24 de agosto de 2012

CALEIDOSCÓPIO 237

Efemérides 24 de Agosto
Earl Derr Biggers (1884 – 1933)
Nasce em Warren, Ohio, EUA. Dramaturgo e romancista, é o criador do célebre Charlie Chan (ver TEMA), série com 6 títulos publicados e com muitas e variadas adaptações à televisão e ao cinema. Na sua bibliografia destacam-se ainda: Seven Keys To Baldpate (1913), Love Insurance (1914), Inside The Lines (1915), (The Agony Column (1916) — ou Second Floor Mystery —, Fifty Candles (1926) e Earl Derr Biggers Tells Ten Stories (1933), um livro de contos. Em Portugal estão editados:
1 – O Camelo Preto (1951) Nº 49 Colecção Vampiro, Livros do Brasil. Título Original: The Black Camel (1929). É o 4º livro da série Charlie Chan.
2 – A Casa Sem Chaves (19??) Nº 58 Colecção Vampiro, Livros do Brasil. Título Original: The House Without A Key (1925). É o 1º livro da série Charlie Chan.
3 – Atrás Da Cortina (19??) Nº 69 Colecção Vampiro, Livros do Brasil. Título Original: Behind That Courtain (1928). É o 3º livro da série Charlie Chan.
4 – O Papagaio Chinês (1994) Nº 566 Colecção Vampiro, Livros do Brasil. Título Original: The Chinese Parrot (1929). É o 2º livro da série Charlie Chan.
5 – O Ladrão De Diamantes (1997) Nº 601 Colecção Vampiro, Livros do Brasil. Título Original: Charlie Chan Carries On (1930). É o 5º livro da série Charlie Chan.
6 – O Enigmático Criado Chinês (1998) Nº 614 Colecção Vampiro, Livros do Brasil. Título Original: Keeper Of The Keys (1932). É o 6º livro da série Charlie Chan.



Robert J. Randisi (1951)
Robert Joseph Randisi nasce em Brooklyn, New York, EUA. Começa a escrever aos 15 anos, vende a primeira obra aos 22 e aos 30 anos dedica-se à escrita em exclusivo. Utilizando mais de 15 pseudónimos diferentes, tem perto de 500 títulos editados, especialmente westerns e policiários de detective privado. É um dos fundadores e editores da Mystery Scene Magazine e também um dos criadores da American Crime Writers League. Em 1981 funda The Private Eye Writers of America que atribui anualmente o Shamus Award.



TEMA — DETECTIVES — CHARLIE CHAN
Tomamos contacto com Charlie Chan no caso da morte de Dan Winterslip, apunhalado na sua rica vivenda de Honolulu. Charlie Chan era então um simples sargento detective da força policial local, que acompanhava o Capitão Hallet, seu chefe directo, ao local do crime.
Nas quentes ilhas do Havai, em que é vulgar os homens serem magros, Chan constituía uma excepção chocante: gordo, as faces bochechudas como as de um bebé bem tratado, a pele parecia marfim, tinha cabelos cortados rentes e olhinhos oblíquos muito vivos, muito expressivos, fulgindo como se as pupilas fossem uns reluzentes botõezinhos negros. Era chinês e uma figura apagada num fato europeu, mas o melhor detective que por ali existia. Bem sucedido em todos os casos de que tomou conta, ganhou fama de Havai a São Francisco.
Via de regra os chineses são bons investigadores; aprendem com facilidade desde o princípio da sua carreira, escondem facilmente as suas emoções, são extremamente psíquicos e sensíveis como nenhum outro povo do mundo. Quanto a gordura no era um factor adverso, pois tinha um andar leve como uma mulher elegante e, no Oriente, a época de Chan, cultivava-se um profundo respeito pela obesidade. De facto, na China, quando um mandarim aumentava de peso, crescia o seu prestígio; no Japão, os lutadores, que são então os heróis do povo; eram enormes. Chan tinha pois, as prorrogativas indispensáveis para o respeito dos seus compatriotas.
Estava nas ilhas há vinte e cinco anos, o seu inglês parecia imperfeito e a voz lembrava um pardal. Apesar da aparente insignificância, havia de chegar a inspector, recompensa — segundo ele — muito além dos seus fracos préstimos. Não é essa, porém, a opinião de Duff da Scotland Yard.
— Não se iluda na situação de Charlie, ele e um pouco mais profundo do que parece. Tem paciência, inteligência, tenacidade; a Scotland Yard não menosprezou todas estas virtudes. O inspector Chan um ornamento para a nossa profissão. É pena que estiole num lugar como Honolulu.
Pai de onze filhos, o mais velho Henry, o elegante, vestido em roupas bem talhadas trabalha num armazém, Rosa a filha mais velha que estuda no continente e tem dela insaciáveis saudades, Evelyne que lhe dera uma gravata de cores berrantes pelo Natal. Barry Kink de cara redonda e olhos pretos que lembram os do pai… e todos os outros filhos eram o seu elo de ligação com o futuro.
Sentia-se orgulhoso de que todos fossem americanos. No entanto reconhecia, ele, Chan, não era americano aos olhos de um americano nem chinês aos olhos de um chinês. Escolhera o caminho e seguira-o. Pouco se importava que muitos homens o houvessem tratado por “chinês”, sabia muito bem que esse termo aplicado a um cavalheiro chinês era um insulto, mas sabia que era por ignorância que assim o tratavam e desculpava.
Amava Honolulu. Estivera na Califórnia e conhecera o deserto quando do “Caso do Papagaio Chinês”, vira neve pela primeira vez na sua viagem para as Serras Nevadas, conhecera o Reno e o lago Tahoe, mas só tinha recordações para as palmeiras sacudidas pelos ventos tropicais e para as ondas que se desmanchavam nas praias.



