29 de fevereiro de 2012

NOVIDADES - LIVROS

Em Fevereiro foram lançados os seguintes livros policiários: Scarpetta


de Patricia Cornwell da Editorial Presença, Colecção Fio da Navalha

Sinopse (Editora)
Quando a Polícia de Nova Iorque lhe pede para examinar um indivíduo ferido que se encontra na ala de detenção psiquiátrica do Hospital de Bellevue, Kay Scarpetta deixa o seu trabalho forense na Carolina do Sul para desvendar este caso. O paciente, Oscar Bane, pedira especificamente que a chamassem, e conta-lhe uma das histórias mais bizarras que ela alguma vez ouviu, informando-a de que os seus ferimentos foram infligidos no decurso de um crime... que ele não cometeu.






O Bairrode Carlos Ademar pela Oficina do Livro

Sinopse (Editora)
Manuel Sousa, agente da PSP, é assassinado num bairro às portas de Lisboa. A Polícia Judiciária está a começar a investigação quando é surpreendida pela notícia da morte de mais dois agentes. Quase ao mesmo tempo, um traficante de droga é deixado sem vida no Serviço de Urgência de um hospital. O que têm em comum estes factos? O bairro.
O país fala destes casos, os jornais e as televisões fazem eco das preocupações sociais, a hierarquia policial e a tutela política exigem respostas aos investigadores. O chefe Barata, a pouco tempo de se reformar, encara este caso como o seu derradeiro desafio.
O Bairro, baseado numa história verídica, é o retrato intenso de um mundo onde o crime e a honestidade convivem diariamente, onde prolifera o sentimento de abandono a que foi votado quem ali cresceu, para onde foi viver quem não tinha alternativa e onde é real a coragem de suportar o estigma de um nome. Mais do que um romance, O Bairro é a metáfora de tantos vulcões existentes em redor das grandes cidades contemporâneas, cuja eventual erupção todos temos o dever de evitar.

Escreve a editora sobre o Autor
Carlos Ademar nasceu em Vinhais, em 1960. Em 1987, entrou para a Polícia Judiciária, onde exerceu durante quase duas décadas a actividade de investigador criminal na Secção de Homicídios.
Colaborou na investigação de alguns dos mais célebres crimes ocorridos na Grande Lisboa, como os que ficaram conhecidos pelos nomes de "Skinheads" e "O Estripador". Actualmente é professor na Escola de Polícia Judiciária.
Licenciado em História, o gosto pela escrita acompanha-o desde sempre. É autor das obras O Caso da Rua Direita, O Homem da Carbonária, Estranha Forma de Vida, Memórias de um assassino romântico e Primavera Adiada, editadas pela Oficina do Livro. O Bairro é o seu sexto romance.

CALEIDOSCÓPIO 60

EFEMÉRIDES – Dia 29 de Fevereiro
Heimo Lampi (1920 – 1998)
Nasce em Hollola, Filândia. Advogado e colunista de jornais está incluído no grupo de escritores de crime escandinavos. O destaque na sua obra vai para Death Stalks Meteora , no título original Kuolema Kulkee Meteoralla, escrito em 1981.

TEMA — OS GRANDES TEMAS DA FICÇÃO CIENTÍFICA - ROBÔS
Desde os tempos em que a bruma da história é intensa, impenetrável, por vezes transformada em mera lenda, a criação de seres metálicos ou mecânicos ocupa uma parcela da fascinação humana.
Um passeio pelo túnel do espaço literário permite conhecer os homens mecânicos de As Mil e Uma Noites, as raparigas de ouro do deus grego Hefaísto, os jogadores de xadrez do Barão de Kempelen ou Maelzel, etc. etc.
Em R.U.R., iniciais correspondentes a Rossum's Universal Robots, peça teatral de 1920, do autor checo Karel Čapek, (1890-1938), nasce o termo robot, derivado de robota (trabalho) aplicado aos seres artificiais criados pelo industrial Rossum para substituir os homens no trabalho. A partir de então, o termo usa-se, na generalidade, para designar criaturas metálicas, quase sempre hominídeas, perigosas umas — sempre prontas da dominar a humanidade em seu proveito — pacíficas outras, por vezes sujeitas a maus tratos e agressões da incompreensão humana, a menos que apresentem programação menos segura.
Breve resenha que se pretendia esboçar do robô através da história da ficção científica apresentar-se-ia como um tratado, tal o volume de diversificação da temática.
Opta-se por exemplificarão sabor da preferência.
Os robôs de Rossum estão impregnados daquilo a que se convencionou designar por sindroma de Frankenstein, isto é, a constância da revolta da criatura contra o seu criador. Advirta-se, por outro lado que, muito embora se tivesse recolhido e propagado o termo robô através daquela narração, no actual nível da literatura de ficção científica tais figuras seriam classificadas de andróides dada a sua natureza orgânica produzida por meios sintéticos. A palavra robô será aplicada exclusivamente a seres mecânicos construídos de matérias inorgânicas, metal em regra, e dotados de cérebros electrónicos que lhes permitiria a movimentação.
Os robôs de Rossum vestem-se como ao pessoas, blusas de pano cru, apertadas por correias e ostentando placas de cobre com um numero. Caras sem expressão, olhar fixo, os seus movimentos e a maneira de falaz tem qualquer coisa de seco, de hirto. Podem fazer o mesmo trabalho que o homem, mas por menor custo: os robôs Rossum podem ser adquiridos por 150 dólares cada.
Harry Domin, director geral das fábricas, comenta:
o velho Rossum queria destronar Deus. Era um materialista terrível. O que ele queria era fornecer a prova de que não precisamos de Nosso Senhor, metendo-se-lhe na cabeça fazer um homem exactamente igual a nós diante do seu tubo de ensaio e sonhando que dali sairia uma árvore da vida, inteirinha. Uma salmoura coloidal que nem um rafeiro seria capaz de tragar, e que poderia ter obtido, por exemplo, uma medusa com cérebro de Sócrates ou então uma minhoca com cinquenta metros de comprimento.Isto é o que diz o velho Rossum, mas foi o jovem Rossum quem teve a ideia de fazer máquinas de trabalho vivas e inteligentes.Uma máquina de trabalho não precisa de sentir alegria, nem tocar violino, nem fazer uma porção de coisas no género… e fabricar operários artificiais é a mesma coisa que fabricar motores a petróleo… os robôs não são homens; do ponto de vista mecânico
São mais perfeitos do que nós, possuem uma inteligência admirável, mas não têm alma…
Mas de tempos a tempos os robôs que não têm amor a nada, nem a eles próprios, têm um ataque de raiva. Chama-se-lhes convulsões, acredita-se num defeito do organismo e era necessário metê-los na prensa.
De trabalhadores passaram a soldados. Primeiro nos campos de batalha…, depois a insurreição em Madrid contra o governo…
A primeira organização da raça robô formou-se no Havre.
Nós, primeira organização da raça de Rossum's Universal Robot, declaramos o homem inimigo e proscrito do universo.
O homem já não nasce, mas vida não perecerá.
A tradição explica a querela: uma nova imagem da rebelião de Lúcifer contra o seu criador, e que dominou a Ficção Científica primitiva.
Foi preciso esperar até 1938, para que o robô monstruoso, vilão, desse lugar a um tipo bem mais simpático, Adam Link, de Eando Binder (ps. dos irmãos Earl Andrew Binder (1904 -1965), e Otto Oscar Binder (1911-1974), que protagoniza uma série de aventuras verdadeiramente agradáveis.
A confirmação dessa nova imagem deve-se, porém, ao famoso Isaac Asimov. Em 1939 escreveu Robbie um robô-ama-seca, que ficará famoso, cuja cabeça era um pequeno paralelepípedo de arestas e cantos arredondados lidados a um paralelepípedo maior, que servia de tronco por meio de uma baste curta e flexível, brilhantes olhos vermelhos, pele metálica mantida a uma temperatura de vinte e um graus pelas bobines interiores de alta resistência. Pernas e braços de aço cromado, braços capazes de vergar uma barra de aço de cinco centímetros de espessura até lhe dar a forma de um biscoito, mas capazes também de enlaçar suave e amorosamente uma menina de oito anos. Uma máquina sem voz, sim, mas uma máquina cheia de amor.
As Asimov se devem os robôs positrónicos, nova técnica que substitui cérebro electrónico então existente. Ao mesmo se devem as três Leis da Robótica, que baniu o terrível síndroma de Frankenstein:
1 - Um robô não pode causar dano a um ser humano nem, por inacção, permitir que qualquer homem sofra danos;
2 – Um robô deve cumprir as ordens que lhe forem dadas pelos seres humanos, excepto em casos que essas ordens colidam com a Primeira Lei;
3 – Um robô deve proteger a própria existência desde que essa protecção não colida com a Primeira ou com a Segunda Lei.

Máquinas perfeitas, sem dúvida.
Em L-do-it?, um interessante conto de Clifford Simak, encontramos o modelo suficiente perfeito para pôr em causa o termo máquina.
Demonstraremos a Vossa Senhoria — disse Lee — que os robôs são algo mais que simples máquinas. Nós estamos dispostos a apresentar provas de que em tudo, salvo no metabolismo, o robô e uma cópia do homem e que inclusivamente t o metabolismo e até certo ponto, análogo ao metabolismo do homem.
E o Tribunal pronunciou as suas decisões:
Os robôs possuem capacidade de livre escolha…
Os robôs possuem capacidade de pensar…
Os robôs podem reproduzir-se…
M Constantino

28 de fevereiro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 59

EFEMÉRIDES – Dia 28 de Fevereiro
Ben Hecht
(1893-1964)
Nasce em Nova Iorque. Romancista, argumentista, produtor e director de cinema é conhecido como o the Shakespeare of Hollywood. Na literatura policiária distingue-se a escrita para cinema dos thrillers The Unholy Night (1929) e Notorious (1946), produzido e realizado por Alfred Hitchcock. Ben Hecth é ainda o guionista do clássico Scarface (1932).

