7 de maio de 2012

CALEIDOSCÓPIO 128

EFEMÉRIDES – Dia 7 de Maio
A. E. W. Mason (1865 - 1948)
Alfred Edward Woodley Mason nasce em Everleigh Dulwich Londres. Político e escritor é autor de short stories e romances de aventuras e policiários: publica no total 30 romances e 4 livros de colectâneas de contos. A. E. W. Mason cria o Inspector Gabriel Hanaud um polícia francês considerado como um dos maiores detectives de ficção e que parece ter influenciado a criação de Hercule Poiroit  O Inspector Hanaud é a personagem central de At The Villa Rose (1910) The House of The Arrow (1924) The Prisoner in The Opal (1928) They Wouldn't Be Chessmen (1934)  The House In Lordship Lane (1946) e do livro de contos Inspector Hanaud Investigates (1931).
TEMA — SOBRENATURAL — O LOBISOMEM
Lobisomem ou Homem lobo também conhecido como licantropo é um ser comum, porém dotado da particularidade específica de durante três dias de cada vinte e oito se transformar numa criatura peluda, de fome voraz e considerado agressivo. Esses três dias correspondem ao ciclo da lua cheia, durante os restantes não é dado a pactos satânicos ou outros rituais, em regra reconhecem-lhe os bons instintos no entanto são proverbiais a sua tristeza e vontade de morrer para assim por fim ao seu destino. É desconhecida a origem da licantropia ainda que muito estudada e desde há muito tempo.
Não existe nenhuma cultura que não tenha casos destes, além de outros, como os que tomam a forma de raposas, leopardos, tigres e até cobras. Desde o raiar da pré--história, o homem tem-se frequentemente enfeitado com peles de animais selvagens, como parte da sua preparação para a luta, esperando que a ferocidade do animal lhe seja por este meio transmitida. Na Idade Média, bandos enormes de pedintes e de ladrões deambulavam pelos campos, à noite, vestidos muitas vezes com peles de lobo, e uivando como animais de rapina. Mesmo no nosso, tempo, basta lembrar-nos do brutal regimento de lobisomens de Hitler, ou mesmo das recentes atrocidades dos homens-leão no Congo. Nalguns homens, a aparência da civilização desfaz--se muito rapidamente.
Os psicólogos reconhecem a existência de uma psicose (licantropia ou licomania) que leva o homem angustiado a acreditar que se transforma em lobo, na lua cheia. O homem perturbado pode mesmo sentir o pêlo a crescer-lhe no corpo; pode ver as unhas transformarem-se em garras, o queixo afunilar-se e os dentes caninos brilharem pontiagudos na boca. Quando em histeria assassina, ele percorre as ruas da cidade, o campo ou os parques públicos, atirando-se sobre as suas vítimas, que rasga, morde, assalta e, por vezes, mata. Chega mesmo a imaginar que corre em matilha, sendo ele sempre o chefe.
Alguns outros são de opinião que a psicose da licantropia pode produzir alterações físicas drásticas no aspecto naqueles que com ela se iludem. É que o lobisomem não perde todas as suas características humanas. Nunca ninguém referiu que usasse cauda; as mãos, embora peludas e com garras, nunca se transformam em patas; o, rosto torna-se mais parecido com o do macaco, ou do homem Neandertal, do que com o do lobo.
Muitos cientistas continuam estupefactos com as transformações incríveis que se podem produzir nas células humanas por uma concentração intensa, ou auto-sugestão. Defeitos, excessos de gordura e verrugas têm desaparecido pela força do espírito. Podem aparecer pústulas e cicatrizarem-se feridas pela prática da auto-sugestão, ou hipnose. À luz destas demonstrações, não parece ser demais acreditar que uma auto-sugestão intensa possa conduzir às alterações físicas do lobisomem.
Por outro lado, indivíduos que já se transformaram em lobisomens, afirmam que existe um ritual que geralmente serve, de prelúdio à licantropia. Coisas como beber água na pegada de um lobo, ou comer os seus miolos, ou mesmo, dormir no seu covil são passos aconselhados. Depois, também, muitos lobisomens mencionam o uso do cinto mágico que usam entre pernas, ou um bálsamo mágico que aplicam literalmente no corpo. Outros preferem inalar o cheiro das misteriosas bocas-de-lobo, ou beber poções secretas. Todas estas práticas, quando seguidas por um futuro licantropo, deverão certamente aumentar a força da auto-sugestão — e a terrível praga dos lobisomens.
A História não é fértil. E compreende-se porquê em casos desta natureza. Cabe-nos referenciar alguns.
