20 de abril de 2012

CALEIDOSCÓPIO 111

EFEMÉRIDES – Dia 20 de Abril1841
The Murders In The Rue Morgue
é publicado pela primeira vez na Graham’s Magazine, uma revista literária de Filadélfia. The Murders In The Rue Morgue de Eggar Allan Poe é um marco na literatura policiária actual e é um dos exemplos mais famosos de mistério em quarto fechado. A investigação de um duplo assassínio na Rua Morgue em Paris é um desafio para Auguste Dupin que investiga o crime e também para o leitor.



TEMA — O PERSONAGEM — C. AUGUSTE DUPINAssinada por Edgar Allan Poe, numa novela intitulada The Murders in the Rue Morgue aparece pela primeira vez aquele que havia de ser considerado como o primeiro detective da Era Moderna, pai e fundador da enorme dinastia de investigadores de todas as classes: C. Auguste Dupin.
Dupin pertencia a uma excelente e ilustre, mas arruinada família, devido a uma série de acontecimentos desastrosos. Vivia, deste modo, com rigorosa economia, reduzido que estava às rendas de um pequeno património que a benevolência dos credores lhe deixara. Havia, aliás, perdido todo o interesse em reconstruir a fortuna perdida, e alheara – se, igualmente, da vida social.
A atracção pelos livros proporcionara o encontro, num gabinete de leitura da rua Montmartre com aquele que viria a ser seu amigo e biógrafo-narrador.
Vivia (viviam os dois) numa casa retirada e solitária, quase em ruínas, nos arredores de Saint-Germain, mais exactamente na rua Dunot, 33-3º da cidade de Paris, que o referenciado narrador se encarregaria de arrendar e mobilar, em completa reclusão, quais loucos inofensivos, quebrada por um ou outro dos raros visitantes.
Era um homem de modos distraídos por vezes glaciais, olhos fitando o vazio, uma rica voz de tenor, talvez um tanto petulante, cujas originalidades, compartilhadas voluntariamente com o já citado amigo, correspondiam a:
— Uma rara paixão pela leitura;
— Um estranho prazer pela escuridão: de dia fechavam as janelas da casa e à luz débil de duas velas perfumadas, liam e conversavam; de noite saíam e, de braço dado, passeavam pelas ruas da cidade: Rua C, passagem Lamartine, Bairro Saint-Roche, margens do Sena, etc.;
— Uma extraordinária aptidão analítica, que exercia com verdadeira delícia; afirmava mesmo, com um risinho desabrochado que as pessoas tinham, por ele, uma janela no coração;
— Consumado poder de observação.
As suas máximas sobre o poder de observação podiam, na verdade, constituir o prólogo de um manual sobre a matéria:
— Observar atentamente, e lembrar distintamente;
— Pela maneira de levantar uma vaga, se adivinha se a pessoa pode fazer outra;
— O embaraço, a excitação, a vivacidade, a trepidação são sintomas ou diagnóstico;
— Percepção instintiva que explicava um estado.
Os super poderes de observação e análise fazem dele um investigador nato. Basta-lhe a leitura dos jornais, ou escutar o relato de algumas testemunhas, para que o seu cérebro super privilegiado ex traia conclusões exactas.
Curiosamente, Auguste Dupin não tem uma opinião muito lisonjeira sobre a Polícia. Critica:
Vidoc era bom para adivinhar: era um homem de paciência, mas não estando o seu pensamento suficientemente educado, fazia constantemente caminho errado, devido ao próprio ardor das suas investigações. Diminuía a força da visão por fitar o objecto de muito perto. Podia ver talvez um ou dois pontos com uma nitidez singular mas, devido ao seu processo, perdia o aspecto do caso tomado no seu conjunto.
Na presença do Sr.G., o perfeito da Polícia de Paris, e aludindo a esta diz:
A Policia parisiense, tão elogiada pela sua penetração, é muito astuciosa, nada mais. Procede sem método. Os seus agentes são perseverantes engenhosos, espertos e possuem a fundo todos os conhecimentos que as suas funções especialmente requerem, mas apenas vêem as suas ideias, quando calha aparecer um malfeitor especial, cuja finura difere em espécie da sua, naturalmente, 'leva-os".No máximo, quando estão incitados por algum caso insólito, por alguma recompensa extraordinária, exageram e espremem-se o mais que podem em velhas rotinas , mas em nada alteram os seus princípios.
A primeira exibição de Dupin manifesta-se em Os Crimes da Rua Morgue, quando passeava com o seu amigo -narrador. Aqui tem ocasião de aplicar os seus métodos de raciocínio operando por conjunturas que invariavelmente resultam. A Polícia, a mesma Polícia que ele critica, sente-se impotente para resolver os mistérios que tem ante os seus olhos e pede a sua colaboração.
No caso de A Carta Roubada revela os seus dotes de conhecimento da natureza e psicologia humanas. Ali, o ladrão era conhecido; o roubo, uma carta; era necessário saber onde o ladrão escondera essa carta de valor político inestimável e reavê-la. Dupin consegue-o.
Em O Mistério de Maria Roget, as perfeitas deduções de Dupin revelam o autor do crime recorrendo, para tanto e só, à leitura de recortes de jornais.