TEMA — CRIMINALÍSTICA
A identificação pelas impressões digitais foi um passo de gigante naquela área. O problema que se mantém até hoje, é que embora as investigações possam obter material biológico do principal delinquente, se este não constar das bases de dados dos bancos de identificação, os teste não servem para nada. Impõe-se uma aceleração positiva. Mais recentemente, ao partir-se do princípio de que cada pessoa possui um padrão repetitivo de sequência das bases de ADN nos cromossomas, desenvolveu-se uma técnica de análise intitulada Short Tandem Repeat (STR), seguido de um Simple Nucleotide Polymorphism (SNP). Esta técnica tem grande futuro, pois permite criar uma espécie de retrato robô em traços gerais a enquadrar num determinado grupo. O perfil SNP proporciona a alternativa ao sugerir uma série de características do possuidor de ADN, como a cor de cabelos, dos olhos ou a idade. As margens de certeza vão de 82% par a cor da pele e de 9 anos para a idade, o que por vezes é necessário e suficiente.
A identificação ocular permite a leitura dos vasos sanguíneos da retina dos olhos, que é exclusivo de cada pessoa.
Casualmente — assim nascem muitas descobertas — um mecânico que aperfeiçoava um instrumento a pedido de um oftalmologista, reparou na série de desenhos dos vasos sanguíneos de vários pacientes, constatando surpreendido que todos eles eram iguais na mesma pessoa. Uma investigação em larga escala confirmou o exposto.
A vantagem sobre as impressões digitais, é que são tão seguras como estas e de verificação mais rápida. É muito provável que num futuro próximo a substituição das impressões digitais ela identificação ocular seja aplicada em larga escala.

TEMA — SEGREDOS DA LITERATURA
MORIARTY NAPOLEÃO DO CRIME
A vida ficcionada de Sherlock Holmes tem sido explorada e dissecada desde a sua idealização, nascimento e acção. E para lá destes atribuindo-se-lhe novos episódios detectivescos. Ainda que em plano secundário, outros personagens que com ele privavam ou contactavam na vida ou na luta, são periodicamente abrangidos. Tal como Sherlock Holmes teria sido formado na figura e métodos do Professor Bell, o maior inimigo do notável detective, o Professor Moriarty, teria resultado de Worth. Na realidade Adam Worth, que durante 30 anos foi o mestre do crime, o génio do mal em que se inspirou Arthur Conan Doyle para personalizar o terrível e infame adversário do génio Holmes.

27 de fevereiro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 58

EFEMÉRIDES – Dia 27 de Fevereiro
Joseph Hone
(1937)
Nasce em Londres a 25 ou 27 de Fevereiro. É educado em Dublin. Trabalha como produtor na BBC e nas Nações Unidas, assistente de direcção de John Ford, professor no Egipto e editor. Actualmente é professor em Oxfordshire em Inglaterra. No policiário escreve romances de mistério e espionagem. É o criador do espião britânico Peter Marlow, herói dos seguintes livros: The Private Sector(1971), The Sixth Directorate (1975), The Flowers of the Forest (1980) publicado nos EUA com o título The Oxford Gambit e The Valley of The Fox (1982).


TEMA — FICÇÃO CIENTÍFICA
BIBLIOTECA ESSENCIAL DE FICÇÃO CIENTÍFICA E FANTASIA (3)

Volume 4 — We ou MbI (1920) de Evgueni Zamiatine

Yevgeny Ivanovich Zamyatin (1884-1937) engenheiro russo, um dos primeiros dissidentes sovietes.
We, publicada originalmente em inglês, apresenta-se como una arma política contra Lenine, contra os regimes ditatoriais ou totalitários, sob a forma de novela. Tem por cenário um futuro Estado Unido Mundial, no século XXVI, em que as pessoas são números. A felicidade matemática se não aceite é imposta; liberdade não é felicidade! Supressão cirúrgica da fantasia e do desejo; o impulso sexual vencido pela Lex Sexualis — são questões postas. Benefactor, que também é engenheiro construtor, autoridade única, fabrica uma nave planeando incorporar as plantas na sociedade.

Volume 5 — R.U.R. (Rossum's Universal Robots) (1920) de Karel Čapek

Karel Čapek (1893-1938), jornalista de nacionalidade checa, escreveu cerca de cinquenta livros nos domínios do teatro e da novela, além dos que vão ser destacados: RUR, ou Robots Universais, é uma obra teatral. Graças a esta obra que escreveu em colaboração com o seu irmão Josef, se deve nada menos que o uso universal do termo robot , para designar as criaturas mecânicas, inspirando-se num antigo vocábulo que significa trabalho pesado: rabota, e que se havia de fixar mundialmente.
Os robots de Capek têm um aspecto tão humano que a maioria dos autores de hoje classifica de androides.
Em RUR, os robots não só se parecem com os humanos, como haviam de comportar-se como eles, invadindo-os uma tal ânsia de poder que terminam por dominar o mundo.


Ficha Técnica

Nós
Autor: Evgueni Zamiatine
Tradução: Manuel João Gomes
Ano da Edição: 2004
Editora: Antígona
Páginas: 287
ISBN: 9726080320

26 de fevereiro de 2012

FICÇÃO CIENTÍFICA - Notícias



É muito raro, diremos mesmo inédito que nos lembre, uma publicação diária, ainda que seja parte de um caderno semanal — Quociente de Inteligência do Diário de Notícias, do passado dia 11 — dedicar seis páginas do conteúdo, que abrange chamada na frontal, à Ficção Científica.
Assinado por Gonçalo Pereira, aceitando ou não o aspecto crítico, entendemos destacar este artigo.
M. Constantino

CADERNO SEMANAL (clique para ver destaque)

CALEIDOSCÓPIO 57

EFEMÉRIDES – Dia 26 de Fevereiro
Jack Ritchie
(1922 – 1983)
John George Reitci nasce em Milwaukee, Wisconsin, EUA. Alista-se no exército americano na 2ª guerra mundial e é colocado nas ilhas Kwajalein no Pacifico Central. É aqui que descobre a ficção policiária. Regressa a casa no final da guerra e como não quer dedicar-se à profissão de alfaiate como o pai, decide viver da escrita de contos. Vê o seu primeiro trabalho Always The Season, publicado em 1953 no New York Daily News. Nas três décadas seguintes contribui com centenas de short stories para revistas especializadas em ficção: Alfred Hitchock's Mystery Magazine, Ellery Queen's Mystery Magazine e Manhunt. Com várias adaptações ao grande e ao pequeno ecrã, os contos de Jack Richie abarcam uma diversidade de géneros: mistério, suspense, thriller, quarto fechado, vampiros etc. São escritos com o mínimo de palavras, mas os personagens são bem caracterizados como Henry Turnbuckle, um detective idiossincrático ou o vampiro, detective particular, chamado Cardula, anagrama de Dracula. Jack Ritchie recebe um Edgar Award para best short story em 1982 com The Absence of Emily. O seu único romance Tiger Island é publicado postumamente em 1987.


Gabrielle Lord (1946)
Gabrielle Craig Lord nasce em Sydney, Austrália. Especialista em literatura vitoriana, é considerada a rainha do crime no seu país. Começa a escrever aos 30 anos, em especial na área do chamado thriller psicológico cria as séries Gemma Lincoln, Jack McCain e Conspiracy 365. Esta última é destinada à juventude e desdobra-se em 13 volumes, 12 com o nome de cada um dos meses do ano e um último com o título Revenge (2011). A editora Contraponto tem vindo a publicar esta série da escritora.
Em 2002 Gabrielle Lord recebe um Ned Kelly Award para a Best Crime Novel., prémio atribuído pela Crime Writers Association of Australia e em 2003 é distinguida com o Davitt Award, a melhor escritora de crime australiana, por Baby Did a Bad Bad Thing.



Elizabeth George (1949)
Susan Elizabeth George nasce em Warren, Ohio, EUA. É uma autora de romances policiários, enquadrados na categoria de suspense psicológico. O seu primeiro livro A Great Deliverance (1988) recebe o é triplamente premiado: com o Anthony Award, e com o Agatha Award para Best First Novel nos EUA e com o Grand Prix de Littérature Policière em França. O livro Well-Schooled in Murder (1990) é galardoado com o prestigioso prémio alemão MIMI 1990. Cria o Inspector Thomas Lynley da Scotland Yard e a Sargento Detective Barbara Havers. A BBC adaptou à televisão a série The Inspector Lynley Mysteries. Elizabeth George é uma escritora reconhecida internacionalmente e as suas obras têm sido também publicadas em Portugal. O Policiário de Bolso voltará a esta autora
.



