29 de abril de 2012

CALEIDOSCÓPIO 120

EFEMÉRIDES – Dia 29 de Abril
Ron Roy (1940)
Wallace Ronald “Ron” Roy nasce em Hartford, Connecticut, EUA. Autor de livros para crianças e jovens. A primeira série, A to Z Mysteries, tem 26 títulos, começa com The Absent Author (1997) e termina com The Zombie Zone; a série segue as aventuras de 3 detectives de 9 anos, que vivem na cidade imaginária de Green Lawn. A segunda série de mistério para crianças é Capital Mysteries, com 14 títulos publicados entre 2001 e 2011, onde os detectives amadores, e melhores amigos, KC Corcoran e Marshall Li resolvem mistérios que se passam em monumentos de Washington. Uma outra série A to Z Mysteries Super Edition tem 5 livros editados. O autor tem vindo a publicar, para crianças mais pequenas, a série Calender Mysteries, que começou em 2009 com January Joker e com dois livros agendados para este ano: July Jitters e August Acrobat. Na mesma linha de mistério juvenil o Ron Roy tem 6 livros editados na década de 80.
 
TEMA — ENTREVISTA — CRIMINOSO… PORQUÊ?
Uma entrevista ingénua feita em 1948 e publicada na revista Flama.
Não conhecem o Gouxa, certamente, mas dizemos-lhes que, na nossa região, para lá do Tejo, este escasso palmo e meio de homem enrugado, moreno, de olhar vivo e inquieto, que é o nosso entrevistado de hoje, e temos na nossa frente, deu que falar… e de que maneira!
Ladrão emérito. Um metro e cinquenta e poucos centímetros de nervos voluntariosos, tem passado quase toda a sua vida, transitando do calabouço para o Sol, no Inverno, para uma sombra acolhedora no Verão. À noite dorme sobre um monte de palha abandonada nalguma eira, visitando nos intervalos o pomar mais próximo, ou o galinheiro vizinho, para levar a passeio, o galináceo preferido… mas não mais do que um.
Delinquente por natureza (?), este homem é uma espécie de dignidade. É amigo do seu amigo. Cultiva dentro de si o sentimento de gratidão.
Recordamos que a nossa casa tem um pátio largo, grande, onde os animais e as aves domésticas andam à solta. Duas oliveiras de ramadas enormes, ao centro, prestam-se a que os serviçais pendurem nelas os sacos dos almoços. Objectos agrícolas andam por aqui e por ali, abandonados. O Gouxa aparece, quando não está hospedado na cadeia da vila, para comer o que os trabalhadores e os meus pais lhe oferecem. Acreditem, nunca demos porque levasse a mais pequena coisa, apesar de os portões se encontrarem abertos dia e noite.
Trata todos por tu e por primo. É interessante e anedótico, o episódio dos baldes. Contemos:
Um dia desapareceram na vila diversos baldes dos usados para tirar a água dos poços. Suspeitou-se do Gouxa. Uma visita de surpresa a uma eira, e eis o nosso entrevistado e os baldes diante do chefe da polícia local.
— Ouve lá, para que querias tu os baldes, Gouxa?
— Bem, eu…
— Está bem. Diz-me lá de quem é este?
— Olhe, esse é do primo Bernardino.
— E este, também tem dono?
— Esse é do primo Geifão.
— E este?
— Esse?! Parece mentira, primo chefe, então já não conhece a prata da casa?
O balde fora levado do poço do posto policial.

Conhecem superficialmente o Gouxa. Saibam que o encontrámos e daí a ideia desta conversa, ligada pelos intervenientes e pelas letras, ao meio policiário.
— Gouxa, queres responder a uma entrevista para o jornal?
— Tem fotografia? Não? bem… Mas não faças perguntas com’o juiz.
— Não. Diz-nos, tu nunca trabalhaste?
— Trabalhei, mas deixei-me disso. Sabes, andavam sempre a puxar por mim, por ser pequeno os grandalhões queriam sempre deixar-me para trás, e eu tinha genica…
— Mas como deste nesta vida, homem?
— Não ‘tejas a chamar-me rapinante… são coisas… Tens aí um cigarro?
— Tenho, toma. E agora escuta. Dizem os técnicos, os grandes cabeças como tu lhes chamas, que os filmes de violência e os livros policiais contribuem muito para a formação criminosa. Que dizes tu?
— Bem. Eu não percebo lá muito bem, mas eu… bem, nunca fui ao cinema e não sei ler.
— Então a que atribuis a delinquência?
— Delin… quê?
— Delinquência. O crime, o roubo…
— Ah! Sim. Isso é obra da necessidade, das companhias, disto… (e fez um gesto vago).
— Queres tu dizer do meio ambiente? Sim, é uma ideia. Obrigado Gouxa, queres mais um cigarro?
Procurámos pelos bolsos o maço de cigarros, admirados e atrapalhados. O Gouxa sorriu apenas com os dois únicos dentes da frente, e retorquiu-me.
— Obrigada, primo Mário. Já aqui tenho.
Eram os nossos cigarros e fósforos que ele tirava sorridente da blusa incolor e esfarrapada.
M. Constantino


TEMA — DESAFIO — A MÃE DESCOBRE
Um adolescente estava autorizado pelos pais a ir ao cinema com os amigos, contudo deveria regressar a casa logo após sair do cinema, isto é, próximo da meia-noite. Os pais confiavam no filho e deitaram-se descansados.
Ao sair do espectáculo verificou que era cedo para ir para casa e entrou num bar com os amigos. Apenas bebeu uma garrafa de água com gás mas divertiu-se bastante.
Quando regresso já de madrugada não fez o menor barulho: entrou «, descalçou os sapatos colocando-os sobre o jornal matutino e sem abrir a luz, à simples claridade do isqueiro, esgueirou-se para o quarto no andar de cima. Ninguém o viu ou ouviu chegar.
De manhã, ao pequeno almoço, o pai ainda estava na casa de banho, a mãe perguntou-lhe a que horas chegara a casa.
— Meia-noite. — respondeu prontamente.
Todavia a mãe sabia que tinha chegado muito mais tarde. Porquê?

Basta um pouco de atenção, para responder ao “porquê”.

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