TEMA — CONTO POLICIÁRIO DE ROBERT BLOCH PARA RECORDAR — O BRACELETE
Uma noite muito quente, mesmo para a Índia, Vickery preparava um gin com o sifão, quando ouviu uma discreta batida no seu quarto de hotel.
— Sarah? — murmurou.
Um homem entrou, rápido e silencioso trancando a porta atrás de si.
— Chamo-me Fenner — disse — sou o marido de Sarah.
Sorriu para Vickery, sentado numa poltrona
— Surpreendido de ver? Sarah também.
Vickery fez menção de se levantar.
— Não se incomode — disse Fenner — Continue onde está.
Sempre sorrindo tirou uma enorme Webley do bolso e apontou-a para a barriga de Vickery.
— Um alvo sentado — disse Vickery — não é uma atitude muito desportiva.
— Ora vejam só quem quer falar de desportivismo, depois do que fez com a minha mulher. O Grande Caçador Branco, hem? Quartos contíguos no hotel e o mais que se segue. Deve ter sido um Safari e tanto.
Vickery suspirou.
— Creio que não adianta negar. Portanto atire e deixe que o enforquem.
— Mas aí é que está a questão. Não pretendo ser enforcado. Por isso não atirarei.
Sempre empunhando a arma, Fenner tacteou o bolso do casaco e tirou uma pequena bolsa de couro. Abriu-a cautelosamente, depois atirou um objecto serpenteante, brilhante e colorido aos pés de Vickery. Parecia um fino bracelete de coral, mas estava vivo.
— É melhor não se mexer — advertiu Fenner em voz baixa — Sim, é uma “krait” . A cobra mais venenosa que há no mundo, segundo dizem.
— Fenner, escute…
O fino bracelete de coral repentinamente desenroscou-se. Antes de Vickery poder recuar, um relâmpago colorido atacou-o. Por duas ou três vezes a “krait” enterrou os dentes na perna direita de Vickery através da fazenda fina das calças.
Vickery reteve a respiração e fechou os olhos, sem fazer um movimento para esmagar a cobra. Repentinamente o animal encolheu-se e tornou a enroscar-se no centro do tapete.
Fenner enxugou a testa e levantou-se. Largou a arma em cima da mesa.
— Vou deixar isto — disse — Talvez deseje usá-la. Dizem que em menos de dez minutos…
Vickery soltou uma gargalhada.
— Fenner é um novato…
— Não compreendo!
— Um garoto da rua vende-lhe uma serpente de jardim inofensiva e você acredita que comprou uma “krait”. Tal como acreditou na palavra de uma mulher ciumenta que o fez acreditar que estava a viver uma aventura comigo. Acontece apenas que ela ficou ofendida porque eu não quis saber.
E com outra risada:
— Admito que tal declaração nada tenha de galante…
— Não está à espera que engula isso, ou espera?
— Como quiser — Vickery sacudiu a mão — Oh, não se vá embora. Sente-se e tome qualquer coisa comigo. Não vai acontecer nada…verá.
E nada aconteceu. Fenner tornou a bebida que lhe foi oferecida e após uma breve conversa com Vickery acabou convencido de que o seu rival era tão inofensivo e inocente quanto a cobra que se achava enroscada sobre o tapete.
Ao sair desculpou-se sinceramente por tudo. Embarcara a esposa primeiro avião para Londres e pensava segui-la na manhã seguinte.
Vickery desejou-lhe boa viagem.
— Leve a sua arma — disse. — E a cobra também. Não se dê ao trabalho de a colocar na bolsa de couro. Guarde-a no bolso, simplesmente. As cobras adoram o calor e o contacto do corpo humano.
Depois de Fenner sair para o quarto ao lado, anteriormente ocupado esposa. Vickery continuou com os preparativos para se deitar. Tinha a mente absorta em cálculos matemáticos. Quantas horas decorriam até Sarah chegar a Londres poder comunicar com ela pelo telefone? Qual era o montante da fortuna do marido, segundo ela mesmo o informara? E quanto tempo levaria a “krait” para se mexer, incomodada, no bolso de Fenner, mordendo-lhe através da roupa a carne adiposa?
A resposta a esta última pergunta lhe veio rapidamente. Vickery ouviu o homem gritar através da fina parede que o separava do quarto ao lado — exactamente no instante em que se sentava na cama para afrouxar as correias que lhe prendiam a perna artificial.


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