TEMA — LITERATURA POLICIÁRIA – TESTEMUNHO
COMO VI O ROMANCE POLICIÁRIO
Assinado por J. Sousa, que pertenceu ou pertencia à PJ este texto chegou até nós através do saudoso colega Inspector Saldanha, entre os documentos com vista a um Manual Policial, jamais concluído.
M. Constantino

Ao abraçar a carreira policial, intuitivamente, devorei alguns romances ou novelas policiais, convencido de que, na vida real, as ciências criminais, as técnicas e tácticas de investigação ali explanadas seriam um manancial de conhecimentos quase infalíveis ou, pelo menos, um frutuoso contributo na investigação criminal. A breve trecho, porém, veio o desencanto, a desilusão! Com efeito, na minha então débil inteligência crítica e instintiva, como diria Fernando Pessoa, entendi que o romance policial me apontava falhas, já que o enredo não correspondia sequer a uma especulação da realidade. Também é certo que, então, nem sempre cuidei na escolha e, daí, que os romances a que tive acesso, normalmente os mais económicos, me parecessem despidos de interesse, quer no tocante à sua estrutura: espaço, tempo, personagens e acção; tudo uma série de actos previamente estudados onde o crime e a investigação se confundiam com o acidente ocasional; quer mesmo quanto à parte específica da literatura que, para mim, muito deixava a desejar, resultando quase todos eles em história folhetinesca ou vulgar literatura de cordel. Por outro lado, ainda na minha óptica de então, o “investigador particular”, o “detective” — o herói de história — partia para a decifração dos enigmas com uma tal visão superadora, mesmo irreverente para com as instituições, que deixava o pobre polícia da lei amesquinhado e boquiaberto: de um mero indício arranjava prova irrefutável; as testemunhas surgiam abundantes e espontâneas; as portas abriam-se para as mais incríveis diligências; e, finalmente, o suspeito era de imediato identificado e localizado. Dadas as conclusões evidentes, logo este se confessava culpado. Enfim um happy end. Dessa maneira, como já se referiu, nasceu a desmotivação e as horas de lazer foram orientadas noutros sentidos. De realçar, todavia, que de tudo quanto se leu, depois de sedimentado ou até esquecido, algo permaneceu no subconsciente que, em tempo oportuno, frutificou não só do ponto de vista cultural como também no campo profissional. E tanto assim é que, mais tarde, quando a prole adrede me ofereceu, em festas de ano, alguns romances policiais, houve como que uma “refontalizacão”, um voltar à fonte, ao princípio, mas, desta vez, foi à luz de um espírito mais amadurecido que se fez a sua leitura.
Então, sim, os romances policiais seduziram-me como a outros milhões de leitores. Em face do exposto, esta singular introdução que compilei, aliás pouco lisonjeira ou quiçá incoerente, não pretende, como é óbvio, minimizar o romance ou a novela policial, mas, pelo contrário, estimular a sua leitura, alertando contudo os novéis leitores para as falhas e reacções apontadas, tendo em conta que tais romances fomentam o mito policial e favorecem a confusão entre o imaginário e o real, bem como ainda será uma chamada de atenção para o que já alguém referiu: “a novela policial impõe-se, desde que se cuide de dois factores; por um lado, da determinação da inteligência do investigador; por outro, da determinação psicológica do criminoso”.

25 de fevereiro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 56

EFEMÉRIDES – Dia 25 de Fevereiro
S.B. Hough
(1918 - 1990)
Stanley Bennett Hough nasce em Preston, Lancashire, Inglaterra. Escritor de ficção científica sob o nome de Rex Gordon, usa também o pseudónimo Bennett Stanley. Publica 10 romances de mistério/detective. Cria o Inspector Brentford, personagem principal em Dear Daughter Dead (1965) e Sweet Sister Seduced (1968).
John Wainwright (1921 - 1995)
Nasce em Hunslet, East Yorkshire, Inglaterra. Em 1947 ingressa na polícia em Yorkshire e estuda advocacia ao mesmo tempo. Escreve o primeiro livro em 1956, mas só em 1966 se torna escritor a tempo inteiro. Até 1992 publica 80 livros, com o nome próprio ou sob o pseudónimo Jack Ripley. Cria várias séries: Lewis, Gilliant, Charles Ripley, Sullivan
, Inspector Chefe Lennox, Inspector Lyle, Superintendente Robert Blayde e Superintendente Ralph Flensing.
TEMA — ENIGMA POLICIÁRIO
INVESTIGAÇÃO EM CINZENTO

Os criminologistas afirmam que é na juventude que se preparam os grandes criminosos. Segundo as estatísticas mais recentes, em cada 10.000 habitantes. 536 delitos de roubo, fraude, passagem de moeda falsa, etc., são praticados por crianças até aos 14 anos, números inigualáveis para quaisquer outras idades.
Da consequente leitura do relatado, o correr das recordações trouxe-me ao presente um remoto caso que envolvia duas crianças de dez e doze anos e o desaparecimento de um diamante.
Estávamos num dia implicante. Chuva leve mas contínua escorrera todo o santo dia, até cerca das 17 horas. Tudo ficara peganhento, de ambiente opaco. Nesta situação, foi com um sentimento de desconforto que correspondi ao apelo do Sr. Vila-Pouca, residente, à época, na Rua dos Lusíadas, ali para o Restelo. Desvaneceu-se-me, no entanto, aquele estado de espírito ao conhecer o drama daquele homem que, se se permite, bem poderia chamar-se, com inteira propriedade, o Senhor Pouca Sorte.
Na verdade, emigrante de tenra idade, por esse mundo comera o pão que o diabo amassou. Cansado, regressara à pátria, fazendo um casamento serôdio, aparentemente feliz, rematado com dois gémeos que viriam a revelar-se atacados de afonia congénita, por deformação orgânica permanente. Acresce que, num passeio ao Alentejo, de onde era natural, um terrível desastre automobilístico deixou-o viúvo, preso a uma cadeira de rodas, sobrecarregado com a educação dos filhos e sustento - este mais consentido que imposto, diga-se… do inconformado Rafael Lobo, o condutor do veículo daquele dia fatídico, a quem o desastre amputara ambos os braços um pouco acima dos cotovelos. Valeu-lhe, na vicissitude, a destreza das suas mãos de hábil lapidário. O infortúnio parecia, contudo, ser uma constante.
Que sucedera agora?
Como invariavelmente, na prisão imprescindível da sua cadeira de rodas, o lapidador trabalhava um esplêndido diamante. Olhos cansados, adormeceu. Na obscuridade da tarde que findava, acordou sobressaltado. Como que pressentindo algo de desagradável, procurou instintivamente sobre a mesa o - diamante desaparecera!
Ao seu grito, Rafael e Rosa acorreram. Buscas, explicações, nada resolveram. Embora existisse um seguro que cobria as “pedras” que lhe eram entregues, desorientado pedira a Rosa que me telefonasse, já que não desejava a presença da Polícia. Determinado, olhei o grupo na minha frente, todos vestidos de cinzento (cor preferida ou imposta?). No rosto de cada transparecia um sentimento diverso: desespero em Vila-Pouca, expectativa em Rafael, indiferença na pequena Maria Bonita, afilhada de Rosa, indignação nesta e, em oposição, os gémeos, caras inidentificáveis pintadas de guerreiros índios, a que não faltava a tradicional pena no cabelo, camisolas de indispensável cinzento médio, com o nome de cada um em letras cinzentas mais escuras nas costas, definiam apenas divertimento. Comecei por pedir a Rafael a sua versão dos acontecimentos. Esclareceu-me, enquanto com um gesto de cabeça me apontava as mangas da camisa vazias.
- Bem vê, não tirei o diamante! Estava sentado à janela, vigiando os miúdos que brincavam aos índios no pátio das traseiras. O patrão adormecera e eu também dormitava. Vi o menino aproximar-se do pai e tirar-lhe a língua… Só quando se afastou, pelo nome, percebi que era o Marco. Fui atrás dele para lhe perguntar o que queria, mas não o alcancei. Deve ter sido ele por brincadeira, está sempre a pregar partidas…
Rosa, muito alterada, alta e sólida, enrolava o avental nas mãos fortes, dizendo:
- Os miúdos são uns diabos, isso são, mas não ladrões… Também não sei quem tirou aquilo. Não vi o menino entrar na sala; depois que a professora saiu, “às cinco”, foram os dois para o pátio. Por acaso fui acender a luz da cozinha - o interruptor fica ao pé da porta - e vi o Rafael dirigir-se para a saída… ainda lhe perguntei se os gémeos estavam bem, mas nem me olhou; respondeu-me com um resmungo surdo.
A pequena afilhada foi encostar-se à sua protectora, envergonhada. Confirmou as declarações de Rosa, afirmando que não tinham saído da cozinha.
Restavam-me os rapazes. É bem verdade que as crianças que procedem delituosamente apresentam congénita inclinação para o crime ou são, provavelmente, influenciadas pelo ambiente. Naturalmente que não seria o caso. Tratar-se-ia de brincadeira e agora receariam as consequências. Procurando fazer-me entender, perguntei por escrito a cada, se tinha tirado a jóia ou estiveram na sala depois da saída da professora. Ambos acenaram veemente negativa e, trocando olhares, como se pensassem por um só cérebro, cruzaram os braços esfingicamente, fecharam-se num mutismo feroz a todas as insistências da minha parte.
Antes de me dirigir à sala do lapidário, contígua à que nos encontrávamos (segundo os ensinamentos de Locard, por ali devia ter começado), perguntei a todos se se importariam de ser revistados. Face à resposta negativa, que me pareceu franca, passei ao local do “crime”. À esquerda da entrada, uma janela larga; em frente, um pouco para a direita, a porta da cozinha; à direita, duas janelas, numa das quais estava encostada a mesa de lapidário, na outra a cadeira onde se sentara Rafael. Todas as janelas envidraçadas, com cortinas, estavam fechadas. Ao centro, sobre a mesinha, uma jarra de flores murchas, pétalas caídas, a contrastar - o que não podia deixar de me surpreender suspeitosamente - com o asseio de toda a casa e o próprio soalho encerado impecavelmente, que percorri de joelhos em busca da jóia perdida…
Saí, dei a volta pelo pequeno jardim frente à casa, passei para o pátio das traseiras, de terra barrenta encharcada. Num pequeno círculo de relva ao centro, uma tenda tipo índio, na qual entrei procurando entre a amálgama existente algo que se parecesse com um diamante. Marto veio ter comigo e, zangado, empurrou-me dali. Voltando ao convívio dos outros, pensava a todo o vapor, seguro à teoria de Claude Bernard: “a marcha do espírito não pode avançar, senão pondo uma ideia adiante da outra”. Quem? Como? Talvez sabendo “Como”, saberia “Quem”. Comecei a expor conclusões. Marco e Marto trocaram um olhar - mais uma vez a sensação de uma cabeça a pensar pelos dois - e esgueiraram-se para a saída. Ainda fiz um gesto para os deter mas, reconsiderando, continuei com a explanação. Subitamente, voltaram. Marco, puxando-me pelo casaco, presenteou-me com um pé de erva-bezerra que trazia atrás das costas.
Ambos sorriam abertamente. Embatuquei. Diacho dos miúdos, estariam eles a gozar-me? Estariam a dizer-me algo? Ora bolas… A que propósito vinha a oferta? Teria esta relação com as flores murchas da jarra, que tanto me impressionara?
Resolvi o caso. A solução verdadeira viera-me, afinal, em bandeja de prata… Sabe bem ao advogado, melhor diria, consultor criminólogo, porquanto raramente chegava ao Tribunal, divagar hoje no reino da saudade.

