6 de maio de 2012

CALEIDOSCÓPIO 127

EFEMÉRIDES – Dia 6 de Maio
Gaston Leroux (1868 – 1927)
Gaston Louis Alfred Leroux nasce no nº 66 da Rue du Faubourg-Saint-Martin em Paris. É considerado como o romancista francês mais famoso pelos livros policiários e de fantástico. Publica a primeira novela Le Petit Marchand de Pommes de Terre Frites, em 1887 no jornal La Republique Française. O escritor cria o personagem Joseph Rouletabille, um ás no método dedutivo, que surge pela primeira vez no Le Mystère de la Chambre JauneLes Aventures extraordinaires de Joseph Rouletabille reporter) e é a figura central de 8 livros do escritor Le Mystère de la Chambre Jaune é publicado em 1907 num suplemento literário é editado em livro em 1908, é considerado uma obra-prima e uma das primeiras referências no mistério de quarto fechado. O escritor, em 1913, cria a série Chéri-Bibi — com 5 títulos e escreve mais 26 romances e várias short stories na mesma linha narrativa. O romance mais conhecido de Leroux é Le Fantôme de l’ Opéra (1910) inspirado em factos reais e que é adaptado ao cinema por 9 vezes, a diversos musicais ao teatro e a banda desenhada. Outras obras do autor foram também adaptadas ao teatro, televisão e cinema. Em Portugal o autor tem algumas obras publicadas. O Fantasma da Ópera, O Mistério do Quarto Amarelo e O Perfume da Dama de Negro (o 2º livro de Rouletabille) têm várias edições de diferentes editoras. Destes últimos livros, como curiosidade listam-se as primeiras publicações que datam do início do século passado e as publicações mais recentes agora à venda.
1 – O Mistério da Alcôva Amarella (1909), Tradução de Manoel Ribeiro, Livraria Editora Guimarães; Lisboa. Título Original: Le Mystère De La Chambre Jaune (1907)
2 – O Perfume da Dama de Negro: aventuras extraordinárias do repórter Rebolabola (1909), Tradução de Manoel Ribeiro, Livraria Editora Guimarães; Lisboa. Título Original: Le Parfum de la Dame En Noir (1908)
3 – A Nova Aurora: Chéri-Beri (1922), Empresa Diário de Notícias
4 – A Vencedor da Morte (1923), Empresa Diário de Notícias
5 – A Poltrona Maldita (1991), Nº115 Colecção Livros de Bolso, Série Clube do Crime, Publicações Europa-América. Título Original: Le Fauteil Hanté (1909)
6 – O Perfume da Dama de Negro (1991), Nº119 Colecção Livros de Bolso, Série Clube do Crime, Publicações Europa-América. Título Original: Le Parfum de la Dame En Noir (1908)
7 – O Fantasma da Ópera (2007) Bico de Pena. Título Original: Le Fantôme de l’ Opéra (1910)
8 – O Mistério do Quarto Amarelo (2007), Crime Imperfeito, Relógio d'Água. Título Original: Le Mystère De La Chambre Jaune (1907)
Margaret Cole (1893 – 1980)
Margaret Isabel Postgate Cole nasce em Cambridge, Inglaterra. Professora, historiadora, analista política e escritora, autora de obras de conteúdo sócio-político e biografias. Em conjunto com o marido G. D. H. Cole escreve 30 romances policiários e 7 livros de colectâneas de contos com os personagens Everard Blatchington, Dr. Benjamin Tancred, Superintendente Henry Wilson, tendo, geralmente, como pano de fundo meios universitários ou mansões rurais onde se movimentam classes sócias altas. O primeiro livro publicado é The Death of a Millionaire (1925) e o último Birthday Gifts (1946). Margaret Cole é irmã do escritor policiário Raymond Postgate

