (1960) recebe em 1961o Edgar Award para Best First Novel, porque apesar de ser o 3º livro policiário do autor é o primeiro que assina com John Holbrook Vance.


TEMA — ALGO SOBRENATURAL — CONCLUSÃO E EPÍLOGO DE O DIABO
Existe, na realidade dessa época, uma manifestação favorável à reabilitação do Príncipe das Trevas, após o ligeiro recuo na obra do A. Soumet “Divine Épopée” (1840), onde volta a ser imolado. Em “La Fille du Diable”, poema de 1941-1843, do J. P. Béranger, o Divino chega a derramar uma lágrima ante as súplicas da filha de Satanás em favor do pai; em “Merlin L'Enchanteur” (1869) é o filho que consegue o perdão da diabólica figura; em “La Prière Pour Tous” (1880) é Victor Hugo que intercede pelo Demónio;em “La Pitié Suprême” (1879) fá-lo salvar-se graças ao próprio filho que é igualmente Deus, morrendo em “La Fin de Satan” (1854-1886) para ressurgir como arcanjo que foi.
Escreve-se:
O arcanjo ressuscita e o demónio acaba
Acaba a noite para que dela nada reste
Satanás morreu, renasce Lúcifer celeste.

Outras possibilidades de resgate ou conversão surgem em obras como: “Les Noces de Satan” (1890), de J.Bois, “La Tristesse du Diable” (1866) de Leconte de Lisle, “Crime Amoris” (1873) de Verlaine, “Festus” (1839) de T. S. Bailey, “Satan Absolced” (1899) de W. Blunt. Em contrário, porque o seu egoísmo o faz fracassar nos propósitos de salvação através do amor de uma mulher, em “O Demónio”, de M. Lermontov.

Apesar da persistente obstinação em procurar a libertação, é vã a esperança.
Encontramo-lo no épico poema do M. Rapisardi, “Lucifero” (1877) ligado do novo a Prometeu para livrar a Terra das trevas no drama de R. Dehmel, Lúcifer (1899) chega a ser glorificado como portador da luz e alento dos homens; tem um defensor em Bernard Shaw que em “Man and Superman” (1903) o faz aparecer como o primeiro defensor da soberania do espírito individual.
Em “La Revolte des Anges” (9114), de Anatole France, o demónio, como verdadeiro imérito de truques, provoca uma revolta de anjos pretendendo demonstrar que não quer ser duro com Jeová, remetendo-se à qualidade do oprimido em lugar de opressor. O seu melhor papel, não obstante, revela-se como crítico o satirizador da sociedade, qualidade sobejamente comprovada em “The Mysterious Stranger” (1911), de Mark Twain, e “Tagebuch des Satans” (1920) de Leonid Andraiev.

Desnecessário continuar citações, aliás abundantes, já que, contemporaneamente as bibliotecas podem fornecer elementos de consulta bastante, quanto à temática, nos últimos anos do Século. E, não obstante, de realçar, e isso é por demais evidente na literatura exposta, a preocupação de uma filosofia
de interpretação do personagem, manifestamente pela face mais generosa.
Os céus escurecem…
No fantástico moderno, a força maléfica do Diabo é destrutiva, obsessiva e terrífica. Os demónios aparecem em forma de pensamentos mais secretos, como a projecção do nosso “eu” que inquietante, sinistro e estranho assume a voz do “outro”.
Sou eu, eu mesmo e não tu quem fala… nem por um momento te considero realidade… tu és uma mentira, a minha doença, o meu fantasma… uma alucinação. És o fruto de mim mesmo… és eu só que com outra cara. (Irmãos Karamazov, Fiódor Dostoiévsky).

Em Peter Schlemihl, uma simples sombra, a sombra do demónio,”cada vez mais sinistra”. O terror mais intenso, o da imaginação:
Ela tentou ignorar o ruído, mas acabou por abrir os olhos pesados.
Um grito de pavor, tão aterrador quanto a visão contida na sua frente, brotou-lhe da garganta.
A porta do armário estava escancarada revelando o seu conteúdo macabro, que olhava para ela com olhos de bode a boca aberta num sorriso hediondo era a cabeça do demónio pintada nos murais…

A CONCLUIR:
O universo inteiro é constituído de modo a estabelecer um fosso que separa o bem do mal. Toda e qualquer coisa pertence necessariamente a um destes reinos. Temos assim os elementos opostos por pares, como a luz e a escuridão, os perfumes e o fedor, a saúde e a doença, o prazer e a dor, a vido e a morte, todos e cada um, alinhados nos partidos opostos do BEM e do MAL — assim o disso o teólogo Edward. Langton, por outras palavras.
O homem tem de fazer um esforço para separar esta dualidade nos seus propósitos, porque no mundo do espírito tudo é forma, intenção, movimento, finalidade e plano e, no contexto das realidades, as criaturas livres necessitam escolher diante das alternativas.
Para escolher o BEM é necessário distingui-lo do MAI, a indispensabilidade pois, de um Diabo, lendário, artificial, existente, sobretudo elucidativo, é manifesta, porquanto, como observa Franz Kafka:
Um dos mais eficazes artifícios da sedução do Diabo, é provocar-nos ao seu combate.

A primeira ilação:
O diabo… força de equilíbrio na balança da consciência humana.

Do estudo dos temas de terror fantástico, mil motivos heter‘eL lites se podem alinhar: os fantasmas sinistros que visitam os locais dos seus crimes, almas penadas que não têm repouso, vampiros sedentos de sangue, feiticeiros e magos em pleno poder e usa dos livros mágicos e sinais cabalísticos que tudo transformam, homens-lobo, animais monstruosos, seres disformes, loucos criminosos ou macabros que gozam de poderes extraordinários cadáveres inquietantes, sádicos, morte atroz, etc. nenhum tema, nenhum personagem iguala o estremecimento de terror sobrenatural provocado pela imagem ou sugestão do Diabo.
É um medo que ultrapassa o controlo do imaginado; espasmo horrível que atinge, ao mesmo tempo, o pensamento e o coração.
Num artigo famoso, Freud disse que “unheimlich” (sinistro) é algo que na infância sempre nos foi “heimlich” (íntimo, familiar) e se tornou esquecido mediante o processo de refreamento. Nada menos que alguma coisa em que acreditamos, sentimos, ou de que não tivemos dúvidas nessa época remota do nosso passado — algo como a existência do personagem — alguma coisa que vivemos, tínhamos no nosso “ego” um extracto de consciência nebulosa, tão íntimo, tão desconhecido, a manifestar-se como ameaça a simples invocação do demónio.

A segunda ilação:
A teoria psicanalítica da “origem” imprime ao personagem o lugar privilegiado da literatura de terror…

A terceira e última ilação
O diabo é um protagonista sempre de carácter inconclusivo.


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