O problema apresentado pertence à categoria enigma que consiste em inserir no conteúdo do trabalho indícios de forma metafórica ou ambígua cuja interpretação contribui ou é a solução. São infinitos os artifícios que se podem empregar. Desde a colocação de um objecto, de determinada forma, a uma letra, uma carta, livro, deixados pela vítima para indicar o autor da sua situação. Uma palavra dita para ser ouvida, ou frase, descrição, cujo efeito depende do produtor e a solução do raciocínio e interpretação do solucionista. É um enigma de um enigma.
Preste atenção aos pormenores e pondere na solução, que apresentaremos proximamente.
M. Constantino

24 de fevereiro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 55

EFEMÉRIDES – Dia 24 de Fevereiro
Grant Allen (1848 - 1899)
Grant Allen nasce em Alwington, Kingston, Ontário, Canadá. Naturista, físico, antropologista, jornalista e escritor, tem uma vasta obra no campo da ciência, da sociologia e também dá um contributo importante para a ficção científica e policiária. É considerado um inovador ao criar o Coronel Clay, personagem principal de uma série de contos An African Millionaire publicados no Strand Magazine e mais tarde adaptadas à rádio. Escreve ainda duas séries de contos protagonizadas por mulheres detectives, — das primeiras a surgir na literatura — Miss Cayley's Adventures e Hilda Wade, esta última uma enfermeira que alia a detecção aos conhecimentos médicos.

 



August Derleth (1909 – 1971)
August William Derleth nasce em Sauk City, Wisconsin, EUA; escritor com uma vastíssima obra — 100 contos e 150 livros — em diferentes áreas é também famoso pelo seu trabalho como antologista e editor. Começa a escrever com 13 anos de idade e mais tarde dedica-se à escrita de contos góticos e de terror. Em 1939 funda com Donald Wandrei a editora Arkham House cujo objectivo inicial é a publicação da obra de H.P Lovecraft. Como autor de literatura policiária, Derleth cria o detective londrino Solar Pons, protagonista de uma dezena de romances. Cria ainda as séries Judge Peck e Sac Prairie com duas dezenas de livros. Usa os pseudónimos Michael West, Stephen Grendon e Tally Mason,
A British Fantasy Society instituiu em 1971 um prémio com o nome deste escritor, o August Derleth Award, que distingue o melhor romance do ano no campo da fantasia, ficção científica e horror.




Ralph McInerny (1929 – 2010)
Nasce Ralph Matthew McInerny nasce em Minneapolis, Minnesota, EUA.Filósofo e professor durante 40 anos na University of Notre Dame (EUA). Inicia-se na escrita policiária em 1977 com Her Death of Cold, o primeiro da série Father Dowling Mysteries, que atinge os 30 títulos e é adaptada a televisão. Escreve ainda, sob o pseudónimo Monica Quill, a série Sister Mary Teresa, uma freira que soluciona crimes (10 livros); na série Andrew Bloom o protagonista é em advogado (6 livros); a série Notre Dame romances de mistério passados na Universidade de Notre Dame com os personagens Roger e Philip Knight; (13 livros); Egidio Manfredi um detective do Ohio à beira da reforma (2 livros). McInerny utilize os seguintes pseudónimos: Edward Mackin, Ernan Mackey, Harry Austin, Matthew FitzRalph e o já referido Monica Quill.



TEMA — ESPIONAGEM – AGENTES SECRETOS (1)
Nem se nasce agente secreto, nem o é quem quer. Têm formação em escolas próprias, onde poucos entram e de onde só sai um número reduzido dos poucos admitidos. A selecção exige uma capacidade física excepcional, inteligência, espírito patriótico, conhecimento perfeito de línguas, etc. O treino físico proporciona endurecimento e resistência, as diferentes técnicas de combate são estudadas até ao mínimo detalhe. Ninguém desconfia de um homem se trouxer consigo um simples jornal, um isqueiro ou um molho de chaves no bolso, todavia o agente secreto sabe com facilidade como transformar tais objectos em armas. Uma arma de fogo apontada a curta distância raramente é perigosa quando se está preparado para o desarme ou em 90% dos casos, partir o braço que a empunha. Disparam armas de fogo de todos os calibres e tipos. E preciso ter sangue frio também para manipular misturas explosivas. Nas escolas de espionagem há médicos que vigiam constantemente a alimentação e o repouso dos alunos para os manter em forma, engenheiros especializados numa série de cursos que visam ensinar principalmente a demolição de tudo, de pontes, de edifícios, dos veículos terrestres aos aéreos, que também é preciso conhecer e conduzir. Aprendem a fotografar com perícia e a usar os meios de comunicação, a transmitir e descodificar mensagens criptografadas, ainda que existam presentemente máquinas poderosas, verdadeiros cérebros electrónicos para transmitir ou decifrar mensagens em segundos.
 
TEMA — FICHA CRIMINAL — O BAÚ DA MULHER TIGRE
Meter um cadáver num baú, inteiro ou esquartejado, é inconcebível, conhecido o espaço reduzido e a decomposição rápida do corpo. Fazer-se acompanhar do baú, é simplesmente assombroso! Todavia, Winnie Ruth Judd acompanhou os baús contendo as suas vítimas durante uma longa viagem pela América do Norte.
Na noite de 16 de Outubro de 1931, num apartamento da capital do Arizona, uma reunião amigável com Agnes Anne LeRoi e Hedvig Samuelson degenerou em violência física e Winnie matou a tiro as duas mulheres. A 18 do mesmo mês tomou o comboio em direcção a oeste, acompanhada de Carl Harris. Quando chegaram ao destino previsto e foram reclamar os baús, saia deles um cheiro pestilento e o empregado exigiu as chaves para que abrissem os baús, julgando tratar-se de contrabando de carne de veado. Sob o pretexto de irem buscar as chaves, desapareceram.
Mais tarde, presa “a mulher tigre” como foi apelidada, foi julgada e sentenciada à morte. Dez dias antes da execução o tribunal conclui que a senhora não estava no seu juízo e foi internada no hospital estadual.
Saiu em liberdade 40 anos depois… em 1971.
M. Constantino

23 de fevereiro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 54

EFEMÉRIDES – Dia 23 de Fevereiro
M. S. Craig (1923 – 1991)
Mary Francis Shura (Young) Craig nasce em Pratt, Kansas, EUA. É uma autora de livros infantis e de romances para jovens e adultos. Utiliza diferentes pseudónimos, M. S. Craig para os romances policiários. Publica na área do romance de suspense To Lay The Fox (1982), Gillian's Chain (1983), The Third Blonde (1985), Flash Point (1987); Em 1990 é eleita presidente dos Mystery Writers of America.




John Sandford (1944)
John Roswell Camp nasce em Cedar Rapids, Iowa, EUA. Jornalista, autor de bestsellers, recebe o Prémio Pulitzer do jornalismo em 1986. Rules of Prey, o seu primeiro romance policiário, é editado em 1989; é protagonizado pelo detective Lucas Davenport, numa série com mais de 20 livros e que ainda se continua a publicar.




TEMA — MISTÉRIOS DA HISTÓRIA
A MORTE DO HERDEIRO DO FARAÓ
A catedrática Sue Black, chefe de anatomia e antropologia forense da Universidade de Dundee, na Escócia, foi convidada para examinar um fragmento de crânio e face do rosto mumificado, ostentando um nariz rotundo que o identifica como realeza faraónico e por tal, guardado no Museu do Egipto do Cairo entre outras múmias destroçadas. Examinando o fragmento, a famosa catedrática, depois de séries de pesquisas e exames, verificou que se tratava de um varão de entre trinta a quarenta anos e que o nariz mumificado tinha uma depressão do lado esquerdo devido, sem a menor dúvida, a um forte golpe capaz de lhe ter provocado por acidente ou crime.
Atendendo à época, recorreu-se ao testemunho bíblico, dado que aquele nariz pertencera a Ramsés II (1303?-1213? a.C.) o faraó que inspirara o êxodo com seu filho, já que ambos haviam conhecido Moisés, sofreram as dez pragas do Egipto e era o seu exército que perseguira os filhos de Israel. Nas tábuas ou nos hieróglifos não se registavam qualquer acidente. Sem registos os estudiosos, que nem sequer põem em dúvida o êxodo e o fracasso do exército faraónico, voltam-se para os egiptólogos que escavavam o solo do Vale dos Reis. Aí encontram uma tumba meio destruída onde recolhem o que dizem ser o 1º, 2º, 6º e 9º filho de Ramsés, o Grande, e que foram retirados.
Soe Black, com toda a sua autoridade e conhecimentos mantém que a fractura encontrada originou a morte, por ter haver atingido um vaso sanguíneo, tem a forma de uma pedra, uma arma letal usada nas batalhas na antiguidade. A morte, assim, seria normal para um homem da sua idade e líder do exército d sereso seu pai, tratar-se-ia de Amun-her-khepeshef, o primogénito do Faraó. O êxodo envolveu dois milhões de seres, de entre os filhos de Israel, enquanto os homens do exército não chegariam aos 20 000, bem armados mas inúteis em terreno quase sempre adverso. Nada mais fácil do que passar despercebido o matador, mas não a morte, já que o corpo foi para o Museu do Cairo.
Ontem como hoje, razões políticas abafam os contratempos cujo conhecimento prejudica a governação.
M. Constantino