Jeffery Deaver (1950)
Jeffery Wilds Deaver nasce em Glen Ellyn, Illinois, EAU. Ex-advogado, ex-jornalista e ex-cantor de música folk é actualmente um dos escritores com mais vendas em todo o mundo; os seus livros estão traduzidos em 25 idiomas e são vendidos em 150 países, incluindo Portugal. Jeffery Deaver inicia a sua carreira literária com o primeiro livro da trilogia Rune Manhattan Is My Beat (1988) e até hoje é autor de 27 thrillers, 2 colectâneas de contos e um livro sobre Direito; tem o próximo livro — XO— agendado para Junho deste ano. Cria as séries Lincoln Rhyme, Kathryn Dance e John Pellam e é o autor escolhido pelas publicações Iam Fleming para escrever o livro mais recente sobre James Bond, Carte Blanche (2011). Jeffery Deaver para tem várias obras adaptadas a filme e tem sido distinguido com uma longa lista de nomeações e prémios literários. Em Portugal estão editados:
1 – A Lágrima do Diabo (1984-2004) 35º Volume, Livros Condensados, Selecções do Reader's Digest. Título Original: The Devil’s Teardrop (1999)
2 – A Caldeira Vazia (1984-2004) 43º Volume, Livros Condensados, Selecções do Reader's Digest. Título Original: The Empty Chair (2000) 3º livro da série Lincoln Rhyme
3 – O Macaco de Pedra (1984-2004) 53º Volume, Livros Condensados, Selecções do Reader's Digest. Título Original: The Stone Monkey (2002) 4º livro da série Lincoln Rhyme
4 – Sono Misericordioso (2002) Nº8 Colecção Vício da Leitura Ulisseia Editores. Título Original: Praying For Sleep (1994)
5 – O Azul Algures (2006) Colecção Vício da Leitura Ulisseia Editores. Título Original: The Blue Nowhere (2001)
6 – A Décima Segunda Carta (2007) Nº96 Colecção Selecções do Livro, Selecções do Reader's Digest. Título Original: The Twelfth Card (2005) 6º livro da série Lincoln Rhyme
7 – O Coleccionador De Ossos (2008) Editora Pena Perfeita. Título Original: The Bone Collector (1997) 1º livro da série Lincoln Rhyme premiado com o Nero Wolfe Award 1999
8 – Carta Branca (2012) Porto Editora. Título Original: Carte Blanche (2011).
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TEMA — BREVE HISTÓRIA DA NARRATIVA POLICIÁRIA — 11
(continuação de CALEIDOSCÓPIO 123)
Em Oliver Twist, de Charles Dickens assistimos à história-imagem de mestre Walton, um malfeitor que teria vivido em 1855 e que dirigia — calcule-se! — uma escola de jovens ladrões.

… aproveitando a ausência do Matreiro e de mestre Bates, que tinha saído para as suas ocupações habituais, Fagin fez um longo sermão a Oliver sobre o pecado da ingratidão e, durante um dia e grande parte dos seguintes, Oliver não viu ninguém. Desde manhã até à noite era deixado sozinho e meditava temeroso, no que pensariam de si os seus amigos… oito dias após o seu regresso o judeu achou não ser necessário manter Oliver fechado e deixou-o andar livremente pela casa.
— Parece que não sabes qual é o nosso trabalho — disse o Matreiro, com um suspiro de compaixão.
— Creio que sim — respondeu Oliver. — Vocês roubam, não é verdade?
— Isso mesmo, e tenho muito orgulho — retorquiu o Matreiro. — Nem queria fazer outra coisa. Sim, sou um ladrão, assim como Charlot, Fagin, Sikes, Nancy e Betsy; todos o somos, até o cão! Ele é o que mais se esforça!
Não foste educado convenientemente — continuou. — Fagin fará qualquer coisa por ti…  ou serás o primeiro a não beneficiar nada em estar nas suas mãos. E seria melhor começar já o trabalho pois esse será o teu futuro, não tenhas dúvidas.
Mestre Bates apoiou este conselho com várias reflexões morais, depois do que, juntamente com Dawkins, começou a enumerar as vantagens que, normalmente, acompanhavam o género de vida que levavam, dando a entender a Oliver que o melhor que tinha afazer era ganhar as boas graças de Fangin usando os mesmos processos que elas próprias tinham utilizado, para as merecer.