Pouco mais se sabe sobre Charles-Auguste Dupin, o cavalheiro do Bairro de Saint-Germain.
A aparência física, e outras, quedam subjugadas ao deslumbramento da sua mente.
Ocupa, sem dúvida, por direito e mérito próprio, o primeiro lugar da mitologia dos grandes detectives da narrativa policiaria.
Os seus seguidores apropriaram-se dos métodos e qualidades de Dupin, adaptando-as segundo as conveniências, superando-as até, como é natural — é mais fácil desenvolver e melhorar do que criar — contudo, DUPIN é o primeiríssimo.

M. Constantino


TEMA — CONTO — UM ROUBO DE 60 MINUTOS
De Joaquim Paulo
Aqui e agora, levanto a minha voz, porque me considero escandalosamente espoliado e, por isso, vítima de um verdadeiro crime. E se fui lesado, acho que tenho o direito de apresentar o meu protesto, e de, veementemente, clamar por justiça.

Desde o momento em que qualquer coisa me é dada, é lógico que se torna, logo, pertença insofismável e plena, da minha vida e dos meus sentimentos. É meu! E o que é meu, meu é! Quem mo tirar, rouba. É ladrão. Pratica um crime de lesa integridade do indivíduo e, por isso, tem de ser chamado à responsabilidade. Tem de ser, num mínimo, rotulado de ladrão. E se, por qualquer habilidoso artifício de fuga à justiça dos homens, o culpado não sofrer o castigo devido, podem crer que, na altura do Julgamento Final, sofrerá de certeza o pavor de um horrendo trambolhão até às profundezas dos infernos. E é muito bem feito!
Sinto-me deveras revoltado e não posso deixar de desabafar. Desabafo que tem, repito, uma forte razão de ser: eu fui lesado! Fui roubado e não me vou calar! E mais. Talvez, todos vocês, ainda não tenham pensado nisso, mas podem crer que foram também escandalosamente roubados! Façam bem as vossas contas e digam se, quando pela mudança da hora, ao adiantarem o relógio, não foram roubados de uma saborosa hora de sono. Sabem bem o que é andar durante uma caterva de tempo a ressonar deliciosamente, confortavelmente ciente de que essa “horinha” é um mimo de bom sono e, de repente, zás, ser-se espoliado em 60 minutos, restando somente o aborrecido desespero de uma noite mal dormida?! Devem concordar que é muito chato! Contudo, ainda há quem barafuste dizendo que não é bem assim, que-mais-isto-mais-aquilo! A esses, limito-me a considerá-los como os já conhecidos “cães que ladram mas a caravana passa”.
Bem no íntimo, será ponto assente que todo este arrazoado não deva passar de lábia barata! Isto, porque já me vou fartando de bocejar de raiva por me roubarem essa querida hora, mas já me vou fartando de bocejar de tédio, porque me sinto, sem proveito algum, obrigado a reler o que por delírio meu, ficou tristemente escrito…


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