TEMA — O CRIME NA LITERATURA NÃO POLICIÁRIA
TRAIÇÃO
Extracto de Jornadas de Portugal
De Antero de Figueiredo

O sr. Francisco, velho alquilador, dono e condutor da traquitana a espedaçar-se nas suas ferragens desconjuntadas, vai-me contando casos e coisas das terras que atravessamos. A sua cara sem barba, modelada pelas sombras da face seca e pelos vincos fundos aos lados da boca, na testa e em volta dos olhos negros que dominam, com expressão fiel, toda esta rudeza — lembra a dos «homens do Infante», no painel de Nuno Gonçalves.
Por deferência, conversa comigo em língua grave (português), mas com a rara gentinha triste que vamos topando por estes rudes caminhos, troca dizeres em ter-mos charros (mirandês) de espanholado falar.
— Como vai aqueilha que sabes?
— Marie?
— Si.
— Não me hables delha!
— Porquê?
— Es una ambrulheira, una cotchina, una…
— Que me cuntas?!
Nesta altura o tal Menul (um moço de lavoura tosco e espadaúdo), fita os olhos de brasa nos olhos mansos do Francisco e, por entre dentes cerrados esfuzia uma palavra baixa e insolente, a espumar ódio e sangue, contra a traidora, levantando os braços hirtos de cólera e enviesando o olhar inviperado na direcção de uma aldeia parda, ao longe, faz, com as mãos crispadas, um gesto convulso de ameaça tremenda. Súbito, corta, duro, para o monte, em passadas agrestes. Vai furibundo: leva na alma o cio de um toiro e o ciúme arreganhado e noctívago de um felino montês.
O cocheiro ainda lhe gritou do alto da boleia:
— Manul, anda cá!
— Adius!
— Que tengas juizio!…
E para mim:
— A cabra da rapaza!… Pregou-lha!…É rês ao monte!…
— Mata-a?
— O mais certo. Nestes sítios, as mortes são só por vinho ou por mulheres.

22 de fevereiro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 53

EFEMÉRIDES – Dia 22 de Fevereiro
Peter Cheyney (1896 – 1951)
Reginald Evelyn Peter Southouse Cheyney nasce em Whitechapel, Londres. Troca o trabalho monótono de solicitador pelo mundo do espectáculo. Estreia-se na escrita policiária em 1936 com escrita This Man Is Dangerous, dando inicio a uma carreira literária que só termina, com a sua morte, em 1951. É o primeiro escritor britânico de romance policial negro. Publica uma extensa obra com destaque para as short stories e para 34 romances de diferentes séries com os personagens: Slim Callaghan, Lemmy Caution, Michael Kells, Everard Peter Quayle e Johnny Vallon que geralmente retrata o submundo de violência norte-americano; 33 romances com a série Alonzo McTavish onde grupos criminosos competem entre si. Peter Cheyney também escreve sob o pseudónimo Lyn Southney. Alguns livros do autor estão traduzidos em Portugal a maioria na Colecção Vampiro de Bolso da Livros do Brasil.

Edward D. Hoch (1930 - 2008)
Edward Dentinger Hoch nasce em Rochester, New York, EUA. Autor extraordinariamente prolífico publica cerca de mil contos policiários/mistério/ficção científica. Cria as séries Nick Velvet (a mais famosa), Captain Jules Leopold (com mais de cem contos), Dr. Sam Hawthorne (mistérios de quarto fechado), Jeffery ou Jeffrey Rand (espionagem), Simon Arc (detective investigador do sobrenatural), Sebastian Blue e Laura Charme (crime internacional) e ainda as séries Al Darlan, Alexander Swift, Barney Hamet, Ben Snow, Michael Vlado, Sir Gideon Parrot, Susan Holt e Stanton & Ives. Edward D. Hoch utiliza diversos pseudónimos: Anthony Circus, Irwin Booth, Pat McMahon,Mr. X, R.E. Porter, R.L. Stevens e Stephen Dentinger.
Este autor é presidente dos 1982 Mystery Writers of America em 1968 e um dos mais premiados de sempre. Em 1968 recebe Edgar Allan Poe Award para Best Short Story com The Oblong Room. Em 1998 e em 2001 é galardoado com Anthony Award respectivamente por One Bag of Coconuts e por The Problem of the Potting Shed; em 2000 recebe o Lifetime Achievement Award, em 2001 o Grand Master dos Mystery Writers of America e o Lifetime Achievement Award e em 2008 Readers Choice Award com o conto The Theft of the Ostracized Ostrich.



TEMA — BREVE HISTÓRIA DA LITERATURA POLICIÁRIA - 3(continuação de CALEIDOSCÓPIO 45)
No Ocidente era o pão, no Oriente o arroz.
Conta-se:

O corpo do irmão de um grande potentado, um príncipe da Índia, foi encontrado no Jardim do Palácio, com um punhal cravado nas costas. As suas jóias, avaliadas numa enorme fortuna tinham desaparecido…
Diversos suspeitos foram presos, as suas casas revistadas. Objectos de menor valor foram encontrados na residência de um daqueles que, interrogado, declarou nada saber a respeito da morte nem como os objectos haviam ido parar na sua humilde casa.
Submeteram-no a um interrogatório muito rigoroso, procurando forçá-lo a dizer como se tinha desfeito do resto das jóias, mas não conseguiram nada. Ele apenas abanava a cabeça negativamente.
Em companhia de outros suspeitos foi submetido a uma prova interessante e clássica: encher a boca de arroz a cada suspeito e ordenar que mastigassem. Após o exame, foram todos postos em liberdade.
Dias depois o principal suspeito, foi encontrado morto, perto de casa, com um punhal cravado nas costas, como o príncipe. Investigando-se o caso, descobriram-se manchas de sangue pelo caminho que ia dar à casa do jardineiro. Preso este, confessou ter morto aquele indivíduo porque o surpreendera em visita à sua esposa, enquanto ele trabalhava.
Interrogado, entretanto, sobre a morte do príncipe negou que fosse o seu autor. Consequentemente ordenaram-lhe que mastigasse arroz com a boca cheia. Não o conseguiu e ao cuspi-lo, verificou-se que os grãos de arroz estavam tão secos como antes.
Vendo-se perdido ante esta prova, confessou finalmente ser o autor da morte do príncipe, admitindo que colocara as jóias na casa do rival para inculpá-lo, confessando também onde enterrara o resto das jóias.

Enquanto as provas, usadas para descobrir quando os criminosos mentem, são consideradas, neste país as mais modernas possíveis; a Índia usa o arroz há centenas de anos, talvez milhares de anos, com sucesso.

Uma espécie do moderno “detector de mentiras”; nuns casos o pão ou o arroz impedem a salivação do culpado, na outra — o método actual — são os impulsos sanguíneos que denunciam o culpado.
A fogueira e o enterramento nas encruzilhadas, das pessoas julgadas possuídas pelo diabo tais como os que atentavam contra a própria vida, faziam parte da vida quotidiana da época. O curandeiro ou curandeira, que viviam à parte das outras pessoas em cabanas ou grutas dos arredores das populações, servindo-se de ervas, sementes silvestres para as poções curativas, capazes de prever o mau ou o bom futuro das pessoas, mercê de, uma pré-psicologia apurada, eram temidos e ao mesmo tempo respeitadas pelo povo ignorante.
A tradição traz-nos, desta vez por intermédio de uma lenda do folclore inglês, a história de uma curandeira com todas as qualidades natas de um moderno detective, capaz de observar, reunir os pormenores mais insignificantes, expurgar os inadequados e tirar conclusões pertinentes.

A velha riu, um cacarejo sem alegria e tornou: —Tu brigaste com ela por minha causa. Ela rompeu o noivado, pobrezinha, porque viu a maldade da tua alma. Não é verdade que a atiraste ali para dentro do lago quando ela não quis fazer as pazes? Não é verdade que a empurraste para dentro até ela não se mexer?
— Sua malvada, feiticeira desdentada é essa a sua vingança?
A velha tocou o corpo com a estaca enquanto falava:
— A sua mão nua fala por si. Dilacerada, riscada, como eu cortei as minhas mãos neste mesmo ramo. Ela tentou agarrar-se desesperadamente ao galho cheio de espinhos, conto eu fiz… ela foi empurrada! E o punho fechado, Metcalfe, sabes o que contem? Não reparaste que ela te devolvia o anel no momento, em que a empurravas. Abre o punho fechado onde está o anel. Para o que o tiraria ela da mão esquerda se não fosse para to devolver? Confessa, confessa Metcalfe…
Ela própria abriu o punho fechado da moça, onde estava o anel.
O homem procurou fugir, mas a multidão caiu sobre ele.

21 de fevereiro de 2012

CONTO CURTO



A CABEÇA FALANTEConto Curto de JEAN RAY, Humor NegroAs cabeças falantes do abade Mical são velhas curiosidades mecânicas de Museu. Parece que representam um show de Mary e Fair.
Quando depois de pagar um xelim entrei na barraca somente uma gritava: — A minha cerveja! Tenho sede e não vou abrir a boca?
Movia terrivelmente os olhos e rilhava os dentes. Nesse instante vários agentes de polícia invadiram em turbilhão o estabelecimento.
— É ela… a cabeça do notário Miffins, assassinado em Farringdon Lane! — gritou um Inspector da Scotland Yard.
Recordei-me de que efectivamente descobriram o cadáver acéfalo do notário Miffins.
O patrão da barraca foi algemado imediatamente e o detective meteu a cabeça num saco enquanto esta gritava:
— Olhem que me afogam aqui dentro, patifes!
Nenhum dos polícias pareceu ouvi-la.