O famoso caso de Gilles Garnier, um lobisomem executado em Dole em 1573, vem descrito num documento judicial, onde Gilles confessa livremente os seus crimes. Pouco depois da festa de São Miguel, Garnier tendo assumido a forma de lobo agarrou uma menina de 10 anos que andava numa vinha… e matou-a com ambas as mãos, semelhantes a patas, e com os dentes… levou parte da, carne para casa para a mulher…
Oito dias depois, logo a seguir à Festa de Todos os Santos, Garnier atacou outra jovem perto do mesmo local. Matou-a, rasgando-lhe o corpo e ferindo-a em vários sítios, com as mãos e os dentes, com intenção, de lhe comer a carne, não tivesse sido,descoberto por três pessoas.
Sete dias depois, o homem-lobo apanhou mais outra criança, desta vez um rapaz de 10 anos.
O tribunal, nauseado, continuava assim o relato: Mais tarde ainda, na sexta-feira anterior à Festa de São Bartolomeu, apanhou um rapaz de doze ou treze anos debaixo de uma pereira… se não tivesse sido descoberto e apanhado, teria comido a carne do dito rapaz, mesmo apesar de ser numa sexta-feira. Confessou livremente o seu acto.
Devido aos crimes hediondos livremente confessados por Garnier, o tribunal decretou a execução.
No mesmo ano, alguns caçadores apanharam dois lobos que devoravam o corpo de um rapaz de 15 anos. Os homens, bem armados, lançaram-se na perseguição dos animais, ficando espantados por finalmente descobrirem uma figura medonha, uma criatura, enorme de aspecto humano com cabelo comprido e embaraçado, meio vestida com farrapos imundos, as mãos tintas do sangue fresco, as unhas compridas coaguladas com pedaços de carne humana fresca.
A odiosa criatura identificou-se depois como sendo um vagabundo de nome Jacques Roulet que, juntamente com um irmão e um primo, vagueavam sem destino de terra em terra. Confessou no tribunal terem um bálsamo que lhes permitia tomarem a forma de lobos. Mais tarde admitiu ter atacado, morto e comido muitas crianças, em vários pontos do país.
Em 1584, um lobisomem atacou uma garota numa aldeia situada nas Montanhas do Jura. Quando o irmão de dezasseis anos veio em seu auxílio, o lobisomem atirou-se ao rapaz, matando-o. Os aldeões enraivecidos, ao ouvirem os gritos, atiraram-se ao lobisomem, acabando por o matar também. Estupefactos, viram no entanto aquela figura grotesca transformar-se no corpo de uma rapariga que reconheceram depois ser Pernette Gandillon.
Um inquérito oficial levou à prisão de toda a família, que parecia sofrer da psicose da licomania, servindo-se de uma estranha auto-hipnose Caminhavam como quadrúpedes uivavam como animais selvagens. Perdiam toda a semelhança com os homens. Ficavam com os olhos vermelhos e brilhantes; cobriam-se de pêlo; os dentes cresciam e afiavam-se-lhes; as unhas tornavam-se córneas e semelhantes a garras. Boguet (jurista e juiz) não era nenhum ingénuo. Aliás, as suas observações podem ser confirmadas por outros relatos bem documentados sobre os lobisomens em França.
Em 1610, Pierre de Lancré, um juiz muito conhecido em Bordéus, foi, pessoalmente, visitar o Mosteiro de Cordeliers, a fim de conhecer um lobisomem que há sete anos tinha sido metido numa cela do convento. O lobisomem, Jean Grenier, tinha atacado várias pessoas. Testemunhas oculares tinham deposto que Grenier quando atacava, tomava mesmo a forma de um lobo. Lancré, na sua obra A Inconstância (Tableau de l'inconstance des mauvais anges et démons) de 1612, descreve Grenier como possuindo brilho, olhos encovadas, unhas longas e negras e dentes pontiagudas e salientes. Segundo o jurista, o homem-lobo caminhava com muito mais à vontade quando quadrúpede. O próprio Grenier confessava abertamente ter sido lobisomem. Ainda gosto de carne humana, confessou ao atónito juiz, sobretudo quando ela é de meninas. Espera não ter ainda, que aguardar muito tempo, até poder voltar a saborear essa carne tão gostosa.
No período de 1764-1765, toda a França viveu sob o terror de um enorme lobisomem que acabou por ser conhecido como a besta de Gevaudan. Esta terá assassinado para cima de 100 pessoas, tendo sido vista por centenas de testemunhas. Foi para lá destacada uma companhia com o objectivo de capturar e matar a criatura, mas nem ela a conseguiu acossar.
Muito recentemente Larry Talbot (personagem de ficção) conhecido homem-lobo norte-americano foi submetido a uma intervenção denominada craneoplastia descompressiva que consiste na substituição da caixa craniana óssea natural por outra feita à base de silicone e materiais inertes com resultados positivos — que se saiba nunca mais voltou a ter a terrível crise mensal.
Terá aí sido encontrada a solução? É que o homem continua a ser o lobo do homem.
M. Constantino

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