Depois de acabarem de comer, o prazenteiro ancião e os dois rapazes jogaram um jogo tão curioso como invulgar. O primeiro pôs uma tabaqueira numa algibeira das calças e uma carteira na outra; no bolso do colete um relógio com uma corrente de segurança que passou em volta do pescoço; espetou na camisa um alfinete com um diamante falso e abotoou o casaco nos bolsos da sobrecasaca, começou a passear pelo quarto, com uma bengala na mão, tal como os cavalheiros respeitáveis que vemos nas ruas todos os dias. Parava ora em frente da porta, fingindo admirar os artigos expostos nas montras das lojas. Por vezes, olhava à sua volta e apalpava os bolsos para se assegurar de que não fora roubado; e fazia-o com tanta naturalidade que Oliver ria-se até as lágrimas lhe caírem. Durante todo este tempo, os dois rapazes seguiam-no de perto, evitando tão agilmente o seu olhar cada vez que ele se voltava, que era impossível seguir-lhes os movimentos. Em dado momento, Matreiro andava mesmo atrás dele enquanto Charlot lhe dava um encontrão, e, nesse mesmo instante, subtraíram-lhe num ápice e com uma destreza impressionante, tabaqueira, relógio, carteira, corrente de segurança, alfinete, lenço e estojo de óculos. Se o velho sentia uma mão numa das algibeiras, dizia em qual e o jogo recomeçava.

— Pronto, amigo, este não é um modo agradável de viver? — disse Fangin. — Ei-los livres o resto do dia
— Já acabaram de trabalhar, senhor? — perguntou Oliver.
— Sim. — retorquiu o Judeu — a não ser que se lhes depare uma boa oportunidade; se isso acontecer, não a desperdiçarão, podes ter a certeza. Toma-os como exemplo! Faz tudo o que te disserem e consulta-os em tudo, principalmente ao Matreiro. Ele será um grande homem, e tu serás como ele, se o tomares como exemplo. O meu lenço está a sair da algibeira, amigo? — perguntou, parando de repente.
— Sim, senhor. — respondeu Oliver. — Então, tenta tirar-mo sem eu dar por isso, como os viste fazer, quando nos divertíamos esta manhã.
Oliver segurou o fundo do bolso com uma mão, tal como vira o Matreiro fazer, e com a outra tirou habilmente o lenço.
— Já está? — perguntou o Judeu.
— Ei-lo, senhor — disse Oliver, mostrando-lho.
— És um rapaz esperto, meu amigo! — disse o jovial ancião. — Nunca vi ninguém tão hábil. Toma lá um xelim para ti. Se continuares assim, serás o maior homem da época. Agora, vou ensinar-te a desmarcar lenços.


TEMA — DIÁRIO DE UM ADVOGADO — MATAR POR PREGUIÇA
Fui mexer nuns papéis guardados na pasta central. Há sempre neles, na confusão dos assuntos que se misturam e às vezes parece até que se engalfinham, um grande interesse. Quase sempre por instinto são guardados esses papéis. Ora recortes de jornais, ora cartas, tudo isso lido apressadamente e por isso mesmo depositado na pasta central justamente para ser relido em ambiente de atenção.
Matou para não trabalhar, diz o recorte. É a história verídica de um homem, em São Paulo que para ter a sua subsistência assegurada praticou um crime. Achou a vida muito complicada, diz a notícia.
Não quis furtar, porque o crime contra o património lhe propiciaria poucos anos de prisão. Preferiu praticar o homicídio, por que dessa forma poderia ter cama e mesa durante longos anos… Essa notícia é terrível. Notadamente para os penitenciaristas tão preocupados na humanização da pena, na racionalização da pena, na pena de reeducação, na prisão aberta.
Enquanto o homem comum enquadrado na coexistência, que sabe Deus como sustenta família e tenta educar os filhos, verificar que praticando um crime transfere para o Estado o problema da sua sustentação e para os parentes e amigos e, possivelmente advogados, a prebenda da "solução" do seu problema, sem que lhe seja imposta sequer a obrigação de prover ao próprio sustento no cárcere, tudo pode acontecer de contraditório. Um homicídiozinho como forma prática de passar as férias no cárcere.

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