CALEIDOSCÓPIO 52

EFEMÉRIDES – Dia 21 de Fevereiro
Jean Sabran (1908 – 1994)
Jean-Marie-Edmond Sabran nasce em Hyères, Provença-Alpes-Costa Azul, França. É mais conhecido pelo pseudónimo Paul Berna, que usa nos famosos livros para jovens — adaptações de clássicos e originais, que publica em conjunto com o irmão. Utiliza os pseudónimos Bernard Deleuze et Paul Gerrard para o romance negro e Joël Audrenn para os policiários. Escreve mais meia centena de livros para adultos. Destacam-se os preferidos do autor La Chasse au Dahu (1960), Le Mistigri (1961), La Tournée du Bourreau (1962), La Javanaise (1964), Ilse Est Morte (1967), Les Incandescentes (1973). Em 1959 recebe o Grand Prix de Littérature Policière pelo livro Deuil en Rouge. Em 1968, The Secret of the Missing Boat é nomeado para o Edgar Awward Best Juvenile Mystery. Uma história curiosa envolve este romance, com o título original L'Épave de la Bérénice: como o editor francês recusa a obra, o escritor apresenta-a directamente ao editor inglês, que a traduz e publica, uma vez nos Estados Unidos acaba por obter a nomeação e só depois é publicada em França.
Em Portugal estão publicados:
1 – Uma Carabina para Dois (19??) Ps. Paul Gerrard, nº17 Colecção Policial Esfinge, Empresa Nacional de Publicidade. Título Original: Une Carabine Pour Deux (1964)
2 – O Porche Amarelo (1970) Ps. Paul Gerrard, nº23 Colecção Policial, Editorial Notícias. Título Original: La Porche Jaune (1967)
3 – A Dança da Meia-noite (1979) Ps. Joël Audrenn, Europa-América. Título Original: La Sardane de Minuit (1978)


TEMA — CRIMINALÍSTICA: Método para Interrogatórios

A prova testemunhal, desvalorizada em relação às técnicas, não deixa de ter valor, a determinar pelo juiz. É extremamente útil na fase investigatória, daí o cuidado com que é encarada.
Se a vítima do delito se encontra viva, e sem prejuízo do se estado de saúde, é a primeira pessoa a ser inquirida e só depois as testemunhas presenciais ou relacionadas com o delito. Em muitas circunstâncias é possível encontrar testemunhas voluntárias, outras vezes isso nem sempre é realizável, o que obriga o investigador à árdua tarefa de as descobrir. No caso de existirem, a melhor forma de obter informações exactas é quando os acontecimentos ainda estão frescos na mente das testemunhas.
Em geral os interrogatórios perdem eficiência com o tempo: falta de observação clara dos factos, distorção dos mesmos, exagero, produto da imaginação ou por meditação, troca de impressões com amigos ou inimigos da vítima, leituras de jornais etc. Outra razão para o interrogatório rápido, e com brevidade, ao acontecimento é o facto de que, psicologicamente, as testemunhas podem alterar os factos depois de pensar e reflectir, o que um investigador prático e hábil deve evitar para descobrir o que pretende, a verdade.
Há três espécies de testemunhas:
a) Os cooperantes, aqueles que de forma espontânea estão dispostas a fornecer todas as informações;
b) Os indiferentes, que não só não estão dispostos a colaborar, como lhes é indiferente, nem lhes interessa a verdade do acontecimento;
c) Os antagónicos, hostis, resistentes permanentemente a tudo e a todos. Claro que neste caso resta o recurso ao Ministério Público para obter declarações sob pena de desobediência judiciária.
Os indiferentes e os antagónicos formam a classe única dos não cooperantes, a que a psicologia judiciária justifica por:
1 – Antipatia ou repúdio pela polícia ou Justiça;
2 – Represália para com a vítima, amigos etc.;
3 – Experiências negativas anteriores pessoais ou de familiares ou amigos;
4 – Ser estrangeiro e considerar perigoso, ou receio de envolvimento judiciário;
5 – Ser iletrado ou de baixo nível social;
6 – Ser familiar ou ter ligações de amizade, ou comerciais, com os suspeitos.
Em situações como as apontadas, o investigador com habilidade e precaução deve analisar a causa que originou a relutância em proporcionar informações, desvanecer com argumentos lógicos e reais os temores existentes e convencer a testemunha apelando para:
— A sua própria dignidade e orgulho;
— Deveres cívicos e sentimento de justiça;
— Interesses futuros próprios e familiares;
— Apelo sigiloso e prestígio patriótico.
Na realidade são os procedimentos, contudo há que ter em atenção o depoimento feminino. As mulheres são muito mais observadoras, podendo com um simples olhar, recordar e descrever do vestir ao olhar e movimentos de uma pessoa, por outro lado são emocionais ao ponto de transformar um pequeno raio de hostilidade numa qualquer certeza irredutível. Em emoções e paixões nada as demove.
M. Constantino

20 de fevereiro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 51

EFEMÉRIDES – Dia 20 de FevereiroRosemary Harris (1923)
Rosemary Jeanne Harris nasce em Londres. Frequenta o Courtauld Institute of Art e durante a 2ª guerra mundial faz parte da Red Cross. Trabalha nos estúdios de cinema da Metro-Goldwyn-Mayer e entre 1970 e 1973 orienta para o jornal londrino The Times uma secção sobre livros infantis. É uma autora premiada pelos seus livros destinados a crianças. Escreve também romances policiários com uma manifesta preferência para temas como o terrorismo e o totalitarismo futurista. Destacam-se os romances de suspense All My Enemies (1967), The Nice Girl's Story (1968) e The Double Snare (1975).
Esta autora não deve ser confundida com a escritora policiarista do mesmo nome, Rosemary Harris, mas de nacionalidade norte-americana e nascida em 1962.

Andrew Bergman (1945)
Nasce em em Queens, New York, EUA. É produtor, realizador de cinema, guionista e escritor. Publica 4 romances policiários. Na série Jack LeVine: The Big Kiss-Off of 1944 (1974), Hollywood and Levine (1975) e Tender Is Levine (2001); escreve ainda Sleepless Nights (1994). Em Portugal foram editados dois destes livros
1 – Levine em Hollywood (1979), nº3 da Colecção Série Negra, da editora A Regra do Jogo
2 – Verão Quente de 1944 (1980), nº6 da Colecção Série Negra, da editora A Regra do Jogo



TEMA — FICÇÃO CIENTÍFICA
BIBLIOTECA ESSENCIAL DE FICÇÃO CIENTÍFICA E FANTASIA (2-3)
Na sequência da apresentação do 1º volume da Biblioteca verifica-se que alguns escritores excluídos merecem uma lembrança, como Júlio Verne, poeta da tecnologia e do imaginário técnico-científico. Ficam igualmente de fora, mas registados para a história Le Vingtième Siècle de Albert Robida (1848-1926) e Edward Bellamy (1850-1898) com Looking Backward:2000-1887 publicado em 1887, uma utópica viagem no tempo de 2000 a 1887.

Para incluir na Biblioteca Essencial temos:
Volume 2 — The Time Machine (1895) de W G. Wells
Volume 3 — The War of The Worlds (1898) de W G. Wells

H. G. Wells (1866-1946) é uma figura importante da ficção científica e a sua obra tem uma vigência de interesse duradouro.
The Time Machine introduz o conceito de viagem no tempo por meios mecânicos, constituindo uma excelente divagação sob o tema da exploração temporal. Nela, um sábio do século IXX fabrica uma máquina graças à qual se desloca ao futuro onde descobre que a raça humana, após múltiplas mutações, se circunscreve a duas únicas raças inimigas: os pacíficos Elois e as bestas antropófagas Morlocks.
O volume 3, The War of The Worlds, é mais uma inovação que no futuro será uma das grandes estrelas da Ficção Científica: a invasão da terra por extraterrestres. Obra de um realismo convincente desenvolve e põe à prova os factores psicológicos e morais da humanidade ao enfrentar criaturas diabólicas irredutíveis, originárias do planeta Marte e dispostas a arrasar o mundo graças às armas altamente sofisticadas, as gigantescas tripodes mecânicas desintegradoras. Nem a força nem a inteligência dos humanos consegue vencer a força invasora. Inteligente, sim é a solução do autor: um inesperado aliado salva a raça humana do extermínio total.
M. Constantino

Ficha Técnica
A Guerra dos Mundos
Autor: H.G. Wells
Ano da Edição:2011
Editora: Ulisseia
Colecção: Vício da Leitura
ISBN: 9789725684535


Ficha Técnica
A Máquina do Tempo
Autor: H.G. Wells
Ano da Edição: 2002
Editora: Europa-América
Páginas: 108
ISBN: 9789721050198

19 de fevereiro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 50

EFEMÉRIDES – Dia 19 de Fevereiro

Yves Dermèze (1915 - 1989)
Paul Bérato nasce em Tonneins, Aquitânia, França. Escritor de policiário, aventura e ficção científica usa vários pseudónimos, sendo os mais conhecidos Yves Dermèze, Paul Béra. É galardoado em 1950 com o Prix du Roman d'Aventures com Souvenance Pleurait. Em 1977 recebe o Grand Prix de l'Imaginaire atribuido pelo conjunto da sua obra. Escreve no total perto de 40 livros. Para registo eis os pseudónimos usados pelo escritor: André Gascogne, Michel Avril e Paul Mystère, este último como co-autor. E ainda Alain Janvier, Francis Hope, François Richard, Jean Vier, John Luck, Luigi Saetta, Martin Slang, Serge Marèges, Serge Valentin, Steve Evans, Téka e outros… No campo policiário estão publicados em Portugal:
1 - Um Anel de Rubis (1951), nº104 da Colecção Os Melhores Romances Policiais, Livraria Clássica Editora. Título Original: Double Crime Sans Indices (1946)
2 - Souvenance Chorava (1951), Clássica Editora 1950. Título Original: Souvenance Pleurait


Ross Thomas (1926 - 1995)
Ross Elmore Thomas nasce em Oklahoma City, EUA. É jornalista, agente de relações públicas, guionista e especialista em ficção político-criminal. Cria os personagens Mac McCorkle e Mike Padillo. Inicia-se no romance policiário em 1966 com The Cold War Swap, obra que ganha Edgar Award para o melhor primeiro romance no ano seguinte. Para a série Mac McCorkle escreve quatro títulos, para a série Arthur Case Wu, três, publica treze romances entre 1967 e 1994; sob o pseudónimo Oliver Leeck escreve cinco livros de suspense e aventura, entre 1969 e 1976, protagonizados por Philip St. Yves, mais tarde adaptados ao cinema. Em 1982 Ross Thomas é convidado por Wim Wenders para guionista do filme Hammett, onde acaba por desempenhar um pequeno papel. Ganha o Edgar Award para o melhor romance, em 1985, com Briarpatch (1984). Depois de trinta anos ao serviço da literatura policiária Ross Thomas recebe a título póstumo, em 2002, The Gumshoe Lifetime Achievement Award pelo conjunto da sua obra.
(este escritor foi incluído, por lapso, no dia 12; fica agora a situação corrigida)



A.D.G. (1947 – 2004)
Alain Fournier nasce em Tours. Jornalista e escritor policiário assina as suas obras com as iniciais do seu pseudónimo, Alain Dreux Gallou. Cria um estilo próprio, muitas vezes rotulado de neo-polar. A sua escrita é recheada de gíria, trocadilhos e neologismos e os personagens das suas histórias são verdadeiros anti heróis livres truculentos. O seu primeiro romance é La Divine Surprise (1971) e seguem-se mais de vinte livros na mesma linha



CONTO — QUARTO COM SOLPorque há que descansar ao fim de semana, propomos um conto de Ficção Científica de Vasco Fortes.
M. Constantino

Acordar de manhã. Raios de sol atravessam as finas cortinas e incidiram sobre o soalho dando um novo tom ao quarto.
Uma volta na cama. O desejo de estar uns momentos mergulhado no sono comprometia o acordar. Estava em sonhos. Não deviam ser maus pois queria manter-se mais um pouco.
Com um gemido a consciência aos poucos tornava posse do seu corpo. As pernas mexeram-se, algo incomodadas com a longa estada na mesma posição. Agora, eram os olhos que saíam da penumbra característica dos sonhos. Notou a luz que lhe chegou através das pálpebras numa tonalidade vermelha de sangue. Calmamente caiu na realidade do tempo. Gradualmente tomou consciência. E, apesar dos olhos fechados percebeu estar num sítio estranho. De facto os seus acordares não eram assim.
Como toda a família, dormia no interior da pequena e velha casa entalada entre prédios altos mais modernos, mas mesmo assim já antigos. Apenas a janela da sala iluminava de luz natural o espaço da casa. O seu quarto não era excepção. Também ele estava completamente imerso na escuridão, mesmo ao meio-dia.
O cheiro confirmava que estava fora do seu abrigo de todas as noites. Sim, cheirava a cera fresca, pelo menos do dia anterior, o que lhe causava um certo incómodo, irritando-lhe as mucosas nasais.
“Atchim!!”
O espirro obrigou-o a sentar-se na cama e a abrir os olhos. Apesar de o compartimento ser de pequenas dimensões, reparou que eram maiores do que as do seu quarto. Olhou em volta ainda empecilhado com a irrigação excessiva dos seus olhos provocada pelo espirro e pelo rompante de luz que entrava em fios pelo meio do quarto.
“Atchim!!”
Novo espirro impediu-o de olhar mais atentamente. Fungou com força para tentar evitar novo ataque.
Mais calmo, e em melhores condições pôde olhar em volta. Era um quarto simples, de pessoa que vive só. Pelo menos assim dava a entender a estreiteza da cama onde dormira. Esta coberta com uma colcha de seda natural branca, localizava-se geometricamente no meio do quarto. De um lado, e a meio ficava a janela alta e com bandeira.
Enquanto olhava em volta coçava-se, reflectindo no sono profundo que tinha passado. Como de costume não lembrava o que tinha sonhado. Apenas traços muito gerais e esbatidos davam-lhe a certeza de ler sonhado. Não importava; importava, isso sim, saber como tinha vindo ali parar, naquele quarto estranho.
Absorto, coçava as costas. Estava em roupa interior. O cabelo completamente despenteado, tomava jeitos e trejeitos a fazer madeixas de cabelo fino a .sair em várias direcções, o que lhe dava um aspecto esgrouviado.
“Ahhhhh!”
Bocejou. Um esgar exagerado da sua boca acompanhava o ruído que fazia. Quando terminou, coçou a cabeça com força.
Deixou-se cair de novo sobre a cama, ainda em pensamentos confusos, tentando descobrir como teria vindo ali parar. Fechou os olhos para concentrar-se melhor. Mas apesar de tentar resistir acabou por adormecer de novo, caindo nos pensamentos que lhe turvavam a consciência.
Acordou de novo, mas agora perturbado pela escuridão familiar que o envolvia. Estava de novo no seu quarto, e num salto brusco retomou as faculdades sobressaltadas pela lembrança do ocorrido havia pouco. Era de facto o seu quarto, e mais uma vez ficou intrigado pela circunstância. Abriu as gavetas da memória, e, ainda embriagado de sono, veio-lhe à cabeça uma frase — Quarto com Sol. Fora com este desejo que adormecera na noite anterior, o que seria acordar num quarto completamente novo banhado pelo Sol…

18 de fevereiro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 49

EFEMÉRIDES – Dia 18 de Fevereiro
Auguste Le Breton
(1913 – 1999)
Auguste Montfort nasce em Lesevem, Bretanha, França. É considerado um dos maiores vultos do policiário no âmbito do romance negro, contribuindo decesivamente para demarcar a arrativa francesa do seu modelo e rival americano. É extenso o número de romances publicados em seu nome, muitos dos quais levados à tela. De entre todos cita-se Du Rififi Chez les Hommes (1953), publicado entre nós em 1983 pelas Edições 7 com o título Rififi, o nº2 da Colecção Alibi. Anteriormente, em 1978, as Editora A.M. Pereira publica Os Marginais, Les Pégrilots (1973) no título original.


Len Deighton (1929)
Leonard Cyril Deighton nasce em Marylebone, Londres. Ilustrador, fotógrafo, chefe de cozinha, professor, agente literário… começa a escrever policiários em 1962 com The IPCRESS File, mais tarde adaptado ao cinema. A maior parte da sua obra é na área da espionagem. Cria duas séries: Harry Palmer, com livros editados e a série Bernard Samson, com 9 títulos. Escreve mais 11 romances de espionagem e 2 livros de short stories. Em Portugal estão editados alguns livros deste autor.
1 - O Caso IPCRESS (1965) Portugália Editora livro da série Harry Palmer
2 - Funeral em Berlim (1966) Portugália Editora, Título Original: Funeral in Berlin (1964), livro da série Harry Palmer
3 - Um Cérebro de um Bilião de Dólares (1990) Gradiva, Colecção Não Incomode Título Original: The Billion Dollar Brain (1966), livro da série Harry Palmer
4 – Adeus, Mickey Mouse (1990) Gradiva, Colecção Não Incomode Título Original: Goodbye Mickey Mouse (1982)
5 - O Que Escondem as Águas (1994) Gradiva, Colecção Não Incomode Título Original: Horse Under Water (1963), livro da série Harry Palmer




TEMA — ENIGMA POLICIÁRIO – ELIMINATÓRIAS
Esta é a classe de problemas ou enigmas, designados por eliminatórias de muito fácil decifração, se bem que por vezes, bastante trabalhosas.
Trata-se de um trabalho de lógica através do qual por sucessivas exclusões contidas nas premissas ou indicadores, se vai delimitando o seu número, até que reste a única que preenche a hipótese procurada. Consiste em chegar à verdade pela negação de todas as hipóteses admissíveis, menos uma.
A apresentação desta espécie-tipo é regra geral por alíneas, numa segunda forma acompanhada de um desenho onde se movimentam algumas figuras do problema. Muitas vezes os dados são apresentados por uma conversa ocasional, onde se dispuseram os dados a eliminar.
Célebre como o seu autor, o querido amigo Artur Varatojo, um nome de sucesso na área do policiário, publicou em 1947, no Jornal de Sintra, um problema deste tipo que ficará para a história do Policiário, aqui reproduzido.
M. CONSTANTINO

ALGUÉM GUARDARA O VELHO REVÓLVER
Há precisamente vinte anos naquela mesma sala Jack Grosset matara um homem.
O revólver assassino escorregara para o chão e alguém o apanhara.
Agora a mira desse velho revólver traçava uma linha recta com o coração do assassino.
Soou um tiro e... Jack Grosset caiu morto.
Ricardo Diabo recordou o caso com um sorriso.
Michael Brown contara-lhe como tudo se passara, então.

Ele estava no bar quando Jack Grosset matara o pai. Grosset deixara cair o revólver e Michael guardara-o.
Tinha então dez anos e tomou conta dos irmãos mais novos. Três rapazes e duas raparigas: George, Peter, Buck, Dorothy e Jenny.
Jenny era bonita, esguia e atraente, enquanto Dorothy tinha ar másculo que lhe dava uma dureza de feições sem a fragilidade feminina da irmã.
Nenhum esquecera a morte do pai e Mick ditaria a vingança. Foi dado a todos o direito igual de vingar o pai.
Solenemente Mick meteu uma só bala no tambor vazio e rodou-o várias vezes até não saber onde ela se encontrava.
Então sortearam entre eles a ordem porque cada um tentaria a vingança.
Por capricho o mais velho ficou marcado para último, imediatamente precedido de George.
Qualquer um podia picar a única bala do tambor de seis tiros. O primeiro como o último, tinham iguais possibilidades.
Ninguém sabia em que altura ia detonar o velho revólver, e essa dúvida transmitia-lhes um frémito de nervosismo.
Combinaram entrar um de cada vez enquanto os outros do lado de fora com a respiração suspensa esperariam a detonação
O primeiro deles levantou o revólver e o coração dos outros cinco parou de bater. As raparigas apertaram as mãos.
Soou o estalido metálico da câmara vazia e o revólver dentro de momentos passava de mão.
George não perdoou nunca o destino de nunca ter chegado a atirar.
Buck quando recebeu a arma das mãos da irmã viu brilhar-lhe nos olhos uma lágrima rebelde de raiva incontida. Só quando o seu dedo pequeno e bem modelado premira o gatilho até ao fim, e o mesmo som metálico respondera negativamente é que a bonita rapariga compreendera a inutilidade da sua tentativa.
Buck, que foi o primeiro deles a irromper no salão após ter soado o tiro, nunca compreendeu como ninguém reparou nas tentativas dele e dos irmãos que o precederam.
Este foi o caso que Ricardo Diabo não quis resolver apesar de ter descoberto qual dos irmãos Brown vingara o pai.
E você, leitor, que também descobriu, diga-nos:
Quem matou Grosset? Porquê?

17 de fevereiro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 48

EFEMÉRIDES – Dia 17 de Fevereiro
Ronald A Knox
(1888 – 1957)
Ronald Arbuthnott Knox nasce em Knibworth, Leicestershire, Inglaterra. Trabalha para a Military Intelligence durante a 1ª guerra mundial, é ordenado padre em 1911 pela igreja anglicana e converte-se ao catolicismo romano em 1917. Escritor com uma obra literária notável de poesia, religião e outros tópicos — o que atesta a sua capacidade intelectual — inicia a escrita policiária em 1925 com The Viaduct Murder. De seguida cria o personagem Miles Brendon, protagonista dos seguintes romances: The Three Taps (1927), The Footsteps At the Lock (1928), The Body in the Silo (1933), também editado com o título Settled Out of Court, Still Dead (1934) e Double Cross Purposes (1937). Escreve ainda alguns contos que estão incluídos em antologias famosas como Great Short Stories of Detection, Mystery and Horror 2nd Series (1931) editada por Dorothy L Sayers e Fifty Famous Detectives of Fiction (1983).
Em Portugal no nº500 da Colecção Vampiro de Bolso da Livros do Brasil, Quem Matou o Almirante um livro conjunto de vários autores pertencentes ao Detection Club, Ronald A. Knox escreve o capítulo VIII, Trinta e Nove Pontos Duvidosos (Thirty-Nine Articles of Doubt).


Lawrence Blochman (1900 - 1975)
Lawrence Goldtree Blochman nasce em San Diego, Califórnia, EUA. Este patologista forense norte-americano inicia na juventude a carreira de escritor. Trabalha como editor no Japão, Índia, China e França. Dedica-se à literatura policiária, na escrita e na tradução. Publica 11 romances, cujo protagonista é o Inspector Leonidas Prike do C.I.D. (British Secret Service) na Índia, e revela um profundo conhecimento da cultura e da atmosfera deste país. Escreve 1 peça de teatro e 14 short stories com Dr. Daniel Webster Coffee como personagem principal. Várias das suas obras são adaptadas à rádio, televisão e cinema. Traduz livros para a língua inglesa policiários franceses, incluindo alguns romances do famoso escritor belga Georges Simenon. Lawrence Blochman é o 4º presidente de Mystery Writers of America (1948-49). Em 1951 recebe um Edgar Award na categoria de Best Short Story, Diagnosis: Homicide e em 1959 é novamente galardoado com um Edgar Allan Poe Award especial pelos serviços prestados à Mystery Writers of America.


Elleston Trevor (1920-1995)
Pseudónimo, e possivelmente o nome legal, de Trevor Dudley-Smith que nasce em Bromley, Kent, Inglaterra. Engenheiro aeronáutico escreve livros policiários para jovens. Em 1946 escreve o que é considerada a sua primeira obra policiária The Immortal Error, sob o pseudónimo Elleston Trevor, seguida de mais 32 romances até 1994. Este autor usa variados pseudónimos: Adam Hall, Caesar Smith, Howard North, Lesley Stone, Mansell Black, Roger Fitzalan, Simon Rattray,Trevor Burgess e Warwick Scott. Cria diversos personagens e na sua extensa obra literária destaca-se The Flight of the Phoenix (1964) e a série Agente Secreto Quiller, 19 thrillers escritos com o pseudónimo Adam Hall.



Ruth Rendell (1930)
Ruth Barbara (Grassmann) Rendell nasce em Londres. A autora que também usa o pseudónimo de Barbara Vine, cria o famoso Chief Inspector Wexford, cuja estreia se regista em From Doon With Death (1964) e que conta já com 23 títulos. Escreve ainda mais 28 romances policiários e 33 short stories. Como Barbara Vine publica 14 livros. É uma escritora muito premiada e os seus livros estão traduzidos em 22 línguas. Em Portugal diversas editoras tem publicado os seus livros. O Policiário de Bolso voltará a esta escritora.



TEMA — COLECÇÃO DE MORADAS
Há colecções para todos os gostos. Há quem coleccione notas bancárias de todos os países… para serem verdadeiras é necessário ter dinheiro. Alguns são mais modernos e coleccionam caixas de fósforos. Tenho um vizinho que colecciona garrafas de bom vinho, pelos vistos vazias, tendo em consideração o aspecto do nariz e a recusa em receber alguém depois das 16 horas…
O meu vício secreto é guardar as moradas dos meus amigos detectives… se alguém estiver interessado, aqui vai, não é segredo.

Commissaire Maigret: 132, Boulevard Richard-Lenoir, Paris 11e, FRANCE


Thomas Carnacki: Cheyne Walk, Chelsea, London, UK~


Max Carrados: The Turrets, Richmond, London, UK


Martin Hewitt: Strand, a 30 jardas da Charing Cross Station, London, UK


Dr. John Evelyn Thorndyke: 5A King's Bench Walk, London, UK

Hercule Poiroit: 56B Whitehaven Mansions, Charterhouse Square, Smithfield, London W, UK; ou 228 Whitehouse Mansions em The Cat Among the Pigeons. Na tradução portuguesa Poiroit e as Jóias do Principe o nº 31 das Obras Completas de Agatha Christie da Livros do Brasil na página 357 tem Whitehouse Mansion, 28; ou ainda, 203, Whitehaven Mansions em The Clocks. Na tradução portuguesa Poiroit e os Quatro Relógios o nº 33 das Obras Completas de Agatha Christie da Livros do Brasil na página 326 temos Whiteheaven Mansions, 203

Miss Jane Marple: Danemead, High Street, St Mary Mead

Nero Wolfe: West 35th Street, New York City USA

Philip Marlowe – Hobart Arms, Franklin Avenue , Hollywood USA

TEMA — OS MUSEUS DE SHERLOCK HOLMES
A memória do Grande Detective acha-se perpetuada em placas, réplicas de objectos canónicos, reproduções da figura de Holmes, cartazes alusivos às suas aventuras e outras manifestações de carinho e respeito, espalhadas, um pouco por todo o mundo, desde Londres (o que não surpreende) até ao Japão (o que já é motivo de estupefacção, porque, que se saiba, nas suas andanças canónicas, nunca Holmes foi ao Oriente).
A mais espectacular de todas essas iniciativas é constituída pelos museus dedicados ao Grande Detective e que, em regra, compreendem a reconstituição dos aposentos canónicos de Baker Street, ou, pelo menos, da sala em que Holmes recebia os seus clientes e se dedicava quer às suas loucuras dedutivas (com recurso ao cachimbo, ao violino, ou, até à cocaína), quer a entretenimentos que por vezes nada tinham a ver com o caso, de momento entre mãos: experiências químicas; tiro ao alvo nas paredes; leitura do pensamento de Watson; consumo de bebidas (com ou sem intervenção do gasogénio) e de iguarias variadas, que tanto podiam ser um ganso recheado como um tratado naval, servido como hors d'oeuvre, etc…
Desses museus era já conhecido o que, recuperado do Festival Britânico de 1951, é um dos motivos de orgulho do pub The Sherlock Holmes, em Northumberland Street, a meio caminho entre Trafalgar Square e o Tamisa.
Dois outros se lhe vieram juntar. O primeiro foi inaugurado, em 1990, no nº 239 de Baker Street (numerado 221-B, por razões de óbvio oportunismo. O seu proprietário, John Adianitz, instalou-o num prédio, estreito e esguio, de três pisos, e recheou-o com móveis vitorianos que, para visitantes mais exigentes, parecem provir da Feira da Ladra Londrina. O bilhete de entrada, que não é barato, dá acesso a um arremedo da morada canónica em que alguns adereços tradicionais alternam com outros que pouco ou nada dizem ao holmesiano que se preze. Acresce que a configuração e a tacanhez do imóvel deixa no visitante sérias dúvidas quanto à higiene de Holmes e Watson e indicia a promiscuidade a que seriam obrigados para conviver, em espaço tão apertado, com Mrs. Hudson, Billy e uma ou duas criadas.
O museu mais recente data de 1991 e adorna o Parkhotel Savage de Meiringen, na Suiça, onde Conan Doyle situou o Englischer Hof que serviu de albergue ao famoso par, no Problema Final. Os hóspedes podem tomar o pequeno-almoço ou os aperitivos num salão que, com algum rigor, pretende reproduzir a sala de visitas do 221-B de Baker Street, antes de irem contemplar, ao vivo, a catarata de Reichenbach — como parece fazê-lo a estátua de Holmes, sentado num pedregulho, à espera do regresso de Watson, ludibriado pela mensagem fraudulenta de Moriarty que nas sombras aguarda o momento oportuno para, sem testemunhas, pôr ponto final a certo problema que o atormentava: a sobrevivência do seu inimigo privado nº1.
M. Constantino